11.7.14

Andando a ver filmes

Ontem "fui" ver este filme ("Tal pai, tal filho"), há meses à espera de uma oportunidade. É tudo o que o Porfírio Silva escreveu sobre ele, que descaradamente reproduzo aqui em baixo (não vos vá faltar forças para carregar no link). Só não escreveria talvez a parte em que me diria conhecedor dos atuais problemas da sociedade japonesa. Até podia dizer, mas estaria a mentir. Ao contrário do Porfírio. Mas estou a entaramelar. Queria ainda acrescentar duas coisas. Não sei se foi intencional mas a escolha da primeira variação das Variações de Goldberg, triste e contemplativa mas um prenúncio de exultação, deixa entrever um futuro otimista para aquelas famílias e, conhecendo como conheço os atuais debates na sociedade japonesa, do futuro das famílias japonesas. A outra coisa é o que este filme me fez lembrar aquele outro, do mesmo realizador japonês (já com uns anos), Andando, também sobre a família - oriental, ocidental, e tal. E que tem este cartaz maravilhoso.




"Fomos ver "Tal pai, tal filho", do realizador japonês Hirokazu Koreeda. O filme é apresentado como o desenvolvimento dramático de uma troca de bebés à nascença, só esclarecida por volta dos seis anos de idade das crianças envolvidas. Toda a dialéctica entre natureza e cultura está envolvida nas duras opções entre sangue e amor que esta situação coloca em jogo. Já por esse lado o filme valeria a pena, sendo que tudo é tratado com fina sensibilidade, sempre rodeada pelos perigos da delicadeza japonesa (espécime que pode tornar-se cortante facilmente).
Contudo, conhecendo um pouco dos actuais debates e dilemas da sociedade japonesa, nota-se que o verdadeiro tema do filme é outro: o desequilíbrio das relações familiares, com os homens a tornarem-se estranhos às suas famílias, especialmente aos seus filhos, em nome da carreira e do sucesso. Apesar de uma certa "preocupação burocrática" não desarmar, dando a ideia de que os pais continuam a ser (bons) pais mesmo assim. O filme é, para o Japão do momento, um verdadeiro filme de intervenção: um grito pela humanidade da família, "pais, precisam-se". Desse ponto de vista, o episódio narrado não é uma curiosidade, é antes uma questão para todos. Também por cá.
O único enviesamento grave do filme é fazer de conta que esta dificuldade só conta para os homens, quando ela é cada vez mais um factor decisivo no estatuto social da mulher e nas relações entre homens e mulheres no país do sol nascente.
Um filme a ver. Com olhos de ver,  não com olhos de crítico apressado."

Porfírio Silva, aqui

eu, que não primo pela qualidade das minhas metáforas - e não é por falta de esforço - acho esta comparação simplesmente abjeta (que é uma outra forma de dizer nojo)


"O engenheiro Sócrates é muito responsabilizado, e não há ninguém que o responsabilize mais do que eu, mas eu vejo-o como aquele egípcio que tomou os comandos do Boeing que se precipitou sobre as Torres Gémeas", comparou Daniel Bessa.

Daniel Bessa disse que "já o Boeing ia a caminho das Torres Gémeas e ele [José Sócrates], no cumprimento de um guião qualquer, sentou-se ao comando, acelerou quanto pôde e, connosco lá dentro, enfiou-se contra as Tores Gémeas". "É um destino, não tem nada de mal, cada um cumpre a sua função na vida e portanto ficará para a história por isso"

Público de hoje

10.7.14

Ver o mundo a cores (ou a preto e branco)


Filho de 5 anos, ao ver passar na TV os jogadores da Holanda:
- Bhec , não gosto deste preto. Odeio preto.

Pai horrorizado (seguido de incredulidade e de breve paralisação):
- Blá, blá, blá (preleção...).

Filho de 5 anos (não particularmente impressionado):
- Não é isso, não gosto do equipamento do guarda-redes. É preto. E eu odeio preto.

Pai um pouco menos horrorizado (mas ainda agitado):
- Ahh, pensei que... (blá, blá, blá, nova preleção...)

Filho de 5 anos:
- Nãããão, esse é castanho. E eu gosto de castanho.

Pai hesita, optando por avançar, desanimadamente, para novo discurso, mas não sem antes entrever pelo canto do olho o divertido gozo com que filha mais velha observa o desnorte do pai.

9.7.14

Jornalismosaço

Ao ver as capas dos jornais e as reportagens na televisão após a derrota histórica do Brasil face à Alemanha, concluo isto: os jornalistas estão mais humilhados, destroçados, vexameados (e toda uma panóplia mais de adjetivos tonitruantes) do que a generalidade dos restantes mortais, incluindo os mortais brasileiros.

Ainda a propósito do cumprimento das promessas eleitorais, recordo que um dia inventei uma app que permite o controlo do cumprimento destas promessas

Mas lá que dava uma bela app dava.

