31.3.09

As capas da imprensa de hoje

Frederico Gil é o mais bem sucedido perdedor de Portugal.

A difícil aprendizagem da democracia (ou lei penal ≠ lei fiscal)

"O inimitável Augusto Santos Silva explicou este fim-de-semana que isso seria intolerável, porque representaria a "inversão do ónus da prova", um pormenor que não preocupa os serviços fiscais mas incomoda todos os políticos que, na Assembleia, votaram contra a proposta do socialista João Cravinho que introduzia na lei portuguesa essa figura jurídica". José Manuel Fernandes, em editorial do Público de ontem.

ps: creio que a questão da inversão do ónus da prova também incomodou os autores daquele inimitável texto da Declaração Universal dos Direitos do Homem, nomeadamente quando escreveram o seu inimitável artigo 11.º.

Momento auto-crítico

Este blog não está nada mal servido de títulos pomposos (e pressinto que vem aí outro já a seguir).

A difícil aprendizagem da democracia

"Não posso ter a certeza absoluta que Sócrates não é culpado".

Luís Osório, hoje de manhã, no RCP.

Flying Circus

“Santana Lopes está prestes a fechar o acordo com Paulo Portas para irem juntos em Lisboa, mas a sua grande prioridade é, a partir de agora, jogar à esquerda”. Expresso, de 28 de Março de 2009.

Sem vir isto a propósito de algo em concreto mas

não gosto de editoriais não assinados.

Regresso aos clássicos, numa das mais belas criações sobre a paternidade

Chico Buarque - O Filho que eu quero ter


Letra de Vinicius e música de Toquinho

30.3.09

Perfil do Provedor de Justiça


Sintonizado no Rádio Clube Português, oiço a agora deputada não inscrita Luísa Mesquita dizer que ainda não foi contactada por qualquer partido para discutir o perfil do futuro Provedor de Justiça. Ora, há aqui um equívoco que importa esclarecer (ou sobrepujar, como queiram): o perfil do Provedor de Justiça está definido no seu estatuto: “A designação recai em cidadão que preencha os requisitos de elegibilidade para a Assembleia da República e goze de comprovada reputação de integridade e independência.” (n.º 2 do artigo 5.º). E estes deveriam ser os únicos critérios a orientar a escolha do provedor. O que sobra para discutir são mesmo os nomes.

Diálogos imaginários

No pediatra, um pai com o filho bebé com uma valente bronquiolite:

- Então, vou receitar-lhe Ventilan, Atrovent, Celestone (em caso de emergência) e, para o nariz, muito soro e Biopenthal.
- É tudo, Dr.?
- Já tem um blog?
- Uh!? Não.
- Então vou receitar-lhe um. Para ter com que entreter o espírito nas longas horas em que estiver com o bebé ao colo de madrugada. Pode ser Blogger, Sapo ou Tubarão Esquilo (lamento, mas não há genérico). Tem preferência?

Política Justa

Respeito pelo adversário político
“A experiência da sua adversária política, Maria Emília, a actual presidente [da Câmara Municipal de Almada], que se recandidata e a quem o candidato socialista reconhece a empatia que cultivou com os munícipes”

"(…) e até deixa o elogio à sua principal adversária: ‘quem geriu Almada nos últimos anos deu o melhor de si’. Porém, considera que ‘o filão está esgotado’".

Críticas
“A presidente da autarquia comporta-se como uma governadora da cidade que mantém uma relação desconfiada com o dinamismo económico e avessa à economia do investimento”

“A cidade não potenciou a circunstância de beneficiar, relativamente a Lisboa, ‘de um diferencial de preços’ que deveriam servir como factor catalisador”

“Pedroso critica o planeamento urbanístico de ‘uma cidade partida’ e ‘com um centro moribundo’, onde a população vive de ‘costas voltadas’ e ‘temerosa do seu vizinho’

Quatro prioridades
- Animação do centro urbano e compatibilização da rede de transporte;
- Reforço das condições de segurança e prolongamento da cidade a todo o concelho;
- Reconquista do rio e do mar;
- Maior atenção à política social local.

