25.2.11
Duas ou três coisas vistas da América
Conheço-o apenas há uns poucos dias mas tenho gostado bastante do que tenho lido por aqui, o blog de uma exilada em Washington [mais um(a)]. Textos que acompanham a actualidade noticiosa, com ênfase para a americana, escritos em excelente jornalês. Ou não fosse a pessoa em causa em tempos uma das jornalistas políticas mas famosas do exágono, que abandonou a ribalta do jornalismo político (mas não a carreira) quando (e porque) o seu marido integrou o governo de Lionel Jospin como ministro das Finanças, esse mesmo: monsieur Strauss-Khan, hoje, vocês sabem. Anne Sinclair.
23.2.11
Histórias de coragem: uma das minhas preferidas
"Nataliya Dmytruk is a former sign language interpreter on the Ukrainian state-run channel UT1 news broadcasts. Dmytruk became famous for refusing to translate the official script during a live broadcast on November 24, 2004 that announced Viktor Yanukovych as the winner of the presidential election. Instead of signing the official script, Dmytruk instead signed to viewers "Our president is Victor Yushchenko. Do not trust the results of the central election committee. They are all lies".Dmytruk's act of defiance has been regarded as one of several catalysts for many Ukrainian journalists who subsequently rejected doctored news reports in favour of a more balanced reporting.
Wikipedia
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A não perder (para arrumar as ideias)
"as revoluções árabes, a diplomacia e a demagogia do parlamentarês "
""Luís Amado acusa Ana Gomes de distorcer as suas declarações sobre a Líbia": Parece inevitável que o debate político se esteja a transformar aceleradamente numa farsa. Uma farsa é uma situação em que uma variedade de planos, que coexistem na realidade-real, são rebatidos num único nível, como se a realidade tivesse uma única camada, como se todos falassem das mesmas coisas, tivessem os mesmos papéis a desempenhar e as mesmas responsabilidades. Uma farsa resulta de os actores falarem como se a realidade fosse assim plana, quando os que observam sabem e compreendem que as coisas não se passam assim."
Ler o resto, s.f.f.
""Luís Amado acusa Ana Gomes de distorcer as suas declarações sobre a Líbia": Parece inevitável que o debate político se esteja a transformar aceleradamente numa farsa. Uma farsa é uma situação em que uma variedade de planos, que coexistem na realidade-real, são rebatidos num único nível, como se a realidade tivesse uma única camada, como se todos falassem das mesmas coisas, tivessem os mesmos papéis a desempenhar e as mesmas responsabilidades. Uma farsa resulta de os actores falarem como se a realidade fosse assim plana, quando os que observam sabem e compreendem que as coisas não se passam assim."
Ler o resto, s.f.f.
À falta de interlocutores para um diálogo à esquerda, parece-me inevitável
22.2.11
Sem embargo
A editoria política da Antena 1 tem um novo blog, "Sem embargo". Posts curtos e pertinentes, diria destinados a ajudar na triagem da voragem informativa a que temos direito. Resiste, e ainda bem, à prolixidade tão característica dos canais com vocação informativa. E publicam pela manhã a agenda política do dia. So far so very good.
20.2.11
Filmes que me educaram politicamente
"Missing is a 1982 American drama film directed by Costa Gavras, and starring Jack Lemmon, Sissy Spacek, Melanie Mayron, John Shea and Charles Cioffi. It is based on the true story of American journalist Charles Horman, who disappeared in the bloody aftermath of the US-backed Chilean coup of 1973 that deposed leftist President Salvador Allende."
"The film was banned in Chile during Pinochet's dictatorship, even though neither Chile nor Pinochet are specifically mentioned by name in the film (although the Chilean cities of Viña del Mar and Santiago are)."
"Both the film and Thomas Hauser's book The Execution of Charles Horman were removed from the market, following a lawsuit filed against Costa-Gavras and Universal Pictures's parent company MCA by former Ambassador Nathaniel Davis and two others. A lawsuit against Hauser himself was dismissed because the statute of limitations had passed. Davis and his compatriots lost the lawsuit. After the lawsuit, the film was again released by Universal in 2006"
Wikipedia
Adenda: Não conheço quase ninguém que tenha visto este filme. O que estavam, afinal, todos a fazer naquela tarde de sábado de 1986 em que este filme passou na RTP*?
