31.3.11
O homem invisível
30.3.11
Accountability
29.3.11
Contradições*
Ou isto, como denuncia Pacheco Pereira:
* a distinção pessoas e políticos era piada. Falhada, mas piada.
É isto!
“Caro José Neves, a resposta é simples: a esquerda que valoriza as declarações de Merkel é a mesma esquerda que, independentemente do juízo que possa fazer sobre as opções políticas da chanceler alemã e sobre a forma como esta tem influenciado a resposta europeia à crise, sabe que não haverá nenhuma solução europeia realista que dispense a Alemanha. Se me perguntarem o que penso das políticas da senhora Merkel, eu direi que são desastrosas e que se arriscam a lançar a Zona Euro numa recessão sem fim. Dizer que devemos 'bater o pé' à senhora Merkel, ou outra qualquer bravata inconsequente desse género, não invalida o facto de essa ser, hoje, a liderança que o país mais poderoso da UE escolheu e que, por isso, as suas posições - boas, más, pessimas, o que for - são, para quem tenha o azar de viver na realidade política que existe, aquelas com que temos de lidar.”
João Galamba, Jugular, num texto já com alguns dias.
Desculpem-me. É só para não me esquecer de ler esta entrevista
"Está um dia lindo, o sol brilha e parece que passámos do Inverno directamente para o Verão. Estão 20 graus lá fora, imagine só". Seguem-se descrições da fauna e flora que por estes dias aparece a desabrochar ou a pipilar pelo terraço de Howard Jacobson. Ao telefone a partir da sua casa em Londres, o escritor inglês, 68 anos, está bem disposto apesar de ligeiramente ressacado - "bebi uns copos ontem depois de uma palestra sobre censura". Goza ainda do estado de graça concedido pelo Man Booker Prize, distinção que recebeu em Outubro do ano passado à custa de "A Questão Finkler", livro que saiu na quinta-feira em Portugal. "O prémio fez de mim uma pessoa melhor mas calculo que por pouco tempo. Assim que os efeitos desta vitória se dissiparem vai voltar a amargura". É aproveitar.
Como é que o Booker mudou a sua vida?
Em termos muito práticos, vendo muito mais livros agora do que alguma vez vendi. Por exemplo: a cópia em inglês de "A Questão Finkler" vendeu mais de 400.000 exemplares, um número colossal e que significa que eu em breve terei vendido mais exemplares deste livro do que todos os meus outros 11 romances juntos. É óptimo ter leitores, não tenho de lhe dizer isso a si, certo? E é maravilhoso perceber que há gente a lê-lo no Paquistão e será traduzido para mais de 23 línguas.
Também lhe deve ter aumentado a confiança, certo?
Um alívio enorme. A partir de agora não tenho de me preocupar com ter ou não ter leitores e se posso viver da literatura. Em tempos angustiava-me ter um livro novo, ir a uma livraria e não o encontrar em lado nenhum. Isso agora já não volta a acontecer tão depressa - em Londres vi paredes inteiras forradas a livros meus.
É uma libertação.
E também é uma espécie de ressurreição dos meus livros anteriores. Estão de volta, têm capas novas, estão a ser publicados em mercados onde nunca chegaram, vão ser traduzidos. É como se toda a minha carreira como escritor fosse rejuvenescida. O que também é perigoso.
Perigoso porquê?
Porque me sinto mais jovem do que realmente sou. Esqueço-me de que vou morrer em breve ou de me comportar com a dignidade que se espera de uma pessoa com a minha idade.
E a sua escrita será afectada?
Sou um escritor pessimista. Os meus livros e a minha carreira estão assentes na ideia de que a minha vida é um fracasso, faço a minha arte a partir daí. De agora em diante tenho de fazer o mesmo a partir da sensação de que a minha vida é um sucesso. Se será um problema? Veremos.
A vitória no Booker foi uma surpresa.
Eu também fiquei surpreendido. Naquela noite não achei que fosse ganhar [era a terceira nomeação]. Mas o que mais me surpreendeu foi o "bruaá" de apreço que veio da audiência. Parece que, além de mim, havia mais gente satisfeita.
O "Daily Telegraph" dizia que o Howard era "demasiado divertido para o Booker"?
Muita gente disse isso - eu próprio o disse. Passei anos a ver livros sérios ganhar esse prémio e a achar que aquilo não era para mim. Não percebo esta aversão ao humor na grande literatura, esse afastamento da seriedade. Acho que todos os romances devem ser cómicos.
Como assim?
É para isso que os romances servem. Repare: temos a poesia, temos a tragédia, temos outros géneros para lidar com coisas muito específicas. O romance trata do dia-a-dia, trata da vida. E a nossa vida é bela, feia e absurda. Um romance deve reflectir isso - e deve ter humor.
Acha que o humor é subvalorizado junto da alta cultura?
