Talvez um pouco desiludido com o documentário de Robert
Reich sobre desigualdade na América. Não porque não adore o Robert Reich. Não
porque não faça um retrato pungente sobre a evolução da desigualdade na América
(os gráficos são elucidativos: ao pico de concentração de riqueza em poucos -
em cada vez menos - seguem-se as grande crises económicas; os períodos de menor desigualdade são também os de maior crescimento; os períodos de maior crescimento
e menor desigualdade são aqueles em que a justiça fiscal é maior, com os mais
ricos a pagar muito mais impostos; o declínio do poder dos sindicatos
corresponde ao declínio do poder de compra da classe média americana; a relação
entre desigualdade de rendimentos e educação). Não porque, quanto ao essencial,
não aponte o dedo ao que está mal e o que deve ser mudado para garantir uma
sociedade mais próspera e justa. Não porque, no final, não retire o corolário
mais importante, embora insuficientemente explorado: quando o dinheiro e, logo, poder, se concentra em tão poucos, a democracia está em
risco. Lá, como cá, por (uma enorme) maioria de razão.
Mas, gostando muito de
Reich, tem demasiado Reich. É demasiado umbiguista. O que se lê com prazer e
proveito sobre as suas experiências pessoais no fantástico "Locked In the
cabinet", ajudando a contextualizar o relato da sua experiência
governativa, ou o que se vê com divertimento no sketch que fez com Conan O'
Brien, torna-se fastidioso num filme desta natureza. É como ver alguém a
olhar-se ao espelho a cada 5 minutos enquanto nos fala da desigualdade. E os
entrevistados, com exceção do excelente (digam em voz alta: exceção do
excelente) bilionário cujo nome me escapa e critica aguerridamente o sistema
que tudo faz para lhe facilitar a vida, com prejuízo para a generalidade dos cidadãos,
são, de um modo geral, fracos, pouco acrescentando ao filme.
Espremido o
que interessa, o filme daria para uns bons 30 (e não 90) minutos. Mas nem por
isso deve deixar de ser visto por cá. Ajuda-nos a compreender (mesmo sem o
fator União Europeia) os fundamentos do sistema perverso em que nos deixámos
enredar e que está a dinamitar a nossa democracia. Mas isto pode ser mudado.
Assim o queiramos. E bem que podíamos começar por ter um Robert Reich à
portuguesa que fizesse uma coisa do género para cá. Ou uma produção
conjunta entre Portugal, Grécia e Espanha, por exemplo. Quem é o nosso Robert
Reich?