23.10.09
A eira e o nabal
No seu afã de tudo - e a todo o tempo - comentar, o comentarismo político cai, por vezes, em contradições lógicas. Uma delas é esta: apela-se, exige-se, deseja-se que o novo governo consiga chamar personalidades competentes, alheias aos quadros do partido e ao seu aparelho, oriundas da chamada sociedade civil. No entanto, quando este objectivo parece ser alcançado, não se resiste a denunciar e a lamentar a falta de peso político destes protagonistas.
Definitivamente, não percebo nada disto
É estranho mas acabo de ouvir dois comentadores, em canais diferentes, dizer que a escolha de Vieira da Silva para a Economia foi uma forma de agradar (ou de piscar o olho) à direita.
O Benfica é que não
Na TSF, o ex.bastonário José Miguel Júdice entra em linha para comentar o novo governo.
TSF: Qual a sua opinião sobre o nome escolhido para a Justiça?
JMJ: Tenho o maior respeito intelectual e moral pelo Dr. Alberto Martins (...) e acredito que poderá ser um bom ministro.
TSF: E quanto aos restantes nomes anunciados?
JMJ: Isso não sei responder. Ainda não prestei atenção. Agora estou a ver o meu benfica. O novo governo pode esperar. O jogo - e o Benfica - é que não.
ps: o meu interesse por ver a bola é o mesmo que tenho pela mais recente polémica em torno do livro de Saramado: muito pouco. Mas não sou insensível ao seu magnetismo. Como um dia disse um senhor num longo e estimulante debate (que vi na TV), e que mais tarde vim a saber chamar-se George Steiner, a cultura e tudo o resto é maravilhoso mas não tem o poder de, como fez Maradona numa final (ou meia, não estou certo) de um mundial, de pôr milhões de pessoas a suster a respiração ao ver um homem percorrer mais de metade do campo para marcar um golo.
TSF: Qual a sua opinião sobre o nome escolhido para a Justiça?
JMJ: Tenho o maior respeito intelectual e moral pelo Dr. Alberto Martins (...) e acredito que poderá ser um bom ministro.
TSF: E quanto aos restantes nomes anunciados?
JMJ: Isso não sei responder. Ainda não prestei atenção. Agora estou a ver o meu benfica. O novo governo pode esperar. O jogo - e o Benfica - é que não.
ps: o meu interesse por ver a bola é o mesmo que tenho pela mais recente polémica em torno do livro de Saramado: muito pouco. Mas não sou insensível ao seu magnetismo. Como um dia disse um senhor num longo e estimulante debate (que vi na TV), e que mais tarde vim a saber chamar-se George Steiner, a cultura e tudo o resto é maravilhoso mas não tem o poder de, como fez Maradona numa final (ou meia, não estou certo) de um mundial, de pôr milhões de pessoas a suster a respiração ao ver um homem percorrer mais de metade do campo para marcar um golo.
22.10.09
Novo governo
Finalmente. Duas impressões, ambas positivas (ou não fosse eu um alinhado). Apesar de tudo e de todas as especulações, o novo governo apresenta mais caras novas do que se estaria à espera. Número de mulheres aumenta, representando cerca de um terço do novo Executivo.
21.10.09
For the record
Apesar do reforço, em número, de todos os grupos parlamentares da oposição, o PSD continua a ser o único partido que pode requerer a fiscalização - quer preventiva (46 deputados), quer abstracta (23 deputados) - da constitucionalidade. E este poder não é assim tão irrelevante, do ponto de vista político. O PCP que o diga, que em tempos foi um ardente suscitador da dúvida constitucional.
