5.2.14

Pontes de Mostar à esquerda precisam-se

Temos um país a caminhar para o abismo. O sistema político aparece aos olhos de uma parte crescente da população como o bode expiatório da crise. Mesmo assim, temos forças na sociedade que se propõem mudar o estados das coisas através da instituições existentes, nomeadamente criando partidos e movimentos de convergência à esquerda (cuja falta constitui um autêntico pé boto do nosso sistema). Felizmente que assim é. 

As condições são ideais para o florescimento de um qualquer beppe grilismo, cujos contornos cada vez mais deprimentes podem ser vislumbrados na crónica de hoje do Público de Jorge Almeida Fernandes. Ou pior. 

Tristemente, os dirigentes dos partidos da esquerda (PCP, BE e PS) não parecem particularmente interessados em aproveitar esta oportunidade, estribando-se nos habituais pretextos (a crónica de hoje de André Freire elenca os mais recentes). Pretextos, sim, pois se algo resulta claro das explicações oferecidas para a falta de entendimento é que este (já) não radica sobretudo em quaisquer circunstâncias históricas mas no mais puro taticismo. A nuvem do descontentamento passará e tudo voltará a ser como dantes, parecem acreditar uns (o PS). Ou a insatisfação com a crise acabará até por reforçar a sua posição no sistema, parecem acreditar outros (o BE ainda sonhará em tornar-se o Syriza de cá, apesar de os resultados das últimas duas eleições aconselharem precisamente o oposto).

Oxalá ainda se vá a tempo  de aproveitar as circunstâncias de mudar as coisas por dentro (do sistema). Se estes falharem, outros piores acabarão por entrar em cena. Há alturas em que uma pessoa não consegue dar-se ao luxo de ser otimista.

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