17.12.13

Nem tudo é economia, estúpidos


O Partido Socialista tem esta coisa engraçada. Por um lado, a Ciência Política coloca-o entre os partidos sociais-democratas mais ao centro do espectro ideológico, em comparação com os seus congéneres europeus. Por outro lado, assumiu as principais bandeiras políticas do Bloco de Esquerda (um partido da esquerda radical), sendo o responsável pela sua aprovação. Repito, assumiu as principais bandeiras políticas do Bloco de Esquerda (um partido da esquerda radical), sendo o responsável pela sua aprovação. É o caso da descriminalização do aborto, da descriminalização do consumo de drogas, bem como do casamento gay. Não se trata de uma contradição nos seus próprios termos (pois os termos são mais abrangentes do que os referidos) mas não deixa de ser algo contraditória a relativa insignificância das principais (repito: principais) bandeiras que ajudaram a construir a identidade de um partido da esquerda radical no posicionamento ideológico do PS. E nem falo (repito, nem falo) de bandeiras mais pequeninas como a procriação medicamente assistida,  o fim do divórcio litigioso, a lei da paridade; o aumento do salário mínimo; o complemento solidário para idosos; a legalização de milhares de cidadãos estrangeiros (por via de uma nova lei da nacionalidade); o fim do divórcio litigioso; o aprofundamento dos direitos das uniões-de-facto; a valorização da escola pública, etc. Claro que em causa estão sobretudo diferenças em termos de política económica. A ela dedicarei o próximo post, assim aumentando de forma impressionante a média mensal de posts deste blogue. 

16.12.13

De resto, o que Reich e Stewart dizem vale tanto lá como cá. Ainda mais, aliás.

Robert Reich é o maior. Mas Jon Stewart não lhe fica atrás. Ao chegar ao minuto 5, Reich explica como tentar sensibilizar um conservador para a desigualdade de rendimentos: recorrendo ao exemplo do americano que trabalha a tempo inteiro - e cada vez mais - e que não vê as suas condições de vida melhorarem, enquanto os mais ricos enriquecem (sem pleonasmo). Mas, tal como tantas vezes Reich faz nos seus escritos e intervenções, Stewart lembra os que não têm voz. Os desempregados. Os que dependem dos subsídios para sobreviverem. Bem sei que é apenas um programa humorístico e as perguntas fugazes. Mas o respeito pela dignidade de todos quantos se encontram, temporária ou indefinidamente, nesta situação  também passa por pequenos momentos como estes em que não se deixa que, mesmo que por omissão, se contribua para a sua estigmatização. 

14.12.13

Um funegírico

Só hoje me apercebi do fim do blogue de Pedro Lains: http://pedrolains.typepad.com/. À falta de conhecimentos sólidos (ok, conhecimentos) em questões económicas, nele encontrei o esteio que precisava para interpretar o que nos tem estado a acontecer, sobretudo desde o ano de 2010. No meio do cerco informativo/ideológico que nos oferecia uma interpretação monoteísta da realidade, o blogue de Pedro Lains conseguia desmontar as falsas evidências, convocando um raro conhecimento da história económica, explicado com pedagogia académica. Como académica era também - como o disse inúmeras vezes - a necessidade de encontrar uma lógica para o que frequentes vezes nos era apresentado pelo Governo como inevitabilidades avulsas. O não alinhamento com a narrativa das inevitabilidades fez com que defendesse, muitas vezes, várias das opções do anterior Governo no que à gestão da crise diz respeito. Governo (ou seria apenas o primeiro-ministro, não me recordo bem) pelo qual, disse-o várias vezes, não tinha particular simpatia. Antes pelo contrário. Mais do que defender, recusou terminantemente uma visão apolítica - ou anti-política - da crise, que queria (e ainda quer) vender-nos as inevitabilidades como soluções técnicas para os nossos problemas, contra as quais a política nada podia contrapor. A democracia oferece sempre alternativas, reclamava. A atrapalhar-me entre o panegírico e o elogio fúnebre (bem, é verdade que o blogue morreu), acho que queria apenas dizer que gostei muito do blogue e que vai fazer falta.