As citações são de Paulo Pedroso, candidato do PS à Câmara Municipal de Almada (Expresso, 28 de Março de 2009)

Tão diferente disto.

29.3.09

Era uma vez

Era uma vez
um conde e um bispo
passaram p'la ponte
não sei mais que isto.

Rita Andrade / texto tradicional, in Sementes de Música para bebés e crianças, 2008 (Caminho)

É urgentemente urgente fazer qualquer coisa


Este pequeno vídeo recorda-nos uma conclusão dramática: o planeta só tem sobrevivido graças à pobreza da maioria da sua população. Como ali se diz , se todos os habitantes do planeta vivessem como um europeu médio, precisaríamos de três planetas; se vivessem como um norte-americano médio, precisaríamos de cinco. Quer isto dizer que a ajuda, cada vez mais urgente, das economias mais ricas aos países menos desenvolvidos se deve fazer a par de um investimento sem precedentes em políticas de protecção do ambiente. Como o exemplo da China e da Índia no-lo (uau!) mostra.

28.3.09

Porque é que ter este blog é importante?

"Porque é que escrever é importante? Suponho que é sobretudo uma manifestação de egotismo. Porque quero ser essa 'persona', uma escritora, e não porque exista qualquer coisa que eu tenha de dizer" (Reborn: early diaries 1947-1964, de Susan Sontag, citado na Ípsilon, de 27-03).

Hora do Planeta

Hoje janta-se à luz das velas.

Mais uma inquietação democrática para a mesa 5, s.f.f


Tenho algumas dúvidas se é líquido dizer, como aqui, que, verdadeiro ou falso, isto seria investigado em qualquer país do mundo. Pelo menos em qualquer estado de direito do mundo. Também admito que o contrário não seja verdade. A única certeza que tenho é que nenhuma posição que se adopte sobre o assunto “é clara”, como parece pensar o Daniel Oliveira. Dos dois lados da balança (olha, outra vez a balança) desta questão existem princípios e direitos que devem ser assegurados. De um lado, a preservação do bom nome de José Sócrates, como qualquer cidadão, bem como a salvaguarda da idoneidade de qualquer investigação e da presunção de inocência; ainda deste lado da balança, a garantia que o chefe de Governo não é atingido por meios facilmente manipuláveis (duvido muito que um qualquer dvd ou cd onde se ouve uma voz a dizer que este ou aquele é corrupto ofereça garantias mínimas de veracidade). Do outro deste prato, um dos princípios estruturantes de uma sociedade livre, o da liberdade de informação. Algum destes princípios é mais importante? Não sei responder. O que temos assistido nestes últimos anos é que a tentativa de compatibilização destes princípios em conflito não se parece fazer sem que um – ou alguns - deles seja esmagado, o que é inaceitável. Como sobrepujar (a ah, Vital Moreira) este dilema, desconheço, mas como diria uma professora que tive em tempos, isto da democracia é algo que requer uma permanente aprendizagem.

27.3.09

When you dream, when you dream...

Desde que postei isto e isto que ando a precisar de pastilhas para a garganta.

Se não querem a coligação bastava dizê-lo

Ontem, no evento destinado a anunciar as listas da CDU às próximas eleições autárquicas, Ruben de Carvalho, actual vereador municipal e António Modesto Navarro, deputado na Assembleia Municipal de Lisboa, comentaram assim a actual gestão de António Costa à frente da Câmara Municipal de Lisboa:

"Vem aí um inimigo do poder local"
“Uma nulidade clamorosa no essencial”
Perigo diário para a cidade”
"Não sabem [António Costa e Sá Fernandes], nem sonham, nem querem saber do que deve ser o poder local democrático em Lisboa"