Granu salis ou amanhã (ou daqui a umas horas) não estou certo de pensar o contrário disto
É naturalmente um facto digno de se assinalar, a avaliação negativa de um Presidente da República, segundo a sondagem da Aximage encomendada pelo Correio da Manhã. Dizem que é histórico e que nunca aconteceu antes. Acredito, apesar de ter aquela sensação (se calhar injusta) que é daquelas coisas que se repetem sem que ninguém verifique da sua verdade (palavra tão gasta esta, que já sabe mal... blherc). Pois bem, também não vou ser eu a confirmá-lo. Nada me dá mais contentamento do que perceber que os portugueses fizeram uma apreciação negativa da actuação de Cavaco nestes últimos dois meses. Mas acho que, sobretudo aqui à esquerda, se está a embandeirar em arco se se acredita que já se pode celebrar o principio do fim político de Cavaco e da sua reeleição. Não que não acredite na possibilidade da derrotar Cavaco nas próximas eleições presidenciais. Difícil mas possível. Mas temo que este excesso de entusiasmo com a queda sofrida agora pelo PR possa dar o argumento aos cavaquistas para, daqui a alguns meses (quando voltar a ter uma apreciação positiva), virem dizer que os festejos pela sua morte política foram exagerados. Como em quase tudo na vida, granu salis.
20.10.09
Pequeno desabafo sensenso
Três (+1) coisas aparentemente desinterligadas. Aparentemente e não só. Que este bold azul, que pontua nos dois últimos posts, veio mesmo para ficar, directamente plagiado daqui. Que nada me entedia mais neste momento do que a polémica em torno das declarações de Saramago. Que odeio, mas odeio mesmo, fado. Que, apesar de não parecer, até corro bastante rápido.
Capitalismo selvagem
“E sobre Otelo Saraiva de Carvalho, que conheceu na Guiné, Ramalho Eanes não tem dúvidas: não hesitaria em colocar a sua vida nas mãos de Otelo. Não só a vida como também a carteira”.
Ramalho Eanes, em entrevista ao Gato Fedorento de ontem (via DN)
Ramalho Eanes, em entrevista ao Gato Fedorento de ontem (via DN)
Os (maus) polícias de si mesmos
Por regra, os jornalistas não sabem dar notícias em que os próprios estejam envolvidos. Por "os próprios" entendo desde os proprietários do jornal (sendo o caso) até aos seus jornalistas. E, por consequência, o próprio jornal. Tenho, assim, esta profunda convicção. Que o programa Prós e Contras da semana passada se encarregou de confirmar. Falta de distanciamento e de capacidade de auto-crítica, facciosismo e depreciação dos argumentos da outra parte. A propósito do arquivamento (pelo juiz de instrução criminal) do processo que José Sócrates movera contra o jornalista do DN João Miguel Tavares, o mesmo DN tem, hoje, esta peça exemplar(mente lamentável):
«Depois de ter perdido à primeira, com o arquivamento pelo Ministério Público, José Sócrates voltou a carregar sobre João Miguel Tavares, colunista do DN. Mas não teve sorte. Um juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa (TIC) considerou que o artigo "José Sócrates, o Cristo da política portuguesa", apesar de ser uma crítica negativa, traduziu uma "manifestação legítima de uma opinião". (...) Ora, José Sócrates queixou-se. Dizendo que o texto era "calunioso e ofensivo" e punha em causa a sua "integridade moral" (...) Para quem tenha dúvidas sobre o que é o debate no espaço público, o juiz de instrução criminal explica no acórdão: (...) Conclusão, "Sócrates, o Cristo da política portuguesa" é um texto que "se encontra plenamente inserido no exercício da liberdade de expressão". »
Os modernos maquiavéis
"O DN ouviu politólogos sobre o que condicionará a duração da legislatura. Sobreviverá os quatro anos? António Costa Pinto, do ICS (Instituto de Ciências Sociais, da Universidade Nova de Lisboa), resume tudo numa palavra: "sondagens". "Tudo vai depender das análises custo-benefício que a oposição faça." E isso, acrescenta, mede-se com sondagens. Havendo aqui "um complementozinho" analítico que é "muito importante": "O Bloco de Esquerda e o CDS/PP sabem que o eleitorado que conquistaram nas últimas eleições não está consolidado". Dito de outra forma: ultrapassaram ambos a da fasquia do meio milhão de votos (592 mil para o CDS e 558 mil para o BE). Poderão ter tudo a perder se contribuírem para fazer cair o Governo antes de tempo."
19.10.09
Fonte identificada como "o site"
Mais uma notícia plantada por Belém nos meios de comunicação social.