* Bem sei que foi impressionante mas, como é evidente, ignoro se era sábado, de tarde, ou mesmo 1986. Mas tenho a certeza que era na RTP...
18.2.11
16.2.11
Olvido
"Era já inverno quando os quatro arguidos foram julgados por três juízes e absolvidos. A ausência de prova produzida na audiência foi manifesta. Não houve comunicados. Nem da polícia nem do tribunal. Talvez por ser inverno, a absolvição não foi notícia"
Creio que é também por casos como este que, em Espanha, se tem debatido vivamente a questão do direito ao esquecimento na Net e a tensão entre este e a liberdade de expressão e o direito à informação. A polémica foi reanimada com a decisão da Agência de Protecção de Dados, que se pronunciou favoravelmente a que o gigante Google fosse obrigado a omitir nas suas pesquisas a referência a determinados sites. Seria, porventura, o caso dos quatro cidadãos referidos na citação supra (supra, ahah), presumidamente tidos como autores de um violento incêndio, facto abundantemente noticiado, mas que no final foram absolvidos. Com a habitual discrição. Numa qualquer pesquisa sobre esses cidadãos o mais natural seria que os resultados sugerissem o seu envolvimento naqueles crimes. O que de facto aconteceu num determinado momento mas que conta apenas parte de uma história. E esta meia história pode revelar-se atentatória do bom nome, da imagem, da dignidade dessas pessoas. Vale a pena acompanhar o debate que está a acontecer por lá. Que é o mesmo que cá. E se cá nevasse fazia-se cá esqui.
Creio que é também por casos como este que, em Espanha, se tem debatido vivamente a questão do direito ao esquecimento na Net e a tensão entre este e a liberdade de expressão e o direito à informação. A polémica foi reanimada com a decisão da Agência de Protecção de Dados, que se pronunciou favoravelmente a que o gigante Google fosse obrigado a omitir nas suas pesquisas a referência a determinados sites. Seria, porventura, o caso dos quatro cidadãos referidos na citação supra (supra, ahah), presumidamente tidos como autores de um violento incêndio, facto abundantemente noticiado, mas que no final foram absolvidos. Com a habitual discrição. Numa qualquer pesquisa sobre esses cidadãos o mais natural seria que os resultados sugerissem o seu envolvimento naqueles crimes. O que de facto aconteceu num determinado momento mas que conta apenas parte de uma história. E esta meia história pode revelar-se atentatória do bom nome, da imagem, da dignidade dessas pessoas. Vale a pena acompanhar o debate que está a acontecer por lá. Que é o mesmo que cá. E se cá nevasse fazia-se cá esqui.
15.2.11
Eu temo
“A minha concordância com a petição tem a ver com a necessidade de os órgãos políticos e outras entidades que superintendem os destinos deste País poderem surgir com a maior das transparências relativamente à opinião pública. É um pouco aquela ideia de que quem não deve não teme”, afirmou o juiz, referindo-se à petição do Correio da Manhã a favor da criminalização do enriquecimento ilícito.
“A ideia de quem não deve não teme” aplicada à justiça penal (ainda por cima vinda de um magistrado) é das ideias mais perturbadoras para quem tem uma certa ideia do Estado de direito. Um chavão que contém, em si mesmo, a negação de qualquer direito à reserva da vida privada; que nos desprotege da arbitrariedade do poder do Estado em entrar pela nossa porta adentro; que parece ignorar que os efeitos da justiça não se confinam às paredes do tribunal nem tão pouco aos termos da sentença judicial mas começam a produzir-se desde o início do inquérito (ou, talvez mais apropriadamente, desde a primeira notícia sobre o inquérito). “Quem não deve não teme” é próprio de um sistema que pretende realizar a justiça com base em presunções (aliás, “quem não deve não teme” é, ela mesma, uma presunção). Uma justiça assim, transforma o juíz numa espécie de contabilista. Eu temo. Temo, e se algum dia o Estado e a justiça pretenderem dizer que também devo, gostaria de saber que teriam de demonstrá-lo primeiro.