Estou cansado. Talvez por isso estas palavras que Ruben de Carvalho dirigiu ao responsável socialista à frente da Câmara de Lisboa me tenham incomodado tanto. Porque o exercício do jogo democrático deveria ser feito de outra forma. Com mais respeito. Sobretudo pelas ideias de quem pensa politicamente de forma diferente. Este respeito, que nada tem a ver com o respeitinho, é inerente ao exercício do jogo democrático, que tem necessariamente diferentes actores com perspectivas diferentes de como gerir a coisa pública. Respeito pelas leis mas também por todos os eleitores que optaram por confiar o seu voto nas forças políticas visadas pelas suas críticas. Esta forma de tentar vingar no debate político por via da desconsideração e do achincalhamento dos adversários políticos só prejudica, a breve e a longo prazo, a democracia.

Curioso é que, no final da notícia que deveria ser dedicada à apresentação das listas da CDU às próximas eleições autárquicas, fiquei sem saber quais as medidas em concreto que Ruben de Carvalho critica na gestão camarária, nem quais as suas propostas para a cidade.

25.3.09

Dramas da crise


O crescimento de 10% dos pedidos de asilo no mundo industrializado, não por causa da crise mas devido ao agravamento dos conflitos, que, em 2008, aumentaram cerca de 30% em todo o mundo. Este cenário é particularmente preocupante se, em época de crise económica profunda, os países industrializados se tornarem menos receptivos a estes pedidos, tentação que deve ser activamente combatida. Vale, pois, a pena recordar os fundamentos para a concessão do direito de asilo (em Portugal, neste caso):

1 - É garantido o direito de asilo aos estrangeiros e aos
apátridas perseguidos ou gravemente ameaçados de perseguição,
em consequência de actividade exercida no Estado
da sua nacionalidade ou da sua residência habitual em favor
da democracia, da libertação social e nacional, da paz entre
os povos, da liberdade e dos direitos da pessoa humana.

2 - Têm ainda direito à concessão de asilo os estrangeiros
e os apátridas que, receando com fundamento ser
perseguidos em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou integração em certo grupo social, não possam ou, por esse receio, não queiram voltar ao Estado da sua nacionalidade ou da sua residência habitual.

Para desfazer equívocos que, inadvertidamente, possa estar a alimentar

Este blog não é da Sophia de Mello Breyner Andersen.

Mau sinal

Quando, ao telefone, a assistente da pediatra precisa apenas de uma fracção de segundo para nos identificar pela voz.

E por falar em grandes finais... (II)

Dos primeiros anos da minha adolescência, recordo este como um dos preferidos (e não posso jurar que não tenha havido uma lágrima ou outra):

24.3.09

E por falar em grandes finais...

Californication

"At the end of the day, it's all about her".
Começou assim-assim; acabou em grande a segunda época.

Provedor de Justiça


Quem quiser saber para que serve o Provedor de Justiça, como é que os portugueses têm usado este direito ou qual a eficácia da sua intervenção deveria ler o estudo “O exercício do direito de queixa como forma de participação política”, da autoria de Meirinho Martins e Jorge de Sá, disponível aqui. Estas e outras vertentes deste direito são detalhadamente analisadas nesta obra, cujas conclusões contrariam em muito a leitura precipitada que aqui se fez, a partir do relatório da provedoria relativo a 2007. A isto espero voltar.

Adenda: vale, no entanto, muito a pena seguir a interessante discussão na caixa de comentários deste post do Blasfémias, entre o seu autor (PMF) e o Pedro Delgado Alves

23.3.09

E não sou eu dado a música nem a outras pops

Se soubesse, gostaria de colocar neste blog este excelente "recado", d'«os quais», a banda de Jacinto Lucas Pires. Não sendo o caso, posso apenas lincar para aqui. É a segunda faixa.