16.10.09
"Regressa a chicana política"
"A notícia de que o Bloco vai apresentar “já” o projecto de casamento é um engodo. É fazer chichi jornalístico. Desde logo porque o Parlamento ainda não está a funcionar plenamente: falta definir comissões, definir presidentes das ditas, colocar as lideranças dos grupos parlamentares a funcionar. Depois de conversas mútuas sobre diálogo e pontes, de vontade de garantir denominadores comuns que permitam alcançar os direitos das pessoas, a golpaça para os jornais a tentar de novo “entalar” o PS, e só isso - e isto depois de o BE não ter conseguido deputados suficientes para pressionar acordos com o PS, depois de rotundos “nãos” a hipóteses de acordos que implicariam cedências mútuas em muitas matérias. Regressa a chicana política, desta feita com o fito de estragar o efeito de novidade de o PS ter o casamento na agenda (reanunciado, aliás, por Sócrates, um dia antes desta “notícia” de hoje). "
Miguel Vale de Almeida, Os Tempos Que Correm
Miguel Vale de Almeida, Os Tempos Que Correm
14.10.09
Marinho Pinto no Gato Fedorento
Foi a melhor entrevista que vi até agora no novo programa dos Gato Fedorento. Independentemente de concordar com o que disse (e concordo com boa parte), Marinho Pinto foi o primeiro convidado que vi que não estava nervoso por estar a ser esmiuçado. Igual a si próprio, não tentou responder com graçolas a Ricardo Araújo Pereira e, sem deixar de demonstrar compreender o humor da pergunta que lhe era dirigida, tentava desmontar os seus pressupostos (como aconteceu quando enquadrou, do seu ponto de vista, o caso Bragaparques e a condenação por corrupção de Domingos Névoa). Das entrevistas que vi, foi a mais interessante e aquela que mais se aproximou do modelo original.
13.10.09
E os nossos filhos, terão saudades do quê?
Doze Anos
Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca
Chico Buarque
Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca
Chico Buarque
Afinal quem quer dialogar?
Noto com curiosidade que os mesmos que têm, ao longo destes últimos anos, exigido que José Sócrates seja mais dialogante, são os mesmos que agora acusam José Sócrates de soar a falso quando se mostra disponível para negociar. Dito de outro modo: faz algum sentido apelar ao diálogo se, quando ele se proprociona, se corre à procura do primeiro pretexto para o despromover? Dito ainda de outro modo: será que os que reclamam diálogo se servem deste apenas como arma de arremesso político ou estão mesmo interessados em sentar-se à mesa e, digamos, conversar?
Os sapatos dos outros
E não foi nada bonito o que aconteceu depois, Pedro. Jornalistas, com responsabilidades directivas nos respectivos órgão de informação, a tentarem desqualificar profissionalmente os outros, como quando o director do Expresso disse que João Marcelino não tinha 30 e tal anos de jornalismo político como ele, insinuando que fora um mero jornalista desportivo (soberba snobeira), tendo este comentário suscitado inclusivamente o uso da palavra pelo Provedor do Telespectador da RTP, que repudiou veementemente esta intervenção de Henrique Monteiro. Um director (JMF) que invocou várias vezes ter sido enganado quanto aos termos em que estava a decorrer o debate. O mesmo director que não conseguia, nem tentava, disfarçar o desprezo que sentia pelo director do DN, não cumprindo o mínimo de cordialidade a que obriga o debate democrático. Por várias vezes imaginei que Marcelino se iria levantar e pedir satisfações a JMF pelo seu inaceitável comportamento, como quando, a dada altura, o quase ex-director do Público disse qualquer coisa como (cito livremente e com quase certeza, pois a hora era longa) "eu não consigo estar aqui a debater com quem tem uma opinião daquelas". Enfim, muito haverá a dizer sobre o que aconteceu ontem. Para mim, foi um espectáculo no limite do grotesco. Ver pessoas que não hesitaram em recorrer à insinuação para salvar a pele. Pessoas que mostraram não saber lidar com o contraditório quando estão envolvidas as suas importantes pessoas. Pessoas que ganham a vida a fazer isso aos outros (e ainda bem, a maioria das vezes) e que são as primeiras a exigir correcção democrática aos visados, em nome da liberdade de informação. Aparentemente, alguns dos presentes não perceberam que ontem estavam do lado de lá. Dos escrutinados.