“A ideia de quem não deve não teme” aplicada à justiça penal (ainda por cima vinda de um magistrado) é das ideias mais perturbadoras para quem tem uma certa ideia do Estado de direito. Um chavão que contém, em si mesmo, a negação de qualquer direito à reserva da vida privada; que nos desprotege da arbitrariedade do poder do Estado em entrar pela nossa porta adentro; que parece ignorar que os efeitos da justiça não se confinam às paredes do tribunal nem tão pouco aos termos da sentença judicial mas começam a produzir-se desde o início do inquérito (ou, talvez mais apropriadamente, desde a primeira notícia sobre o inquérito). “Quem não deve não teme” é próprio de um sistema que pretende realizar a justiça com base em presunções (aliás, “quem não deve não teme” é, ela mesma, uma presunção). Uma justiça assim, transforma o juíz numa espécie de contabilista. Eu temo. Temo, e se algum dia o Estado e a justiça pretenderem dizer que também devo, gostaria de saber que teriam de demonstrá-lo primeiro.
14.2.11
Já agora...
... um exemplo, um único exemplo de um país que tenha sido afectado pela crise e que esteja a fazer-lhe face com recurso a uma política de não austeridade? Ou significativamente diferente da que tem sido seguida por Portugal nos últimos meses? Hum?
Lá, como cá, como em todo o lado
"Os cortes orçamentais para efeitos da redução do défice público chegaram aos Estados Unidos. Até 2015, a administração promete fazer baixar o défice dos actuais 9,5 para três por cento do produto. Na América, como na maioria dos países europeus, a crise financeira de 2008 obrigou os estados a aumentar os gastos para aquecer a economia ou para mitigar danos sociais e chegou a hora de pagar a factura."
Editorial (link para assinantes) do Público de hoje.
Editorial (link para assinantes) do Público de hoje.
Arriscar ângulos novos
E porque é que a integração profissional dos que têm um diploma universitário deveria ser muito mais fácil ou estável do que a dos que têm menos habilitações? Claro que o investimento que é feito nos estudos tem implícita uma expectativa de um retorno superior. Mas ele verifica-se. Mesmo no actual contexto de crise. Estudar compensa. Nisto, os números são inequívocos (ver references). Melhores salários e mais rápida inserção no mercado laboral. Disto isto, “having said that”, porque é que a estabilidade contratual deveria ser um privilégio dos diplomados. Estes estarão até mais bem equipados para reagir em caso de desemprego, como também o provam os dados sobre o tempo de espera dos licenciados, muito inferior aos restantes desempregados. Assim, arriscaria dizer que até é bastante de esquerda (e eu gosto de dizer coisas de esquerda) verificar que quem mais precisa é quem está contratualmente mais protegido da instabilidade laboral.
Ainda no outro dia estive uma boa parte do almoço a tentar explicar porque é que, apesar de achar a música feia para burro (aquele arraçado de fado…), considero que a letra espelha angústias importantes de parte desta (a minha também) geração. Não raro, sinto-me um autêntico Zelig.
References:
“Francisco Lima, que no ano o passado fez um estudo para o INE sobre a relação entre a qualificação e a rapidez com que se entra no mercado de trabalho, não tem dúvidas. Dois anos após terem terminado o ensino, mais de 40 por cento dos jovens com o básico ainda procuravam emprego e apenas 25 por cento dos licenciados permaneciam nessa situação.”
“O último relatório da OCDE Education at a Glance também é claro quando diz que Portugal é o segundo país da organização, a seguir ao Brasil, onde o prémio salarial dos licenciados que entram no mercado de trabalho é mais elevado. Quem faz uma licenciatura ou um grau mais elevado ganha duas vezes mais do que a média. E comparativamente aos que não foram além do secundário ou de um curso profissional, o ganho é 80 por cento superior."
Ainda no outro dia estive uma boa parte do almoço a tentar explicar porque é que, apesar de achar a música feia para burro (aquele arraçado de fado…), considero que a letra espelha angústias importantes de parte desta (a minha também) geração. Não raro, sinto-me um autêntico Zelig.
