30.6.24

Por falar em bonecos...

...estou há uma horas a sentir o abalo deste extraordinário livro sobre a separação de famílias aquando da divisão das coreias. Um livro sobre isso mas que não se resume a isso. Fala sobre este período histórico, mas para nos falar também sobre a força e a exigência do amor filial; sobre a condição da mulher; sobre solidariedade. Tudo com enorme sensibilidade e humanismo. E, embora discreto, muito humor. De Keum Suk Gendry-Kim e belissimamente traduzido por Yun Jung Im. Ahah, pareceu-me engraçada a minha incompetência para este último apontamento. Mas apenas porque sou tolo. Não será preciso gostar de kimchi para apreciar a palavra nesta obra, e a sua feliz combinação com cada traço (e diria que onde as palavras são mais raras, como quando há bonecos, a importância da palavra certa cresce). 


28.6.24

The end

O outro pequeno livro foi o Trilogia do Jon Fosse. Gostei muito. Também gostava que houvesse uma livraria que organizasse as obras pelo tamanho. Não raro, começo a procura de um livro por um "olha, que livro com menos de 200 páginas vou ler agora...". Se calhar foi por tê-los lido quase um a seguir ao outro, mas achei que havia qualquer coisa que ligava, no estilo da escrita, Fosse e Strout. Certo de que alguém o notara antes, fui ao google. Nada. Ausência de resultado que pode querer dizer zero ou oitenta. Mas em princípio quer dizer zero.

Rentabilizar

Gabei-me de ter lido dois livros de Elizabeth Strout. E coibi-me de dizer que foi de rajada (não sei se não embirraria com este "de rajada" se eu fosse o outro; embirraria, sim). Também não disse que tinham os dois menos de 200 páginas. Os últimos livros que li, tinham, penso agora, todos menos de 200 páginas (e letra grande e capítulos pequenos). Com exceção de um, que tinha muitas, muitas mais. O magnífico livro da Kate Beaton. Mas é de bonecos. 


Treino

Li recentemente dois livros da Elizabeth Strout. Aproveito para divulgar, pois não é todos os dias que me posso gabar de ler livros, mesmo que pequenos. Num deles, a personagem de Strout, Lucy Barton, diz que percebeu que a relação com o namorado estava condenada desde o momento em que fez um comentário que a irritou. Não foi exatamente assim, mas foi parecido. Sou muito sensível a estas irritações determinantes. Pela minha parte, adoro olhar-me ao espelho e ver um modelo de compreensão e tolerância. Mas, não raro, basta um comentário, um pequeno gesto ou observação casual para retirar ilações que gravo, sem apelo nem agravo (gravo... sem agravo...) na pele dos meus interlocutores. Também faço isto com amigos e conhecidos. Sendo, por isso, fundamental seguir a máxima de Franzen, que, muito apropriadamente, o Público publicou (o público publicou...) ontem. Confio que os meus amigos e conhecidos também leiam o Público.