5.3.15

O Público faz 25 anos


Alimento (quase que ia dizendo nutro) uma certa irritação por aquelas pessoas que aproveitam a celebração de um qualquer acontecimento para, olhando para o seu umbigo, falarem mais de si do que do outro. Morre alguém e logo o facto se converte em pretexto para recordar aquela vez muito especial em que o homenageante privou com o homenageado, insinuando-se, embora  involuntariamente, na sua  importância. O sublinhar do sucesso de um ou das qualidades humanas de outro mais parecem servir para fazer levitar, por instantes, o estatuto do sublinhador.

Isto a propósito dos 25 anos do Público de hoje. Ora eu estava lá. Comprei (compraram-me) o primeiro número. Dez anos mais tarde, foi na versão eletrónica deste excelente jornal que eu, pelo breve instante de um ano e quatro meses, tive o meu primeiro trabalho. E privei, claro, embora muito menos do que possa parecer. E aprendi muito, mas mesmo muito, como aspirante a jornalista que nunca cheguei verdadeiramente a ser. Principalmente a escrever. Não escrevia bem. Nem posso dizer que o faça agora. Mas escrevo muito melhor do que antes de ter passado por lá. Ficou-me o fascínio pela magia da frase editada, que ganha, numa lógica inversamente proporcional, clareza à medida que vai perdendo palavras.

E já que estamos a falar dos 25 anos do Público, não posso deixar de lembrar que trabalhei com pessoas que nunca se pouparam, em generosidade e disponibilidade, a ajudar e ensinar alguém que vinha de outra escola (para ser sincero, sempre tive a sorte de trabalhar com pessoas assim). Ajuda preciosa, para quem tinha de enfrentar os altos padrões de exigência (assim o recordo) de José Vítor Malheiros, diretor do PUBLICO.PT, uma espécie de (e agora vou entrar num domínio que me é particularmente familiar: as más analogias) J. K. Simmons no filme whiplash, embora nem nós fôssemos génios nem ele recorresse a métodos eticamente questionáveis para tirar o melhor de nós. Mas intimidava. Como, se calhar, toda a exigência.

Também tive desilusões. Vi uma profissão com o rei na barriga, que exerce o enorme poder que tem com pouca humildade (a humildade que impede formar certezas com pouco; humildade para o exercício da auto-crítica).  

Mas, dizia eu, aposto que não vai faltar quem aproveite o pretexto dos 25 anos do Público para falar de si. Típico.

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