References:
“Francisco Lima, que no ano o passado fez um estudo para o INE sobre a relação entre a qualificação e a rapidez com que se entra no mercado de trabalho, não tem dúvidas. Dois anos após terem terminado o ensino, mais de 40 por cento dos jovens com o básico ainda procuravam emprego e apenas 25 por cento dos licenciados permaneciam nessa situação.”
“O último relatório da OCDE Education at a Glance também é claro quando diz que Portugal é o segundo país da organização, a seguir ao Brasil, onde o prémio salarial dos licenciados que entram no mercado de trabalho é mais elevado. Quem faz uma licenciatura ou um grau mais elevado ganha duas vezes mais do que a média. E comparativamente aos que não foram além do secundário ou de um curso profissional, o ganho é 80 por cento superior."
11.2.11
Somos todos egípcios? Dúvidas
"Somos todos egípcios", lê-se um pouco por todo o lado. A minha pergunta é. Não deveríamos era ter sido egípcios nos últimos 30 anos, quando estavam a sofrer? A nobreza da expressão não reside, precisamente, em manifestar solidariedade para com essa condição ou, pelo menos, a sua iminência ou risco? Não foi essa a mensagem que Kennedy pretendeu transmitir quando disse que éramos todos berlinenses (embora não em português, mas em alemão). “Éramos” eram todos os povos livres, que se solidarizavam com a ameaça à liberdade que pendia sobre os berlinenses ocidentais. Ou estou a ver mal a coisa? E agora vou fazer uma coisa parva, que é lincar um post de Irene Pimentel, em que faz precisamente o que estou a questionar. E isto devia ser o suficiente para meter a viola no saco. Mas aqui estou eu...
Bons tempos para se estar vivo
Em toda a minha existência (cujo início remonta a meados dos anos 70), só assisti a transições para democracias. Nunca o contrário.
Le roi est mort, vive... vive qui?
Hosni Mubarak cede, finalmente, o poder. Mas sabiam que na Noruega os piores criminosos cumprem pena numa ilha-prisão: sem grades, muros ou guardas armados? Tudo, no Spiegel international, em língua inglesa.
10.2.11
Opiniões
"Na minha modesta opinião" é das formas menos modestas que conheço para exprimir uma opinião. Isto, claro, no meu humilde juízo.
9.2.11
Finger, Peter Bofinger
Parece que Axel Weber, o mais forte candidato à sucessão de Trichet à frente do BCE vai desistir da corrida. Não posso dizer que tenha muita pena. Já há alguns nomes a circular para substituto de Weber. Permito-me fazer a minha sugestão a Merkel, no mesmo espírito com que ainda no outro dia a chefe de Governo alemã sugeria uma alteração à Constituição portuguesa.
Peter Bofinger. Wikipedia: Peter Bofinger (born September 18, 1954) is a German economist and member of the German Council of Economic Experts. He is the only proponent of Keynesian economics in this council.
Por mim, não pensava mais no assunto.
Como é que se chama quando se ultrapassa o ultraliberalismo pela direita?
"Até mesmo para uma teoria muito liberal, estas [os défices crónicos das empresas de transporte colectivo) são perdas que têm de ser assumidas". Paulo Rangel, na tv.
Via Câmara Corporativa
Via Câmara Corporativa
Sempre a aprender com os idosos. Com Roth, Larry David, ou com a velhinha de Northampton
"Ontem, a decadente Northampton aqueceu os corações dos noticiários mundiais. O assunto? O herói improvável. Sigamo-lo por uma câmara, numa esquina da velha Gold Street. De manhã e em dia de trabalho, três scooters e seis jovens investem contra uma joalharia. A loja está blindada, mas os jovens batem com marretas nas montras. Ninguém ousa fazer nada (a não ser o já instintivo filmar de telemóvel...). Mas eis que pela rua vem Ann Timson, septuagenária reformada, casaco vermelho de hussardo. Ela carregava porque não perguntou o que a sua rua podia fazer por ela - sabia que ela tinha de fazer pela sua rua. E até ia enganada: pensava que era altercação de jovens, um atacado por matilha. Em chegando, viu que era assalto. Não importa, era o mesmo, a rua a precisar dela. Ann levantou o saco das compras e espadeirou. Os bandidos tiveram o susto de ver coisa mais rara, hoje, que uma carga de brigada ligeira: um cidadão."