12.10.09
Resumiria assim a crónica de hoje de Rui Tavares (II)
Que interessa se as pessoas são mais felizes hoje ou se acreditam que o futuro nos reserva um mundo melhor. Obama tem de investir é em mais rotundas.
Resumiria assim a crónica de hoje de Rui Tavares
Sim mas, se excluirmos o facto de ser o "mais multilateralista dos presidentes americanos"; de ter "superado a guerra de civilizações entre o Ocidente e o Islão", tendo ganho um "notável respeito entre muçulmanos de todo o mundo"; de ter iniciado um novo ciclo nas relações com o Rússia que permitirá diminuir em muito o arsenal nuclear de ambos os países"; de ter acabado com o anti-americanismo que existia numa parte da Europa e do resto do mundo; o que é que ele fez para merecer o Nobel?
ps: com a devida vénia à Frente Sionista de Libertação ou Frente Popular de Libertação ou União para a Libertação Sionista, de a Vida de Brian.
ps: com a devida vénia à Frente Sionista de Libertação ou Frente Popular de Libertação ou União para a Libertação Sionista, de a Vida de Brian.
Desilusão
... pelo facto de o que me pareceu - à distância, é certo - uma extraordinária campanha eleitoral, com uma visão de futuro para o município, sustentada em ideias claras e um empenho invulgar em divulgá-las a todos cidadãos interessados (e, por essa mesma razão, em ancorar a campanha em torno daquelas), não ter sido recompensada pelos eleitores de Almada.
Viram, os lisboetas são capazes de tudo para se verem livres de mim (digam lá se não sou importante?)
"Santana atribui triunfo de Costa a eleitores da CDU e do BE que votaram nele só para a câmara" (Público de hoje). Com efeito, foi esta ideia que Santana decidiu desenvolver para explicar a sua derrota: que uma parte dos lisboetas queria tanto, tanto, tanto evitar que ganhasse a câmara que concentraram votos na única candidatura capaz de lha disputar.
9.10.09
Forma Justa
A maioria dos posts que se publicam neste blogue são sobre política. Os meus amigos de direita dizem que o que este blogue tem de melhor é a música. Os meus amigos de esquerda concordam.
Sarada
Haverá talvez uma explicação para o facto. Mas a verdade é que não alcanço como é que aquele que é, para mim, um dos melhores álbuns de sempre de língua espanhola (dos pelo menos 3 ou 4 que conheço), não está disponível no youtube. Nem uma musiquinha. Um cibinho. Pontos de exclamação. Há esta migalhita aqui, mas que é claramente insatisfatória.
Proponho que, daqui em diante, os legisladores tenham de soprar no balão sempre que aprovem uma lei eleitoral
O sistema eleitoral das autarquias locais é uma bizantinice, que não tem paralelo na generalidade dos sistemas eleitorais locais no resto da Europa. Se o sistema eleitoral nacional fosse feito à imagem do sistema municipal, teríamos, com base nos resultados das últimas eleições legislativas, um governo composto por 7 ministros do PS (um dos quais primeiro-ministro), 5 do PSD, 2 do CDS, 1 do BE e outro do PCP-PEV*.
O Governo responderia perante o Parlamento, que poderia votar moções de censura, que, todavia, não teriam qualquer efeito prático (ou mesmo jurídico). Apesar de ser o partido mais votado, o PS poderia não ter a maioria dos deputados, pois no Parlamento teriam ainda assento, com estauto idêntico aos deputados eleitos, os presidentes das câmaras municipais.
Em síntese; o Conselho de Ministros reuniria o governo mais os ministros da oposição, o Parlamento fiscalizaria o governo mas sem poderes para o responsabilizar (fazendo-o cair) e apenas em princípio, e com uma dose de sorte, o Parlamento reflectiria na sua composição os resultados eleitorais.
*Número de ministros (16) do actual Governo.
