A questão da barbearia que proíbe a entrada a mulheres desinteressa-me
profundamente. Já o mesmo não posso dizer acerca dos comentários que a este
respeito tenho lido (ilustrado nesta opinião do Observador).
Resumidamente (ou nem por isso):
1 - A comparação desta situação aos casos em que homens, crianças,
idosos, ou famílias, são igualmente discriminadas em estabelecimentos
comerciais (como ginásios ou hotéis) não procede. Pela simples razão de não
haver na sociedade um problema de discrinação destas populações. No entanto, existe em relação às
mulheres (que compara, para este efeito, com questões de raça, religião ou de orientação sexual).
2 - Existe em relação às mulheres. São muitos os exemplos. Uns
mais graves (a violência doméstica), outros também graves (discriminação no
trabalho: salarial, maternidade), outros não menos graves (desigualdade na repartição
das tarefas domésticas). Este caso da barbearia não é, evidentemente, grave. No
entanto, um dos equívocos que vejo nas reações a este caso (sim, também luto
contra o instinto de achar ridícula a importância dada a estes senhores), é
achar-se que a luta contra a discriminação deve ser feita apenas às situações mais
graves (que são as mais graves, todos concordamos). Ora, estas não são mais do
que o reflexo da cultura que partilhamos enquanto sociedade, que ainda é muito conivente
com esta discriminação, aceitando-a, replicando-a, mais ou menos conscientemente.
E isto só mudará quando se atacarem as discriminações do dia a dia. Porque todos
concordamos que os homens não devem bater nas mulheres (nem o inverso). Mas já estaremos
menos conscientes do quanto muitas das coisas que dizemos, fazemos e ouvimos todos
os dias (sim, muito e todos os dias) atingem, de forma desigual, as mulheres. E
que mudar isto é um passo decisivo para mudar aquilo. É por isso que a
discussão do piropo é importante.
3 - Eu até tinha um exemplo que ocorreu comigo no outro dia.
Uma rábula bastante engraçada que fazia (é o que eu acho) acerca do amuadinho do
marido da Birgitte Nyborg. Até que fui confrontado com o sexismo latente do meu
número. E, depois de franzir o sobrolho, desconfiando da justeza do remoque, enfiei
a viola no saco. Mas não vou desenvolver para não afetar a minha imagem (é o que eu penso) de pessoa bastante espetacular neste domínio.
4 - Era só isto.
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