Ferreira Fernandes, claro, na sua coluna de opinião do DN.
O improvável (e maravilhoso) vídeo:
Ferreira Fernandes, claro, na sua coluna de opinião do DN.
O improvável (e maravilhoso) vídeo:
8.2.11
Porque se deve levar a sério a ameaça de moção de censura do PCP
É o que explica aqui, de forma cristalina, Paulo Pedroso. Os seis pontos deste texto são, aliás, uma síntese de quase tudo o que importa saber sobre o que faz correr o PCP. Em 2011. Tal como em 1975. And in between.
7.2.11
Crime, dizem eles (não, não é no Malaui)
"Os professores estão a pensar avançar com uma queixa-crime contra o Estado devido aos cortes salariais."
Vantagens das ditaduras, dizem (entre muitos outros títulos possíveis)
Malaui quer criminalizar flatulência em público
«Chaponda (o ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais) considerou que o mau hábito de libertar gases intestinais em público é uma consequência directa da democracia, sendo, em sua opinião, necessário que as pessoas aprendam a “controlar a natureza”.»
«Este hábito não existia nos tempos da ditadura porque os cidadãos temiam as consequências, mas desde que o país abraçou a democracia multipartidária há 16 anos as pessoas começaram a sentir que podem libertar gases em qualquer lado”, referiu o ministro da Justiça, que propôs a criminalização.»
«Chaponda (o ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais) considerou que o mau hábito de libertar gases intestinais em público é uma consequência directa da democracia, sendo, em sua opinião, necessário que as pessoas aprendam a “controlar a natureza”.»
«Este hábito não existia nos tempos da ditadura porque os cidadãos temiam as consequências, mas desde que o país abraçou a democracia multipartidária há 16 anos as pessoas começaram a sentir que podem libertar gases em qualquer lado”, referiu o ministro da Justiça, que propôs a criminalização.»
4.2.11
Porque sim?
Porque não? Desculpa lá Domingos mas achei frouxo o argumento que apresentas a favor da redução do número de deputados.
Pelo contrário, vi bem sustentada a tese de que um maior envolvimento dos eleitores na escolha dos seus representantes por via do voto preferencial (com o que também concordo) poderia aproximá-los do processo democrático. A referência que fazes de que a AR funciona mais como um conjunto de grupos parlamentares do que de deputados não conduz necessariamente à bondade da redução de eleitos. Quando muito, remete para uma vaga ideia de eficácia dos trabalhos parlamentares. Mas, a ser verdade, julgo que isso confrontará mais os partidos com as suas práticas (e com a eventual necessidade de as mudar) do que com eventuais debilidades do sistema eleitoral.
E quando falamos de proporcionalidade convém sabermos exactamente do que falamos.
Proporcional à dimensão do país? Mas no que diz respeito ao rácio de número de deputados por habitante estamos abaixo da média europeia, nomeadamente em relação aos países com dimensões semelhante ao nosso (temos 1/43 mil hab, sendo a média de cerca de 1/38 mil; aliás, dos dez países com dimensões semelhantes à nossa, apenas dois têm um rácio mais elevado). Esta seria sempre comprimida com tal medida.
Proporcionalidade como garante de uma maior diversidade partidária no Parlamento, retratando mais fielmente a pluralidade de sensibilidades políticas e ideológicas no nosso país? Dificilmente essa não seria afectada. Pelo menos se não se mexesse significativamente na dimensão dos círculos. Mas aí, ao tornar maiores os círculos, estaríamos a contribuir para afastar os eleitos dos eleitores, ou não?
Proporcionalidade das várias regiões do país? Bem, não sei que dizer relativamente a estas mas intuo que também não seria beneficiada por esta mudança.
Assim, todas estas dimensões parecem-me mais ou menos intensamente afectadas pela redução do número de eleitos. E esta é feita exactamente em nome do quê? Da uma ideia de eficiência, cortando no número de representantes como se fossem membros de um qualquer conselho de administração.
