23.11.15

Memórias da FIS

A Maria João Pires recorda no facebook o tempo em que a FIS amedrontava muita gente. Particularmente em França (isto na Europa). Datam de meados (início de meados) dos anos 90 alguns dos seus atentados em Paris. Uma cidade onde, nessa altura, era bem visível o patrulhamento policial (na minha memória, eram também militares, mas não sei…). Também associo a esse tempo o fim dos caixotes do lixo em muitas ruas de Paris. Claro que pode não ter nada a ver. O que tem a ver é a seguinte história, para a qual não ganhei para o susto. Meados dos anos 90. Paris patrulhada por militares (pelo menos na minha cabeça), impossível encontrar um caixote do lixo sem estar fechado, recordando, pelo menos a quem tem frequentemente lixo para pôr em caixotes (um guardanapo de um crepe com chocolate, por exemplo), que o medo de atentados está bem presente. Eu adolescente a ir ao cinema. Eu com ar de magrebino na proporção inversa do número de vezes que vou ao barbeiro cortar o cabelo. O filme interrompido subitamente passados poucos minutos do seu início. Polícias (talvez fosse só um mais o segurança) que entram na sala à procura de algo. Eu a temer, por instinto medroso, ser confundido com esse algo. Eu a ser, naturalmente, confundido com esse algo. Pedirem-me, com modos assertivos, se tenho o meu billet. Eu não querendo ser confundido com um terrorista, lançando o meu billet de identidade para as mãos do polícia. Ele a corrigir o óbvio: quer o meu billet do cinema e não a minha carte d’identité. Eu, toldado pelo medo (não sei se já dei a entender que fiquei com algum receio…), demoro a perceber, Eu finalmente a corresponder ao que me é pedido. Ele a observar o meu billet por um segundo, devolvendo-mo de seguida, perante o olhar (desconfiado, prescrutador, interrogativo, etc., olhar) dos restantes espetadores. Eles a irem-se embora. As luzes a voltarem a apagar-se. O filme a recomeçar. Não me recordar de mais nada. Exceto eu ainda a tremer ao sair do cinema e consciente de ter ganho uma história do caraças para contar aos meus amigos. Eu sei que é de umbigo e comezinho mas esta é a primeira coisa de que me lembro quando oiço falar na FIS.


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