Sem dúvida. A literatura começou a tornar-se uma coisa tão séria e respeitada que acaba por ser vista quase como uma religião. Inglaterra é um lugar onde a religião organizada está a desaparecer e parece que a arte tomou esse lugar. A literatura deve ser uma coisa solene, silenciosa e a cheirar a igreja - velas, incenso, gente a ler em altares, essas coisas. As pessoas têm medo que, ao abrir um livro com piada, este se lhes rebente nas mãos. E isso é terrível porque em toda a história da literatura há grandes romances que nos fazem rir: "Gargantua e Pantagruel", de Rabelais, "D. Quixote", de Cervantes, são tudo novelas que fazem troça do estado ou da religião. Era para isso que os romances serviam. Mas de há 50 ou 100 anos para cá tudo mudou.
Tem medo de não ser levado a sério?
Não sei como é em Portugal, mas cá os heróis da nossa cultura são comediantes. Adoramo-los. Mas estamos à vontade quando eles estão no seu território - fazem umas piadas e já está. Quando o humor passa para outras áreas aí começam os problemas. As pessoas ficam confusas, não sabem o que pensar, ficam ofendidas. Eu gosto de escrever frases que deixam o leitor na dúvida se é comédia ou tragédia. Gosto de brincar com os leitores: acham que vão rir e eu faço-os chorar, sentem que vem aí uma cena trágica e eu faço-os rir. É uma leitura acrobática.
O humor é considerado por todos uma demonstração de inteligência, porque é que não acontece o mesmo quando chegamos à literatura?
Porque o meio literário está cheio de gente que veio das faculdades e não gosta de ver a inteligência exibida ou desperdiçada no humor. É demasiado rápido para eles. Estão habituados a escrever frases longas e aborrecidas para descrever uma ideia. Eu escrevo para aborrecer e ofender essas pessoas.
26.3.11
Coisas por que dá gosto ser pai
25.3.11
Este blog entrou oficialmente em campanha eleitoral
24.3.11
Escrutínio democrático
Pedro Passos Coelho, no livro "Mudar", editado em 2010.
"Se ainda vier a ser necessário algum ajustamento, a minha garantia é de que seria canalizado para os impostos sobre o consumo, e não para impostos sobre o rendimento das pessoas".
Pedro Passos Coelho, hoje, em Bruxelas.
Elizabete Miranda, Blogue Massa Monetária, Jornal de Negócios
Escrutinar a democracia
Straight do the point: o PSD veio hoje dizer que pondera uma subida de IVA como forma de evitar os cortes nas pensões. Ocorrem-me várias coisas para dizer sobre esta posição mas a primeira e mais evidente é: o PSD passou o último ano a acusar o PS de fazer o esforço da austeridade (também) por via da receita (i.e. impostos), quando o correcto seria pelo lado da despesa (os famosos cortes nos consumos intermédios). O PSD passou um ano a repetir diariamente isto. No orçamento, elevou esta preocupação a condição sine qua non para a viabilização do OE 2011. Até aqui tudo bem (vamos esquecer que o PSD se limitava a declarar o seu amor pelos cortes na despesa, sem nunca referir onde).
Hoje (não ontem ou anteontem, quando isto podia ter sido negociado), o PSD apressou-se a declarar que evitaria os cortes nas pensões com o aumento do IVA para 24 ou 25 por cento. Portanto, a única proposta concreta que se ouve do PSD nos últimos tempos é…. um aumento de impostos, da receita. Rematando. O poder fiscalizador dos media não pode limitar-se a divulgar acriticamente uma posição destas, que contraria tudo o que o PSD disse e fez no último ano. Este papel que cumpre à comunicação social é um dos pilares de uma democracia saudável.
Afinal é tudo um logro
23.3.11
Morreu Elizabeth Taylor
Analyse me
A frase que impõe respeito
Em declarações à TSF, Manuel Alegre põe o dedo nas feridas*
Cavaco Silva
«[Cavaco Silva] devia fazer um apelo para que houvesse um diálogo, um consenso e um compromisso», evitando a iminente antecipação das eleições.
Cavaco Silva fez um discurso que «estimulou a crise» na sua tomada de posse.
FMI
«Se este PEC 4 contém medidas duras para os portugueses, a verdade é que a seguir vêm medidas muito mais duras, porque o resgate do FMI [Fundo Monetário Internacional] significa que irão», por exemplo, «baixar o salário mínimo nacional e despedir mais funcionários públicos». Mas também «acabar com o 13.ª mês, mais cortes salariais ou o fim do conceito de justa causa».
Propostas alternativas
«É preciso que os outros partidos, nomeadamente o PSD», apresentem a sua solução alternativa.
Os partidos «tendem a colocar o interesse partidário imediato acima do interesse nacional».
Cultura política
«Esta situação é fruto» da falta de coragem para o diálogo. É preciso «mais coragem para fazer a paz do que para fazer a guerra», a par de um «grande sentimento de responsabilidade nacional».
Eleições antecipadas
O cenário de eleições legislativas antecipadas não vai resolver «coisa nenhuma, mas abrir a porta para que o FMI» entre em Portugal.
PSD
O projecto de revisão constitucional apresentado pelo PSD, «que no fundo é um programa de governo», contém medidas que, conjugadas com a austeridade que é imposta pela Europa, vão tornar muito gravosa a situação dos portugueses».