Ora, parece-me que a diminuição do número de deputados sacrifica muito em nome de muito, muito pouco. E, ainda que seja um mero exercício de estilo, “porque não” é o oposto daquilo que seria necessário para fundamentar uma alteração destas. Agrada-me pensar que a inversão do ónus da prova ainda não chegou ao domínio constitucional.
Pelo contrário, vi bem sustentada a tese de que um maior envolvimento dos eleitores na escolha dos seus representantes por via do voto preferencial (com o que também concordo) poderia aproximá-los do processo democrático. A referência que fazes de que a AR funciona mais como um conjunto de grupos parlamentares do que de deputados não conduz necessariamente à bondade da redução de eleitos. Quando muito, remete para uma vaga ideia de eficácia dos trabalhos parlamentares. Mas, a ser verdade, julgo que isso confrontará mais os partidos com as suas práticas (e com a eventual necessidade de as mudar) do que com eventuais debilidades do sistema eleitoral.
E quando falamos de proporcionalidade convém sabermos exactamente do que falamos.
Proporcional à dimensão do país? Mas no que diz respeito ao rácio de número de deputados por habitante estamos abaixo da média europeia, nomeadamente em relação aos países com dimensões semelhante ao nosso (temos 1/43 mil hab, sendo a média de cerca de 1/38 mil; aliás, dos dez países com dimensões semelhantes à nossa, apenas dois têm um rácio mais elevado). Esta seria sempre comprimida com tal medida.
Proporcionalidade como garante de uma maior diversidade partidária no Parlamento, retratando mais fielmente a pluralidade de sensibilidades políticas e ideológicas no nosso país? Dificilmente essa não seria afectada. Pelo menos se não se mexesse significativamente na dimensão dos círculos. Mas aí, ao tornar maiores os círculos, estaríamos a contribuir para afastar os eleitos dos eleitores, ou não?
Proporcionalidade das várias regiões do país? Bem, não sei que dizer relativamente a estas mas intuo que também não seria beneficiada por esta mudança.
Assim, todas estas dimensões parecem-me mais ou menos intensamente afectadas pela redução do número de eleitos. E esta é feita exactamente em nome do quê? Da uma ideia de eficiência, cortando no número de representantes como se fossem membros de um qualquer conselho de administração.
Ora, parece-me que a diminuição do número de deputados sacrifica muito em nome de muito, muito pouco. E, ainda que seja um mero exercício de estilo, “porque não” é o oposto daquilo que seria necessário para fundamentar uma alteração destas. Agrada-me pensar que a inversão do ónus da prova ainda não chegou ao domínio constitucional.
A aquecer os motores para o NAO
Eu sei que há o Egipto, a crise das dívidas soberanas, o aumento do petróleo e das matérias-primas (primas de quem?). O défice, o desemprego, o crescimento. O Estado Social. Há isso e muito mais. Sempre haverá. E é por vos saber concentrados em tão importantes matérias que partilho convosco algo que, não estando no topo das prioridades mais prioritárias, vem fechar um longo e tormentoso percurso de dúvida de origem linguística. Que resumo. Guê ou gê? Guê, claro, respondo intuitivamente. Sem claudicar ou margem para hesitações. E assim seria, se não fosse a GNR... Sempre o raio da GêNR. Ora, parece que vários especialistas (entre os quais não me lembro) consideravam como possível a designação de gê ou guê para a letra G. Aliás, possibilidade análoga admitiam (???) para a letra F (fê ou efe) ou para a letra L (lê ou ele). Parece que era muito útil para as crianças aprenderem o alfabeto nos primeiros anos escolares. Concluamos. O maravilhoso novo acordo ortográfico não foge a esta questão e aceita a dupla designação para a letra G. Quem quiser dizer GuêNR, sinta-se, por isso, à vontade. Acaba, todavia, e para bem das gerações vindouras, com o fê e o lê, aceitando, unicamente, o efe e o ele. Para curtir mais, é só vir aqui.
