Temos um país a caminhar para o abismo. O sistema político aparece
aos olhos de uma parte crescente da população como o bode expiatório da crise. Mesmo
assim, temos forças na sociedade que se propõem mudar o estados das coisas
através da instituições existentes, nomeadamente criando partidos e movimentos
de convergência à esquerda (cuja falta constitui um autêntico pé boto do nosso
sistema). Felizmente que assim é.
As condições são ideais para o florescimento
de um qualquer beppe grilismo, cujos contornos cada vez mais deprimentes podem
ser vislumbrados na crónica de hoje do Público de Jorge Almeida Fernandes. Ou pior.
Tristemente, os dirigentes dos partidos da esquerda (PCP, BE e PS) não parecem particularmente
interessados em aproveitar esta oportunidade, estribando-se nos habituais
pretextos (a crónica de hoje de André Freire elenca os mais recentes). Pretextos,
sim, pois se algo resulta claro das explicações oferecidas para a falta de
entendimento é que este (já) não radica sobretudo em quaisquer circunstâncias históricas mas no mais puro taticismo. A nuvem do
descontentamento passará e tudo voltará a ser como dantes, parecem acreditar
uns (o PS). Ou a insatisfação com a crise acabará até por reforçar a sua
posição no sistema, parecem acreditar outros (o BE ainda sonhará em tornar-se o
Syriza de cá, apesar de os resultados das últimas duas eleições aconselharem precisamente
o oposto).
Oxalá ainda se vá a tempo de
aproveitar as circunstâncias de mudar as coisas por dentro (do sistema). Se
estes falharem, outros piores acabarão por entrar em cena. Há alturas em que
uma pessoa não consegue dar-se ao luxo de ser otimista.
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