Política mundana

Medina Carreira e António Barreto contam-se entre as vozes mais pessimistas sobre a forma como se faz política hoje em Portugal. Um dos pontos vista que partilham é o do mau funcionamento do sistema parlamentar, nomeadamente por responsabilidade dos partidos políticos (ver artigo de Barreto no Publico de domingo passado). Advogam por isso uma visão mirífica do papel do Presidente da República, que deveria, assim, ver os seus poderes reforçados. Na base deste entendimento está uma desconfiança sobre o funcionamento da democracia dos partidos, dominada pela política comezinha do dia-a-dia. Curiosamente – ou talvez não – o Presidente surge, aos seus olhos, como imune a esta tentação da política mundana. Como figura que actua acima – e não ao lado – dos partidos e dos seus interesses. Se alguma coisa a história nos mostra, é que a Presidência serve igualmente para fazer política e que o mito do presidente asceta é isso mesmo, um mito. Foi o que aconteceu por cá e também no berço do semi-presidencialismo, a V República francesa. Também De Gaulle via no reforço dos poderes presidenciais a forma de superar as pechas do parlamentarismo; o Presidente, idealizado como figura tutelar do regime; De Gaulle e Michel Debré chegaram a ponderar que o mandato presidencial fosse único, de dez anos, de forma a prevenir quaisquer tentações mundanas para se fazer reeleger. Ora, o mínimo que se pode dizer é que a experiência da V República – de De Gaulle a Mitterrand, de D’Estaing a Chirac – nos mostra que os presidentes são políticos iguais aos outros, para o bem e para o mal. Eu diria é que a mundanidade da sua política foi mais bem mascarada.

22.3.09

Política justa

Ministro da Cultura vai analisar críticas de Carrilho

Voto de congratulação

Pela abolição da pena de morte em mais um estado norte-americano (já "só" restam 35), conforme se assinala aqui. A razão para a decisão do governador do Novo México deveu-se não a uma oposição de princípio (Bill Richardson admite ser em teoria favorável à pena de morte) mas ao facto de não confiar no funcionamento da justiça criminal estadual quando se trata de decidir quem deve morrer pelos crimes que cometeu. Ainda que considere que o argumento decisivo contra a pena de morte assenta numa base filosófica, este é uma entre as várias razões invocáveis contra a injustiça desta pena.

21.3.09

Step Right Up

Contradições


A insistência de Manuela Ferreira em indicar o nome do futuro provedor de Justiça, por entender que esta esolha deve caber à oposição, não é um pouco contraditória com a convicção de que vai ganhar as próximas eleições?

18.3.09

Trapalhices

Escreve Francisco José Viegas, na crónica de ontem do Correio da Manhã, reproduzida aqui:

O ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, anunciou em Cabo Verde que o Acordo Ortográfico entraria em vigor, em Portugal, no segundo semestre de 2009. No Brasil já está na rua: os jornais já se publicam com a «nova ortografia» e começam a ser distribuídos os primeiros manuais escolares especificamente dedicados à ortografia. Acontece que, em Portugal, há um abaixo-assinado para reenviar a lei ao Parlamento. Ao ultrapassar as cem mil assinaturas, esta petição pública obriga os deputados a reapreciar toda a lei. De modo que o anúncio da entrada em vigor do Acordo pode ser uma má decisão política (...)

Muito sinceramente, gostaria de saber onde é que Francisco José Viegas, autor que respeito e admiro – foi buscar a ideia que o Parlamento vai ter de reapreciar a resolução (não a lei) que aprova o Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa? E de onde é que vem o número das cem mil assinaturas? A Lei do Exercício do Direito de Petição apenas confere aos peticionários um direito a um procedimento, que se traduz na exigência de que a petição seja apreciada, ponderada, e o resultado desta vertido num relatório final. Nunca dá lugar a qualquer deliberação ou votação. Aliás, a lei proíbe-o expressamente. Ou seja, uma petição nunca dá origem a qualquer processo legislativo, nem pode obrigar os deputados a reapreciar qualquer acto que seja. Quando muito, pode sugerir ou propor a adopção de determinadas medidas (sendo esta a sua principal função enquanto direito de participação política) mas não há qualquer direito a uma deliberação, em sentido favorável ou desfavorável.

