Máscaras de
isildas pegados, césares das neves e josés antónios saraivas por toda a parte.
31.10.14
Halloween
Provincianismo: torcer o nariz ao halloween porque não é uma
tradição portuguesa.
"Fuck Chicago" ou um filme sobre o que realmente importa
Acontece-me com frequência. Filmes, ou livros, relativamente aos quais
a leitura que deles faço resulta clara e pouco ambígua.
Há bons filmes nesta categoria. E muitos maus. Depois há outros, que fazem
lembrar aquelas caricaturas que vistas de uma forma são uma coisa mas de pernas
para o ar outra completamente diferente. É o caso de Locke, filme recomendado
com entusiasmo por amigos, armadilha sempre perigosa por elevar as expetativas
e, assim, a possível desilusão. Mas não foi o caso. Uma das leituras que fiz do
filme:
Locke é um filme banal. Quer dizer, não é nada banal, é até
muito bom, mas debruça-se sobre a banalidade da vida. Não que a vida seja banal
no sentido de desinteressante. Antes pelo contrário. Porque uma vida banal é
feita de imbanalidades. Como de erros banais, como uma infidelidade (confirmo-o
nos livros, nos filmes, nas telenovelas). "Foi apenas desta vez", confessa
Locke - o personagem principal - à mulher.
Locke, que dito em voz alta remete-nos para a ideia de
prisão, de ficarmos presos aos nossos erros, às nossas ações, circunstância do
homem moral. E que há uma forma moral de enfrentar os erros. É o que Locke
pretende fazer, ao estar presente no nascimento do filho fruto daquela
infidelidade. Para que não faça como o seu pai, que, em circunstâncias
semelhantes, apenas se deu a conhecer quando Locke tinha 22 anos. Porque não se
estará também sempre a tempo de corrigir os erros. "Mais valia que nunca
tivesses aparecido", diz, a certa altura, Locke em voz alta, imaginando o
pai sentado no banco detrás do carro, onde, aliás, toda a ação decorre (no
carro, não especificamente no banco de trás; não é desses filmes). Presos aos
nossos erros mas também aos dos nossos pais, que, de alguma forma, carregamos
connosco.
Qualquer desvio à moral é tramado e pode ter consequências
potencialmente devastadoras. Por mais pequeno que seja. Ou melhor, Locke sabe
que não há desvios pequenos. Como lhe devolve a certa altura a mulher, a
diferença entre não fazer (nunca) e fazer uma só vez é toda a diferença do
mundo. Veja-se como Locke insiste, quase patologicamente, em cumprir o limite
de velocidade na estrada, apesar de o seu mundo estar a desabar e estar
atrasado para o nascimento do filho. No entanto, esta intransigência moral coexiste
com uma enorme humanidade, aquela que permite um olhar compreensivo sobre os
erros dos outros, desde que, no final de contas, o lastro deixado seja
positivo. Uma espécie de tolerância devida aos bons.
O filme passa-se todo no carro, numa viagem de quase uma
hora e meia (a mesma duração do filme), em que ficamos a conhecer, através dos
telefonemas, da linguagem corporal de Locke e dos seus monologos, o drama em
que este se encontra. Isto suscita uma reação curiosa por parte de quem fala do
filme, apressando-se a explicar o feito, aparentemente surpreendente, de podermos
ficar presos a um filme em tão monótono cenário. Mas, na verdade, isso tem
pouco de extraordinário. O turbilhão que é a vida (isso: a morte, o amor, a
família, as escolhas que fazemos, tudo o resto) acontece por regra nos mais entediantes
cenários ou, pelo menos, os do nosso quotidiano, como uma banal viagem de carro.
Não esperam, por norma, por uma visita a Paris ou Buenos Aires.
É, enfim, um filme sobre as coisas que importam na vida, cuja síntese pode ser encontrada na resposta que Locke dá ao ex-patrão: "fuck Chicago".
30.10.14
Divertimento e horror
Noto com divertimento que alguns dos que me acusam de não ser recetivo à música que se faz hoje (ou nas últimas décadas) e de só ouvir música antiga, são os mesmos que se gabam de só ler autores clássicos, cultivando serena impermeabilidade às influências dos vivos.
Também noto com horror a facilidade com que consigo notar com divertimento algo apenas poucos segundos depois de falar do Holocausto.
8.10.14
Voto que é útil
"A única forma de um novo sujeito político à esquerda não ser prejudicado pelo voto útil é mostrando que está genuinamente disponível para governar – sob condição, claro – e que por isso o voto em si nunca será desperdiçado."
Pedro Nuno Santos, no I
Pedro Nuno Santos, no I
3.10.14
Dioptrias ideológicas
A Economist é uma revista assumidamente alinhada com a direita neoliberal. O que não impede que seja também uma boa revista. O que não impede, por sua vez, que, por vezes, sacrifique esta última em nome da primeira. Como neste texto surreal. De cegueira ideológica.
France
The last Valls
Manuel Valls heads the most reformist government France has seen for many years. But might the beneficiaries be Nicolas Sarkozy and Marine Le Pen?
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