5.7.14

Cavaco, um grão de areia no oceano


Não posso com Cavaco nem pintado às bolinhas. Mas dizer que toda a nossa desgraça começou com Cavaco é, por paradoxal que possa parecer, cair no engodo da narrativa da direita de que a crise em que estamos metidos tem origem interna.

Houve muita coisa mal feita nos governos que conduzem Portugal desde o 25 de abril? Seguramente. Eu acho que o pior veio da direita (uns governos piores do que outros). Outros acharão que veio da esquerda (uns piores do que outros).

Mas entendamo-nos. Aquilo por que estamos a passar tem origem numa crise internacional e, depois, nas respostas políticas que Bruxelas (leia-se, Berlim, em primeira instância) e, depois, Lisboa (leia-se, São Bento), continuam a defender (leia-se, a austeridade). E tudo isto veio pôr a nu e exacerbar as fragilidades que pelos vistos a moeda única tinha (para as economias mais frágeis) mas que poucos estavam dispostos a reconhecer. 

Meter Cavaco (exceto na medida da sua inépcia em desempenhar o seu papel de árbitro nesta crise, que, entretanto, se convolou também, nalguma medida, em crise política) e os seus governos nisto é ajudar a direita a atirar-nos areia para os olhos. Que, como se sabe, é fácil lá ir parar mas tramado como tudo para nos vermos livres dela. A areia.

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