Quanto às assinaturas, para além da audição dos peticionários, a lei apenas prevê que, acima das quatro mil assinaturas, as petições devem ser obrigatoriamente discutidas em plenário. Isto é, o objecto da petição é sujeito ao contraditório político mas, volto a insistir, sem que haja lugar a qualquer tomada de posição formal.

Reparo, entretanto, que Vasco Graça Moura, em crónica do passado dia 4, repete, como ele diria, as mesmas trapalhices.

17.3.09

Joga bosta na Geni

Correndo o risco de cometer uma daquelas heresias - a da comparação abusiva -, ver, por esse mundo fora, tantas e tão importantes empresas, antes tão prontas a denunciar o Estado almofada/prestador/garantístico, agora de mão estendida a pedir ajuda a este mesmo Estado, faz-me lembrar a forma como o povo tratava a Geni, naquela música de Chico Buarque. Numa outra versão, para certas pessoas o Estado passou de besta a bestial, até ao dia em que voltará a ser a besta.

Realidade virtual

Perguntam-me se já pus o sitemeter. Acabei, ainda que com algumas reservas – será que queria mesmo saber que quase ninguém me lê? -, por registar-me no tal medidor de sites. Estava, por isso, à espera do pior. Mas não estava preparado para isto:

Será que sonhei que fiz um blog?

16.3.09

A estabilidade de Cavaco

Tendo em conta o que aqui escrevi, não admira que Cavaco espere que, das próximas legislativas, saia um governo de maioria relativa do PS. Bom para Cavaco, mau para o país.

15.3.09

Um post sobre a disciplina de voto

Mais uma crónica, desta vez na Visão, sobre Manuel Alegre. Enaltece-se o seu inconformismo, liberdade de espírito, o não deixar-se amordaçar pela força da maioria absoluta do seu partido. Compreendo que, sobretudo num tempo que cultiva uma certa menorização dos políticos, estas características sejam bastante sexy (como diria, com piada, um amigo). O que tenho mais dificuldade em compreender é que muito raramente se reflicta sobre o que está no outro prato da balança, nomeadamente a disciplina de voto. É que sem esta dificilmente um partido consegue pôr em prática o programa que submeteu ao escrutínio eleitoral. De igual modo, a sua ausência dificulta a responsabilização de um partido pelas políticas adoptadas, não lhe sendo reconhecida a capacidade para determinar o sentido de voto dos seus deputados. Qualquer reflexão sobre este assunto deverá, necessariamente, passar por uma ponderação destes (e de outros) aspectos, independemente da conclusão a que se chegue. Enfim, importa lembrar que se houve momentos na história parlamentar nacional em que a não submissão de um deputado à disciplina de voto poderá ter revelado coragem política e inspirado admiração, também é verdade que permitiu os queijos limiano. E talvez devêssemos pensar no seguinte: quereríamos mesmo um parlamento em que todos fossem indisciplinados partidários?

14.3.09

E o melhor do mundo são as crianças (e são mesmo)

Vamos menos ao cinema, saímos menos à noite, lemos menos, vemos menos telejornais. Até ao dia em que estas coisas voltam mais ou menos ao normal. Enfim, ter filhos pequenos é uma espécie de criopreservação das células culturais.

13.3.09

Poderá isto acontecer a qualquer um?

