13.10.11

Isto é absolutamente assustador

Bélgica: Quase um belga em cada dois estima que o nazismo tinha “ideias interessantes”

Duas formas de olhar para o mesmo acontecimento político:

- De um órgão de comunicação social: Martine Aubry passa à ofensiva nas primárias socialistas francesas

- De um blog: A França por vezes ilumina

Isto não implica um juízo sobre a qualidade dos dois textos. Queria apenas notar o contraste entre o texto jornalístico e a opinião registada num blog. É evidente que este contraste é tão natural quanto necessário, atendendo à natureza (um jornalístico, o outro opinativo) de cada um dos textos. O que estranho é que, apesar do relato factual da notícia, senti-me muito mais informado com a apreciação feita pelo Porfírio Silva. Se calhar tem a ver com o tipo de informação que procuro. Mas não excluo que reflicta também um certo jornalismo dominante, nomeadamente no jornalismo político, que enfatiza (e às vezes reduz) a tensão, desvalorizando as pontes, a unidade. Como ilustra na perfeição o título da peça do Público e que, a meu ver, não tem correspondência com o que vem no texto.

12.10.11

"Look at me! I am man! I am you!"

“O modo como Cavaco Silva é bajulado neste país é algo para o qual não encontro explicação. São tantas as incoerências e mentiras, conjugadas numa sonsice sem paralelo ao longo de tanto tempo, que o facto de ainda lhe restar o que quer que seja de credibilidade junto da opinião pública e comunicação social só pode reflectir o quão atrasados estamos em termos de escrutínio público.”

serras, no Serras.

Serras, o problema não é o facto de ele ainda ter credibilidade junto da opinião pública e da comunicação social. Há malucos para tudo. Além disso, isso reflecte as inevitáveis (e desejáveis) diferenças com que cada um de nós interpreta a vida em geral, e os factos e personagens políticos em particular. Algo que foi esquecido vezes demais nos últimos anos, em que não faltaram as vozes a reivindicarem uma unanimidade sobre o carácter de um homem e das suas políticas, ele por acaso primeiro-ministro, a encarnação do político por excelência, por acaso também alguém (ou um cargo) que deveria ser foco obrigatório de discórdia e do dissenso público.

O verdadeiro mistério é, como bem assinalas, a bajulação dedicada a esta personagem e, como notas também (no fundo, já disseste tudo; mas apeteceu-me escrever), a ausência de crítica e de escrutínio à sua persona e actividade política. No fundo, o ódio a Sócrates e a divinização de Cavaco são duas faces da mesma moeda, da mesma má moeda, uma forma de ver, e de exigir que todos vejam, a política e os políticos como unidimensionais. Mas como diria o George Costanza, eles são pessoas. Eles são nós (imaginem por favor vídeo a ilustrar a citação; só arranjei isto).

10.10.11

Fazer minhas as palavras dos outros


Primárias e primários


Socialistas franceses decidem candidatura presidencial com "primárias" abertas a não militantes.

«Pela primeira vez em França, a escolha de um candidato socialista à presidência poderá ser feita por qualquer eleitor que pague um euro e que assine um papel a dizer que partilha "os valores da esquerda e da República". A inovação valeu uma exposição mediática inédita dos candidatos, com audiências televisivas recordes para debates políticos entre candidatos da mesma família política.»

Por cá, foi pena que, na última campanha para a liderança socialista, esta possibilidade de maior osmose entre partidos e cidadãos tenha sido descartada com demasiada facilidade, ainda por cima atropelada por um apelo demagógico contra "a invasão do PS pelos estranhos". Neste ponto concreto, Seguro esteve mal, usando uma receita que não é nova no PS (matar debates para atalhar votações). Espero que um dia, mais cedo do que tarde, a actual liderança do PS faça a Assis a justiça de lhe repegar a proposta e colocá-la a debate, dessa vez com seriedade.

Palavras de Porfírio Silva, no sempre excelente Machina Speculatrix

"Não merecemos o medo com que nos querem obrigar a viver"

Daqui.