O Governo responderia perante o Parlamento, que poderia votar moções de censura, que, todavia, não teriam qualquer efeito prático (ou mesmo jurídico). Apesar de ser o partido mais votado, o PS poderia não ter a maioria dos deputados, pois no Parlamento teriam ainda assento, com estauto idêntico aos deputados eleitos, os presidentes das câmaras municipais.
Em síntese; o Conselho de Ministros reuniria o governo mais os ministros da oposição, o Parlamento fiscalizaria o governo mas sem poderes para o responsabilizar (fazendo-o cair) e apenas em princípio, e com uma dose de sorte, o Parlamento reflectiria na sua composição os resultados eleitorais.
*Número de ministros (16) do actual Governo.
Em terra de cegos quem tem olho nem sempre é rei
No noticiário das 10.00 da TSF, o correspondente em Oslo informa que Barack Obama acaba de ser galardoado com o prémio Nobel da Paz. Como ainda não havia declaração do Comité Nobel a informar das razões da escolha do Nobel da Paz de 2009 (que surgiu entretanto e pode ser lida aqui), a estação deu imediatamente a palavra ao comentador de política internacional José Carlos Barradas. Para espanto meu, o especialista em questões internacionais da TSF mostrou-se "absolutamente surpreso" com esta escolha, dando a entender não compreender as suas motivações. "Talvez a questão da desnuclearização", disse, demasiado hesitante, ou o seu envolvimento no combate às "alterações climáticas". De seguida, consegue a proeza de dedicar a maior parte do seu comentário aos preteridos da lista de candidatos para o prémio deste ano. E remata dizendo que "tem mesmo de se aguardar para saber as justificações do Comité Nobel". Que quero eu dizer com tudo isto? Que tenho a sensação que qualquer criança do segundo ciclo teria mais facilmente intuído as razões que levaram à escolha do nome de Obama para Nobel da Paz. Que ouvi um especialista encartado, que desfiava um impressionante rol de detalhes acerca dos candidatos preteridos, maioritariamente desconhecidos do grande público (o terreno preferido dos especialistas), mas que se mostrou incapaz de ver o óbvio, aquilo que todos vimos e sentimos, e que se pode sumariar nesta passagem: "The Committee has attached special importance to Obama's vision of and work for a world without nuclear weapons. Obama has as President created a new climate in international politics. Multilateral diplomacy has regained a central position, with emphasis on the role that the United Nations and other international institutions can play. Dialogue and negotiations are preferred as instruments for resolving even the most difficult international conflicts. (...) Only very rarely has a person to the same extent as Obama captured the world's attention and given its people hope for a better future."
8.10.09
My kind of president
Já tentei convocar todo o meu saber informático para colocar aqui o meu excerto favorito do debate de ontem entre os candidatos à Câmara de Lisboa. Em vão. Resta-me a alternativa de pedir que sigam este link e procurem o minuto 74.52 (mais coisa menos coisa) até ao minuto 75.09 (idem coisa menos coisa). Bem sei que todos os candidatos que lá estavam concordarão que o PNR é uma abjecção política (bem, todos será talvez abusivo; também lá estava aquele senhor do MMS que abandonou o debate a meio). Mas gosto de um candidato que lhes diz isso na cara.
Lisboa: debate autárquico
Gostei do debate que se realizou ontem (na RTP) com todos os candidatos à Câmara de Lisboa. Até as minhas pupilas aguentarem (passavam uns 20 minutos da meia-noite) discutiram-se questões fundamentais para a vida do município: trânsito e mobilidade, reabilitação urbana, revitalização económica, social e cultural da cidade, bairros sociais, frente ribeirinha, and so on. E também se discutiu o aeroporto da Portela. Ora, nem me demorando no facto de que as competências fundamentais quanto a esta questão são do Governo e não da autarquia, sempre me parece que centrar o debate sobre os problemas axiais de Lisboa em torno da questão da Portela é redutor e ignorante quanto aos verdadeiros problemas que enfrenta a capital e os seus habitantes. É, em grande medida, o que tem procurado fazer a candidatura de Santana Lopes, revelando uma confrangedora incapacidade de planear um futuro para a cidade, sobretudo vindo de alguém que já ocupou a principal cadeira dos Paços do Concelho. É pena que alguma comunicação social, eventualmente na esperança de reeditar um debate sobre o novo aeroporto de Lisboa que já teve o seu momento, caia neste engodo e que um debate como o de ontem à noite seja sintetizado, por exemplo, desta maneira.