Oiço de manhã na rádio a notícia da morte de uma criança de poucos meses que o pai se esquecera no carro. Fiquei, como todos, angustiado com o caso. Penso naquele pai e em como será viver com tamanho sofrimento. Leio a notícia e fico a pensar se, do pouco que se sabe, não poderá ter sido este homem uma trágica vítima das circunstâncias: trabalhar ao lado do berçário; a pressa daquele dia; talvez a pressa de todos os dias; toda a espécie de problemas que podem roubar a atenção de uma pessoa. Leio os especialistas dizerem que este homem deverá ter concerteza algum problema psicológico para ter agido daquela maneira. Fico, no entanto, incomodado com tanta certeza. E penso, com um gigantesco nó no estômago, se, verificadas umas quaisquer malditas circunstâncias, não poderia isto acontecer a muitos de nós.

Os poderes do Presidente

Síntese da crónica de hoje de VPV: com Cavaco em Belém, a Presidência não serviu para nada. Este facto é, no entanto, fiel a uma das regras do semi-presidencialismo: a secundarização da presidência quando o Governo, de uma côr política diferente, é apoiado por uma maioria parlamentar confortável. É por isso que há quem considere que, nestas conjunturas, o sistema de governo se torna parlamentar, com o Presidente a desempenhar um papel próximo da irrelevância. Concordo genericamente com a existência de uma tendência de apagamento do papel do Presidente quando o Executivo controla o Parlamento. Porém (porém, no entanto, todavia, contudo), esta tendência pode ser quebrada, haja vontade e, sobretudo, habilidade por parte do PR. Por mais irrelevante que pareça, o Presidente mantém sempre ao seu dispor um conjunto importante de poderes formais, dos quais o direito de veto e o poder de dissolução serão os mais relevantes. Além disso, existem poderes aparentemente insignificantes que, em determinadas circunstâncias, podem ser potenciados. Acresce ainda os poderes informais com que os presidentes podem tentar ganhar influência. A história portuguesa tem disto alguns exemplos, destacando-se a muito glosada magistratura de influência de Soares, de cujo expoente máximo terão sido as presidências abertas. Mas, se olharmos para Leste, para sistemas semi-presidenciais com algumas parecenças com o nosso (Polónia, Bulgária ou Roménia), podemos encontrar muitos outros exemplos de como os presidentes procuraram adquirir influência política, dentro e fora das respectivas constituições.

12.3.09

Formas de Portugal, regionalização e outras coisas que gostava de compreender

Portugal é um pequeno país comparado com os restantes países europeus? Não. E em termos de população? Também não. Esta é uma das conclusões a que chega Manuel Lima, num dos vários exercícios que se encontram disponíveis no muito interessante Formas de Portugal. Manuel Lima foi recentemente considerado por uma revista americana como uma das 50 mentes mais criativas e influentes de 2009, a par de personalidades como David Fincher, Jeff Bezos (fundador da Amazon) ou David Axelrod. O seu mais recente trabalho de investigação está disponível em VisualComplexity.com e consiste numa compilação de centenas de projectos de visualização de redes complexas, em áreas como a biologia, redes sociais, Internet, transportes, etc. Fui espreitar o site e do seu conteúdo apenas posso dizer que é fascinante, embora (ainda, ou assim espero) tenha percebido muito pouco do que lá está.

Voltando ao Formas de Portugal, num outro exercício, este dedicado às divisões administrativas de Portugal, podemos ver que “a distribuição dos distritos portugueses é bastante homogénea, sendo que o maior distrito (Beja) é apenas 4.6 vezes superior ao menor distrito (Viana do Castelo), o que comprova em parte a desadequação à actual estrutura do país, que apresenta uma distribuição da população e do PIB em nada semelhantes”. Esta é, aliás, uma das razões para a necessidade de uma reorganização administrativa do país (e em nome da qual se têm feito alguns progressos, como a aprovação de uma nova lei do associativismo municipal) e, naturalmente, da regionalização.

