Não posso com Cavaco nem pintado às bolinhas. Mas dizer que toda a nossa desgraça começou com Cavaco é, por paradoxal que possa parecer, cair no engodo da narrativa da direita de que a crise em que estamos metidos tem origem interna.
Houve muita coisa mal feita nos governos que conduzem
Portugal desde o 25 de abril? Seguramente. Eu acho que o pior veio da direita
(uns governos piores do que outros). Outros acharão que veio da esquerda (uns piores
do que outros).
Mas entendamo-nos. Aquilo por que estamos a passar tem origem numa crise internacional e, depois, nas respostas políticas que Bruxelas
(leia-se, Berlim, em primeira instância) e, depois, Lisboa (leia-se, São
Bento), continuam a defender (leia-se, a austeridade). E tudo isto veio pôr a nu e exacerbar as fragilidades que pelos vistos a moeda única tinha (para as economias mais frágeis) mas que poucos estavam dispostos a reconhecer.
Meter Cavaco (exceto na medida da sua inépcia em desempenhar o
seu papel de árbitro nesta crise, que, entretanto, se convolou também, nalguma
medida, em crise política) e os seus governos nisto é ajudar a direita a atirar-nos
areia para os olhos. Que, como se sabe, é fácil lá ir parar mas tramado como tudo para nos
vermos livres dela. A areia.
Sem comentários:
Enviar um comentário