3.2.11
Como é que se diz? ah, já sei: vira o disco e toca o mesmo. é isso
"Mourir pour des idées, l'idée est excellente
Moi j'ai failli mourir de ne l'avoir pas eu"
Unwind (ou nem por isso, visto que temos por cá muita fox news travestida. travestida, grande adjectivo)
* a circular no facebook
1.2.11
Meryl Streep
Com orelhas de burro, talvez deva confessar (mas porquê? que idiota!) que, contrariamente ao que dei a entender, me lembrava perfeitamente daquele filme dos ABBA que ela fez recentemente e que, arghhhh..., se inclui entre os filmes que, não obstante e verdadeiramente, se enquadram naqueles que não são excluídos a título de excepção da afirmação genérica de que, genericamente, gostei de todos os filmes da Meryl Streep.
Morte de John Barry...
... o compositor que criou, entre outras, a banda de "África Minha". Aproveito para dizer que nunca vi tal obra. Mas lamento-o. Acho eu. Gosto do Robert Redford. Menos da Meryl Streep (bule um poucocinho com o meu sistema nervoso, embora goste de quase todos os filmes que dela vi, como o "Kramer contra Kramer" e a "Escolha de Sofia", não me lembro de outros, além de que a confundo com alguma frequência com a Kathleen Turner). Também nunca vi o Titanic. Mas tenho grande orgulho nisso. E há outros.
Sem preconceitos
A crónica daquele que foi o director do Expresso durante tantos e tantos anos (bem sei que a pergunta é feita diariamente pelas mais diversas pessoas de bem mas: como foi isto possível?). Que eu desse conta, já foi, muito apropriadamente, evidenciada aqui e aqui. Destacando o parágrafo que, ainda assim, é insuficiente para sintetizar toda a parvoíce que se pode encontrar num único naco de prosa (odeio esta expressão; preguiça...). O destaque vai, muito merecidamente, para este excerto:
"O serviço militar obrigatório acabou sem qualquer debate público, como se fosse uma coisa sem importância nenhuma. Ora, para muita gente, era uma directriz. Havia jovens vindos da província que tomavam na tropa o primeiro banho! E às vezes aprendiam ofícios - como cozinhar ou conduzir - que lhes davam uma ferramenta para a vida, além de regras de disciplina que ficavam pelo tempo fora. Este jovem que estava em Nova Iorque com Carlos Castro - que terrível coincidência a proximidade entre as palavras Castro e castrado - noutra época estaria a cumprir o serviço militar e não teria dado cabo da vida."
Mas a minha parte favorita é esta pequena pérola:
"Observemos agora estes factores um por um, independentemente da opinião que tenhamos sobre eles."
Observemos...
"A família era a primeira rede caso um indivíduo caísse do trapézio. Ora, a família tradicional afundou-se. Repare-se que Renato pertence a uma família desagregada.""Passemos à escola. Que, inegavelmente, perdeu autoridade. Perdeu autoridade como um todo e os professores perderam autoridade. A bagunça instalou-se"
"Olhando agora para as Forças Armadas, que eram uma reserva da nação , perderam toda a relevância. Por outro lado, o serviço militar obrigatório acabou sem qualquer debate público, como se fosse uma coisa sem importância nenhuma. Ora, para muita gente, era uma directriz"
"A Igreja Católica também contribuía decisivamente para a integração social das pessoas - e para uma certa igualdade. Perante Deus, todos são iguais: o pobre e o rico, o novo e o velho, o doente e o são. E a interiorização dos Dez Mandamentos fornecia um conjunto de princípios de convívio em sociedade: não matarás, não roubarás, não cobiçarás a mulher do próximo, etc."
"O Estado tinha uma imagem forte que foi perdendo (...), consequência da própria democracia, mas também de um abaixamento da qualidade dos políticos e dos governantes, que deixaram de ser pessoas respeitáveis e com qualidades reconhecidas pela sociedade para serem, muitas vezes, carreiristas."
E muito mais... Isto, claro, "independentemente da opinião que tenhamos sobre eles", como diz o ex-arquitecto (baralhei-me). É a"Política a sério", nome da coluna de opinião deste génio. Agora é imaginar como seria a brincar... (três reticências; no limbo.... bolas; ponto final).
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