11.3.09

Futebol de Causas

Este documentário, realizado por Ricardo Antunes Martins, é sobre a Académica e, a partir do caso da final da Taça de Portugal de 1969, no Jamor, reflecte sobre a forma como este clube esteve ligado às questões políticas e sociais que desembocaram na crise de 69 e, de certa forma, constituiram um prenúncio do 25 de Abril. Enfim, I looked at the trailer e fiquei com curiosidade de ver mais.

Chico Buarque (Trocando em miúdos)


Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim

Não me valeu

Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim ?

O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar

As sobras de tudo que chamam lar

As sombras de tudo que fomos nós

As marcas de amor nos nossos lençóis

As nossas melhores lembranças

(...)

10.3.09

Thank you speech


Não posso deixar de agradecer a simpatia de todos os que assinalaram a existência deste blog, como aqui, aqui ou mesmo (quem diria) aqui. Em especial, fiquei sensibilizado com a referência, ainda que em termos excessivamente generosos, feita aqui. A todos, muito obrigado.

ps: um obrigado também ao link para este blog que foi feito aqui

Não sou eu que penso assim, é o povo

“António Costa resolveu suicidar-se, marcando obras para o Terreiro do Paço em ano de autárquicas e apenas meses após as infindáveis obras do túnel do metro na praça terem chegado ao fim. Diariamente, do Marquês para baixo e da 24 de Julho a Santa Apolónia, milhares de automobilistas perdem horas e paciência a contornar o eterno estaleiro do Terreiro do Paço”.

“Na hora do voto, o que os lisboetas vão pensar é simples: este [Santana Lopes] sempre fez o túnel do Marquês; aquele não fez nada, senão acrescentar o caos.”

Portanto, destes excertos da crónica de Sousa Tavares (Expresso de sábado passado) devemos retiramos o seguinte:

1) Um presidente de câmara devia ajustar o timing das intervenções necessárias à cidade em função das eleições;

2) De pouco serve, por exemplo, a um presidente da câmara sanear as finanças do município, saldar uma parte da monumental dívida (herdada) aos fornecedores, regularizar a situação laboral de centenas de trabalhadores em situação precária ou ilegal, se não tiver pelo menos uma obra de betão (quanto maior, melhor) que possa ser usada pelos comentadores da praça para sintetizar o mandato. Infelizmente, o critério do betão parece ser o que ainda prevalece na avaliação que estes fazem dos mandatos políticos autárquicos.

Aprender com as crianças

- Papá, que estás a fazer?
- A fazer a barba, não vês?
- Não, tu estás é a desfazer a barba. Percebes?

9.3.09

Uma vez mais, Obama (e o elogio da franqueza)

Questionado numa entrevista sobre se os EUA e os aliados estão a ganhar a guerra no Afeganistão, Obama responde com um inequívoco "não". Barack Obama continua - agora que é a valer e a posse foi tomada - a surpreender pela franqueza e clareza com que assume as sua posições. Dir-se-á - e com alguma razão, suponho - que não é assim tão difícil reconhecer os problemas herdados dos outros. Difícil é admitir os próprios erros e limitações e só daqui a 4 anos, quando fizer o balanço do seu primeiro (sim, antes do segundo) mandato, é que poderemos ver se Obama é assim tão diferente. Até lá, é justo reconhecer que a forma como Obama explicou e assumiu a responsabilidade pelas várias trapalhadas que marcaram a constituição do seu gabinete não é habitual em política e faz-me antecipar o melhor.

7.3.09

Para quem tem mais olhos que barriga, hi hi hi hi...

* cartaz de 2008
A Monstra é um excelente festival de cinema de animação. Um pouco por acaso, tive a sorte de ter ido a uma das suas primeiras edições (já lá vão uns 8 anos), no teatro Taborda, onde, se não me engano, Jiri Barta e Jiri Trinka eram os homenageados. Este último facto parece ser de pouca relevância mas não é todos os dias que nos surge a oportunidade de escrever o nome de dois mestres da animação checa (saravá, Vasco Granja). Isto a propósito do seu site. O festival, que entretanto se foi profissionalizando, começa depois de amanhã e ainda se encontram em branco partes do programa, como a Monstrinha, dedicada aos mais novos. Com alguma surpresa, acabo por encontrar alguma coisa não no site oficial mas aqui. Já agora, faz algum sentido que a quase totalidade destas sessões seja em horário de trabalho - que têm como alvo as escolas, suponho - e praticamente não haja sessões a horas a que os pais possam ir com os filhos?