7.10.09
Não era tempo de estes senhores perceberem que champanhe é champanhe e conhaque é conhaque?
"(...) neste mandato, em que presidiu à Junta de Freguesia o Dr. Rodrigo Gonçalves, foi mais evidente o Apoio quer à Paróquia, quer nos protocolos existentes entre a Junta de Freguesia e o Centro Social e Paroquial de São Domingos de Benfica (...) estamos muito reconhecidos à Junta de Freguesia e ao Sr. Dr. Rodrigo Gonçalves, por toda a colaboração e ajuda que tem sido manifesta. Esperamos continuar a colaborar para o Futuro!"
Frei Fernando Ferreira, prior da Paróquia de São Domingos de Benfica, no flyer do PSD/CDS-PP/MPT/PPM à Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica.
Frei Fernando Ferreira, prior da Paróquia de São Domingos de Benfica, no flyer do PSD/CDS-PP/MPT/PPM à Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica.
6.10.09
Desconstructing Cavaco
"Cavaco Silva parece bafejado pelos deuses: conseguiu criar uma imagem de rigor por ser hirto, uma imagem de seriedade política por não ter sentido de humor e uma imagem de prudência por se exprimir com o laconismo de um jogador de futebol".
José Vítor Malheiros, Público de hoje
José Vítor Malheiros, Público de hoje
3.10.09
A tradição já não é o que era
Numa reportagem sobre uma acção de campanha do candidato do PSD à Câmara de Lisboa reparo num pormenor que tem passado despercebido à maioria dos analistas: Santana Lopes já não tem cabelinho à Santana Lopes.
2.10.09
Quem diz Haydn diz maradona
Aqui considera-se que ninguém deveria sair da escola sem ouvir Haydn. Eu saí. Tonnerre de Brest! Descubro-o agora, já na casa dos intas, pela mão do excelso, formidável e supra-magnífico Glenn Gould. A vossa atenção, por favor...
1.10.09
A língua das crianças
Enquanto preparo o banho das crianças, a mais velha (4 anos) alerta-me: "Papá, a banheira não pode ficar muito encha. Por causa do maninho!".
Sobe e desce
Bem sei que esta história das avaliações positivas ou negativas feitas pelos jornais é uma ciência obscura e, inevitavelmente, sujeita ao critério subjectivo de quem as faz. No entanto, não deixa de me causar uma certa perplexidade a atribuição, como aparece hoje na última página do Público, de uma seta para baixo a Noronha de Nascimento, por o órgão a que preside ter sido objecto de uma crítica de uma entidade como a associação sindical dos juízes, que acusou o CSM de "vulnerabilidade a pressões políticas". A minha dúvida é saber se aquela seta exprime a adesão do jornalista (ou do jornal, quando não assinado) aos argumentos expendidos por uma das partes, caso em que deveria ser muito mais claro o enquadramento deste espaço como de opinião, afastando-se o logro que é apresentarem-nos este espaço como algo que espelha um daqueles juízos quase incontestados, que quase se confundem com o facto em si (tipo ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos é positivo; ser-se condenado por um crime é negativo); ou se se limita a dar conta da circunstância de esse órgão ter sido alvo de uma crítica, associando-se sempre - e apenas por essa razão - o alvo ou objecto da crítica a um juízo negativo, independemente da sua credibilidade ou sustentação factual. E obrigaria, no exemplo referido da seta negativa de Noronha de Nascimento, a colocá-lo amanhã para cima por ter sido hoje defendido pelo Bastonário da Ordem Advogados. Esta hipótese é, convenhamos, um exercício sem qualquer interesse para os leitores e, no seu automatismo, bastante estúpido. E o que daí acaba por resultar é, demasiadas vezes, uma confusão daqueles planos e passar-se por informação e objectivo aquilo que mais não é do que a opinião dos seus autores. Mas isso imagino que eles saibam.
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