Alimento (quase que ia dizendo nutro) uma certa irritação
por aquelas pessoas que aproveitam a celebração de um qualquer acontecimento
para, olhando para o seu umbigo, falarem mais de si do que do outro. Morre
alguém e logo o facto se converte em pretexto para recordar aquela vez muito
especial em que o homenageante privou com o homenageado, insinuando-se,
embora involuntariamente, na sua importância. O sublinhar do sucesso de um ou
das qualidades humanas de outro mais parecem servir para fazer levitar, por
instantes, o estatuto do sublinhador.
Isto a propósito dos 25 anos do Público de hoje. Ora eu
estava lá. Comprei (compraram-me) o primeiro número. Dez anos mais tarde, foi
na versão eletrónica deste excelente jornal que eu, pelo breve instante de um
ano e quatro meses, tive o meu primeiro trabalho. E privei, claro, embora muito menos do que possa
parecer. E aprendi muito, mas mesmo muito, como aspirante a jornalista que
nunca cheguei verdadeiramente a ser. Principalmente a escrever. Não escrevia bem. Nem posso
dizer que o faça agora. Mas escrevo muito melhor do que antes de ter passado
por lá. Ficou-me o fascínio pela magia da frase editada, que ganha, numa lógica
inversamente proporcional, clareza à medida que vai perdendo palavras.
E já que estamos a falar dos 25 anos do Público, não posso
deixar de lembrar que trabalhei com pessoas que nunca se pouparam, em generosidade
e disponibilidade, a ajudar e ensinar alguém que vinha de outra escola (para
ser sincero, sempre tive a sorte de trabalhar com pessoas assim). Ajuda
preciosa, para quem tinha de enfrentar os altos padrões de exigência (assim o
recordo) de José Vítor Malheiros, diretor do PUBLICO.PT, uma espécie de (e
agora vou entrar num domínio que me é particularmente familiar: as más
analogias) J. K. Simmons no filme whiplash, embora nem nós
fôssemos génios nem ele recorresse a métodos eticamente questionáveis para
tirar o melhor de nós. Mas intimidava. Como, se calhar, toda a exigência.
Também tive desilusões. Vi uma profissão com o rei na
barriga, que exerce o enorme poder que tem com pouca humildade (a humildade que
impede formar certezas com pouco; humildade para o exercício da auto-crítica).
Mas, dizia eu, aposto que não vai faltar quem aproveite o pretexto dos 25 anos do Público para falar de si. Típico.
Sem comentários:
Enviar um comentário