6.3.09

Defesa da bipolarização

Imaginemos por um momento que o PS não tinha tido a maioria dos votos em 2005, mas a direita (PSD sozinho ou PSD+CDS/PP). De acordo com a esquerda mais radical teríamos tido, de um modo geral, as mesmas políticas. Agora esquece-se de dizer o que, seguramente, nunca teríamos tido: a lei que descriminaliza a IVG (pois não teria havido referendo); a lei da paridade; a lei da procriação medicamente assistida; o maior aumento do salário mínimo de há muito; uma reforma da segurança social que recusou a ideia de entregar uma parte das reformas aos privados; o alargamento do abono de família; o complemento solidário para idosos; a lei da nacionalidade, que permitiu a legalização de milhares de cidadãos estrangeiros; a nova lei do divórcio; o aprofundamento dos direitos das uniões-de-facto, entre muitos outros exemplos.

Em suma, e admitindo (sem conceder, como se costuma dizer) a leitura que esta esquerda faz da globalidade da governação socialista, seria, se bem percebo, ter aquilo que consideram negativo (e, provavelmente, numa versão ainda pior) sem as políticas com que se identificam. E é com isto que, goste-se ou não, uma parte do eleitorado de esquerda vai ter de se confrontar nas próximas eleições legislativas.

3.3.09

No they souldn't

Compreendo que o desemprego e os seus números constituam um importante activo argumentativo em política. Mas há qualquer coisa que incomoda no indisfarçável regozijo dos que vêm nestas estatísticas apenas mais uma oportunidade para atacar o Governo. Assim como o há na forma como, do lado do poder, se rejubila com as revisões em baixa das projecções económicas internacionais, que servem para mostrar a falibilidade de todas as projecções feitas há uns meses, e não apenas das do Governo. Ou até com a forma como se chama a atenção para a subida do desemprego em Espanha, como se se lançasse para a mesa um poker de ases, indiferente à preocupante situação a que se alude.

Julgo que foi também na recusa desta forma de fazer política que Obama marcou a diferença.

Ainda das animações sobre evolução (ii)

Ainda das animações sobre evolução

Esta é uma verdadeira obra prima.

1.3.09

PS e BE

Infelizmente, julgo que António Costa tem razão quando denuncia a falta de confiança que este BE inspira como potencial parceiro de coligação. Se a experiência na Câmara de Lisboa falhou, não vejo como é que, na actual conjuntura política, pode haver qualquer entendimento duradouro e de sucesso entre os dois partidos. Isto porque o entendimento que havia em Lisboa parecia, a todos os níveis, vantajoso para o BE. Mais, no pouco tempo que durou, parte das medidas lançadas foram da área do seu vereador, Sá Fernandes. Apesar disto, o BE preferiu, ao romper com o entendimento que tinha com o PS para Lisboa, desbaratar este capital político, que podia, legitimamente, reclamar como também seu. Ao invés, optou por trilhar a via do tacticismo com vista ao combate eleitoral de 2009. Ora, se é legítima esta escolha, é também ela que dá razão a António Costa, quando diz que «o Bloco de Esquerda é completamente alérgico a assumir qualquer responsabilidade e riscos de governação". Para quem tantas vezes acusa o PS e o primeiro-ministro de arrogância, esta absoluta falta de resiliência política, esta incapacidade de tolerar a mínima das contrariedades em relação aos compromissos assumidos, é, para mim, a suprema das arrogâncias em política.