*Resumo feito a partir do texto da edição online da TSF. Vale, no entanto, a pena ouvir o audio.
21.3.11
Prenhe de razão ou hypersensitive me
18.3.11
17.3.11
Redes sociais
"O povo é sereno, os políticos não"
(...)
"A maioria dos economistas, da direita à esquerda - de Vítor Bento a Ferreira do Amaral - concordam que um empréstimo como o da Irlanda ou da Grécia seria péssimo para o País. Mas não é só do ponto de vista económico que o exemplo irlandês traz importantes lições para Portugal. Enda Kenny, o novo primeiro-ministro irlandês foi ao último Conselho de Ministros Europeu convencido de que iria renegociar os termos do empréstimo à Irlanda. Não só não conseguiu nada como ainda lhe foi dito que obrigatoriamente a Irlanda tem de subir a taxa de IRC baixíssima de que neste momento as empresas irlandesas beneficiam. Como é evidente, a austeridade agrava-se apesar dos irlandeses terem mudado de governo. "
Marina Costa Lobo, crónica do Jornal de Negócios.
16.3.11
Algures no meio deste post está uma ideia que queria transmitir mas não é fácil econtrá-la
Concordo genericamente com tudo. Bem, quase tudo. No final, o Porfírio sublinha, e bem, o lugar central que a forma e os procedimentos têm em democracia. “Em democracia, a forma é uma garantia. Ferir a forma não deixa intocado o conteúdo”, escreve. Preciso de pensar um pouco melhor sobre o assunto (em quase todos os assuntos eu preciso de pensar um pouco melhor sobre o assunto… a verdade que eu tenho-me como um moderado mas aquilo que eu sou mesmo é um hesitante profissional) mas julgo que a minha renitência advém de se considerar que os procedimentos informais de relacionamento entre os agentes políticos (seja o Presidente da República, seja o principal partido da oposição) sejam equiparados às regras de forma escritas, normativamente impostas. São estas últimas que sustêm o edifício da democracia e constituem o seu garante. As outras, as tais regras informais (sublinho, regras de forma informais…) fazem parte de outra forma. São politicamente sindicáveis mas não beliscam a democracia.
Isto é tanto mais verdade quando estamos a falar no quadro das relações entre o Governo e um Presidente de um sistema semi-presidencial. Quase por definição, este é um sistema que deixa uma apreciável margem de indefinição nalguns dos poderes destes agentes. Não é por acaso que, contrariamente ao sistema parlamentar puro ou ao presidencial, só se compreendem os poderes dos presidentes nos sistemas semi-presidenciais - e muito em particular os que tangem com a sua relação com os governos - olhando mais para a prática do que para as leis. O Duverger tinha uma expressão sobre isto mas olvida-ma. Ou seja, é um sistema que, no âmbito daquelas relações, permeável à criação de certos hábitos, nomeadamente ao nível de procedimentos (há países com regras semelhantes às nossas que tornaram habitual que o governo auscultasse o Presidente antes escolher o nome de certos ministros, v.g, na Polónia do Presidente Lech Walesa).
Corte abrupto. Fome. Resuma-se: há regras de forma e regras de forma. No caso vertente (ahahah), falamos de regras de forma. Das outras, que espelharão porventura relações de força mas que se situam no campo de discricionariedade política. Que comprometem politicamente mas não juridicamente. Acho que o que queria dizer se resume a esta última frase. Agora, papinha.
15.3.11
Deve ser a isto que chamam escrever direito por linhas tortas
“Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.'
"É altura dos Portugueses despertarem da letargia"
"A nossa sociedade não pode continuar adormecida"
"É necessário que um sobressalto cívico faça despertar os Portugueses"
No mais, o que há a dizer sobre isto já foi dito neste post de Fernanda Câncio.
Desconstruir o Estado de direito (alerta: post com ligeira manipulação dos factos e de irritante pulsão declamatória)
14.3.11
Sejamos mesmo razoáveis
Dominique Strauss-Khan, num artigo que, em bom rigor, é uma boa boste.
11.3.11
Quem põe o dedo no ar?
10.3.11
9.3.11
Para mais tarde recordar
Faz mais ou menos dois anos que saí do armário
Para arrumar as ideias
Tacticismos
Caro Ricardo, colocas bem a questão mas retiras, na minha opinião, a conclusão errada. O juízo de adequação da táctica às necessidades do país é, precisamente, uma das ferramentas fundamentais que temos para avaliar da (ir)responsabilidade da acção partidária. Claro que o que sejam as necessidades do país não será consensual entre os diferentes quadrantes partidários. Mas sempre haverá mínimos denominadores comuns entre todos (eu diria que neste momento a estabilidade governativa devia ser um desses mínimos). Entre as esquerdas, a indesejabilidade de a direita ir para o poder no actual contexto de austeridade, onde não perderia a oportunidade para pôr em prática as suas neosoluções neoliberais, devia ser outro desses mínimos. Se fores capaz de dizer que uma e outra (a estabilidade governativa ou a possibilidade de a direita ser governo nesta altura) te é indiferente, compreendo que não julgues irresponsável a moção de censura do BE. Caso contrário...