Este pequeno vídeo é qq coisa. É verdade que tem uma pessoa desajustadamente de gravata. Mas tem pedagogia. O valor da crítica (dos pares). E um sobressalto: aquelas meninas podiam estar assim vestidas numa escola francesa?


Austin's Butterfly: Building Excellence in Student Work - Models, Critique, and Descriptive Feedback from Expeditionary Learning on Vimeo.

Políticos portugueses são dos que mais cumprem as suas promessas eleitorais,

conclui um estudo internacional, como se pode ler aqui.

Ainda no outro dia recordava isso mesmo aqui



A venerar o líder três vezes por dia

"On my block, a lot of people walk their dogs and I always see them walking along with their little poop bags. 

This, to me, is the lowest activity in human life. Following a dog with a little scooper. Waiting for him to go so you can walk down the street with it in your bag. 

If aliens are watching this through telescopes, they're going to think the dogs are the leaders of the planet. 

If you see two life forms, one of them's making a poop, the other one's carrying it for him, who would you assume is in charge?"

Seinfeld

5.7.14

Cavaco, um grão de areia no oceano


Não posso com Cavaco nem pintado às bolinhas. Mas dizer que toda a nossa desgraça começou com Cavaco é, por paradoxal que possa parecer, cair no engodo da narrativa da direita de que a crise em que estamos metidos tem origem interna.

Houve muita coisa mal feita nos governos que conduzem Portugal desde o 25 de abril? Seguramente. Eu acho que o pior veio da direita (uns governos piores do que outros). Outros acharão que veio da esquerda (uns piores do que outros).

Mas entendamo-nos. Aquilo por que estamos a passar tem origem numa crise internacional e, depois, nas respostas políticas que Bruxelas (leia-se, Berlim, em primeira instância) e, depois, Lisboa (leia-se, São Bento), continuam a defender (leia-se, a austeridade). E tudo isto veio pôr a nu e exacerbar as fragilidades que pelos vistos a moeda única tinha (para as economias mais frágeis) mas que poucos estavam dispostos a reconhecer. 

Meter Cavaco (exceto na medida da sua inépcia em desempenhar o seu papel de árbitro nesta crise, que, entretanto, se convolou também, nalguma medida, em crise política) e os seus governos nisto é ajudar a direita a atirar-nos areia para os olhos. Que, como se sabe, é fácil lá ir parar mas tramado como tudo para nos vermos livres dela. A areia.

4.7.14

Dilemas ecológicos na cidade


Apanhar o cocó do meu cão (há formas mais polidas de dizer isto mas perdem em realismo) com saco de plástico? Sim.

Mas não devia evitar usar sacos de plástico, particularmente nocivos para o ambiente? Sim.

Apanhar então o cocó do meu cão com panfleto publicitário de papel (sempre à mão), material esse altamente biodegradável? Sim.

Mas não devia evitar que os cidadãos que vasculham diariamente os caixotes da minha rua apanhem, inadvertidamente, com o cocó do meu cão, utilizando, para o efeito, um saco de plástico? Sim.

Por enquanto, apanhar o cocó do meu cão (há formas mais polidas de dizer isto mas perdem em realismo) com saco de plástico? Sim.

3.7.14

O total desinteresse dos deputados europeus portugueses pela Comissão de Petições é uma coisa que me chateia


Perguntava no outro dia se nesta legislatura a Comissão de Petições do Parlamento Europeu contaria, contrariamente ao que aconteceu nos últimos anos, com algum deputado português.

Não quero sugerir que as petições europeias têm mais importância do que realmente têm (quer dizer, na verdade estou). Mas ignorar pura e simplesmente o seu papel, quando um dos grandes desafios com que a UE se defronta é o seu afastamento em relação aos cidadãos europeus, é, no mínimo, um bocado parvo.

É que este é, para todos os efeitos, o único meio ao dispor dos cidadãos europeus (o que ainda resta desse vínculo hoje em dia) para, fora dos ciclos eleitorais, propor ou contestar diretamente uma iniciativa comunitária ou nacional (com incidência nas competências da UE), tendo direito a que seja elaborado um relatório sobre o pedido e até, nalgumas circunstâncias, ser ouvido pelos deputados europeus (com custos pagos).

Ontem foram escolhidos os seus 53 membros (suponho que suplentes e efetivos), voltando a não haver qualquer português, o que é bastante triste. Há comissões mais importantes, claro que há. E temos poucos deputados, claro que temos. Mas a verdade é que há muitos deputados de outros países que investem nesta comissão. Como se pode ver no quadro abaixo* (ou aqui):


*Portugal tem 21 deputados no PE e zero deputados na Comissão de Petições. A Grécia, com o mesmo número de deputados, tem 4 membros na Comissão de Petições.