15.6.15
Os sapatos dos outros
Não sei o que me deu para ler isto. Quer dizer, sei (uma
filha que acaba de fazer o exame do 4.º ano). E nem é sequer a questão de
defender a manutenção dos exames. É - e isto não é um exclusivo da esqueda ou
da direita, de gente mais ou menos inteligente - este narcisismo que leva
pessoas a defenderem uma ideia, uma política, com base na sua experiência
pessoal. Isto parece fazer sentido mas não faz. É como as mulheres que nunca
foram nem se sentiram discriminadas e lestas concluem não existirem problemas a
este nível; ou aqueles que singraram profissional e academicamente, apesar das desvantagens
do contexto, para logo concluírem que estas não condicionam (lembro-me vagamente
do caso recente de um articulista do observador); ou ainda aquela inteligente blogger que
refutava há não muito tempo a pertinência de uma regulação do piropo, baseando-se
largamente no seu percurso pessoal. Não se trata de desvalorizar o eventual mérito
ou resiliência destes. Antes pelo contrário. Mas apenas recordar que em qualquer
um dos casos apontados a lei devia, em primeiro lugar, proteger os mais fracos.
E para este efeito interessam pouco as histórias dos vencedores.
1.6.15
Notar defeitos onde, muito provavelmente, só há virtudes
Criticar é bem mais fácil do que fazer, já dizia uma antiga professora minha. Por isso fico-me, por regra, pela crítica. Este anúncio é querido e a mensagem atual e pertinente. As crianças são crianças e os seus sonhos os seus sonhos (homenagem ao "the wire"), independentemente dos pais. E isso não as distingue entre elas. Não se nota. Bom verbo. E as crianças são crianças e os seus sonhos são os seus sonhos, independentemente das suas diferenças. Umas ciganas, outras de pele branca, outras de pele negra, umas adotadas, outras com vih. E isso também não se nota, como se pergunta retoricamente no final do vídeo. Bom verbo. Mas algumas destas características notam-se, ou podem notar-se. Ao olhar. E é também isso que precisamos de aprender. Que, apesar de se notar, ou de se poder notar, não só não tem qualquer problema como é a nossa maior riqueza. Esta diversidade. E, nesta perspetiva, o tal verbo não me parece brilhante.
Todas as Crianças from Dia de Todas as Crianças on Vimeo.
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