17.12.14

Desigualdade de género

Sabe-se que as mulheres têm de trabalhar muito mais dos que os homens para conseguir o mesmo resultado (salário, progressão). Não deixo de estranhar. Nos lugares onde trabalhei, tive frequentemente de trabalhar o dobro das mulheres para conseguir o mesmo rendimento. E em casa é igual (nunca mais chego a chefe).

12.12.14

Ich bin ein diretor da sony

- Resisto por princípio a ler notícias em consequência de violações da privacidade;
- Às vezes, traio os meus princípios;
- Acabei por ler este texto do I, a propósito das violações de correspondência na Sony.
- Duas notas:

- Em matéria de divulgação de segredos, os media têm frequentemente o dom de fazer as coisas parecerem piores do que são (estava preparado para muito pior).

- (em vez da indignação) As vítimas vieram pedir desculpas pelo conteúdo das mensagens (privadas, privadíssimas), o que é compreensível. Provavelmente, faria o mesmo. Mas isto só ajuda a que o buraco da fechadura fique cada vez maior. E estamos todos do outro lado da porta. Só que uns mais perto das fechadura do que outros. Citar Kennedy também devia servir para estas ocasiões. Podem ser racistas mas também neste caso devíamos ser todos diretores da Sony.

Cavaco, onde estavas tu quando nos chamaram de porcos?


Realmente, quem poderia adivinhar que o acrónimo PIIGS teria um impacto negativo... Mas mais chocante do que o acrónimo ser revelador do preconceito mais ou menos latente em relação aos países do Sul da Europa foi ver enfiarmos a carapuça até ao pescoço (com o elevado patrocínio do jornalismo e comentarismo nacional). Isto tudo, é imperativo lembrá-lo, fora pertinentemente lamentado, em tempo real, por este magnífico observador. Aqui. É caso para perguntar: Cavaco, onde estavas tu quando nos chamaram de porcos?

ps: texto do blog da LSE aqui.

10.12.14

Conservadorismo utilitário constitucional



Um facto largamente desvalorizado por todos os que clamam (e mesmo por muitos dos que não clamam) por uma revisão da constituição: poder usar a mesma edição da Constituição da República Portuguesa há quase dez anos. Sem post its, fotocópias reduzidas mal amanhadas ou astericos que o tempo dificulta a interpretação. Venham mais dez.

6.12.14

"Ó pai, não me desconcentres"

Tentar trabalhar no mesmo espaço que uma criança de seis anos, que, se estiverem curiosos, basicamente atira papéis ao ar. Insisto, desta vez em tom definitivo (não me queiram ver com um ar definitivo), que preciso concentrar-me. Aquiesce e não a oiço durante breves minutos (na realidade, segundos), o tempo que aguento sem levantar os olhos do computador para ver o que está a fazer. Quando o faço, devolve-me a resposta em título. Um dia, quando me  perguntar porque não temos uma casa de campo ou um carro maior, vou reencaminhá-la para este post. 

5.12.14

Narcisismo parental

Dos nossos pais, penso que temos sempre uma imagem distorcida. Pela experiência da infância, claro, que impede que conheçamos a verdadeira dimensão de uma sala de aula. E pela proximidade, que também deforma. Lembro-me, como me acontece com frequência, daquele conto do Javier Marias. E, com um misto de curiosidade e de suave inquietação,  deixo-me levar pela interrogação: que marca distorcida deixarei nos meus filhos? Serão justos comigo?

3.12.14

Ao estilo do Observador


Ria-se com Paul Ewen*

São poucos os livros cómicos, satíricos e hilariantes sobre escritores contemporâneos que se lêem numa tarde. Lost for Words do excelente Edward St Aubyn não é um deles. São tão poucos que só conheço um, também de 2014: How To Be A Public Author, de Francis Plug.

É uma reportagem ficcionada de Paul Ewen. A parte imaginada tem menos graça do que a reportada, mas há momentos de confluência das duas partes que são magníficos e que provam um talento enorme, gloriosamente desgovernado, irresponsável e imaginoso. Acho que é o primeiro livro que ele publica.

Depois de muitas rejeições foi, mais uma vez, a Galley Beggar Press (que estreou a obra-prima Beckettiana A Girl is a Half-formed Thing da electrificante Eimear McBride) a editora que percebeu o jeito original de Paul Ewen.

Vá ao site da editora onde poderá comprar, para além do livro de Paul Ewen (que é, diabos me grelhem, mais barato como fantasma no Kindle), a edição paperback da Faber de A Girl is a Half-formed Thing por apenas 7 libras.

Paul Ewen – um escritor neozelandês disfarçado de humorista – é também um jornalista de primeira apanha, atento a cada pormenor.

O melhor do livro dele são os encontros vedadeiros com os escritores que ganharam o prémio Booker. São observações de um leitor leal que desconfia, com razão, das manobras de promoção.

O mundo ideal dele é moralista e moralmente perfeito: os escritores escrevem e os leitores lêem.


Ele é o contra-ataque. E ganha.

Tiago Tibúrcio

* Tem a impressão de já ter lido isto em qualquer lado? Impressiona-se bem. É a crónica de Miguel Esteves Cardoso no Público de hoje. "Escrita" aqui por mim ao estilo do Observador, que não tem pejo em copiar textos de terceiros (neste caso, o de David Crisóstomo) e apresentando-os, indecorosamente, como seus (via facebook de Maria João Pires)

Alguém que pegue na crónica de hoje do Rui Tavares e a converta numa petição ao Parlamento Europeu. Obrigado.



2.12.14

1.12.14

Desperdiçamento ilícito

Já tive oportunidade de explanar neste blog, com acutilância e pertinência (confiem em mim), o que penso sobre a questão do enriquecimento ilícito. Mas uma coisa leva a outra e assalta-me uma questão. Não é tanto imaginar-me a ter de justificar onde gastei o meu dinheiro no último mês, no último ano, no último.... Não saberia fazê-lo mas, em última instância, arriscaria dizer que grande parte vai para cajus, o que não andaria longe da verdade. Já se me obrigassem a justificar o que faço com o meu tempo, a inversão do ónus da prova tramar-me-ia na certa. Na ausência de uma explicação, presumir-se-ia que tinha andado a fazer malvadezas. Não raro, passo o dia em casa e trabalhar e no final tenho pouco ou nada para mostrar. "Que estiveste a fazer o dia todo?", perguntam-me, não sem razão. Não sei explicá-lo e, nas distopias que nos propõem, estaria certamente a caminho do xilindró. Por desperdiçamento ilícito.