26.1.11
Os novos tempos
O individualismo foi, nos dias de hoje, substituído pelo indivirtualismo.
Casamento entre pessoas do mesmo consulado
É sempre surpreendente verificar como é que o senso comum, ou o senso feito do saber comum, pode andar tão distante da verdade. Como tão bem prova este texto de Isabel Moreira. E de repente, o que antes parecia errado, passa a estar certo. E vice-versa. Viva o conhecimento.
Obamas's cunning plan
"By playing this rope-a-dope, Obama has positioned himself well to push back hard against the conservative agenda. Having refused to offer Republicans the cover they crave for “entitlement reform,” while offering his own modest, reasonable-sounding deficit reduction measures, he’s forcing the GOP to either go after Social Security and Medicare on their own—which is very perilous to a party whose base has become older voters—or demand unprecedented cuts for those popular public investments that were the centerpiece of his speech. Either way, in a reversal of positions from the last two years, Obama looks like he is focused on doing practical things to boost the economy, while it’s Republicans who are talking about everything else. Boring it may have been, but as a positioning device for the next two years, Obama’s speech was a masterpiece."
Aqui.
Aqui.
Como nasceu o mais conhecido festival de BD da Europa
A história contada aqui. Aos quadradinhos, evidentemente. Très cool.
Não ficará para a história mas esta é uma das razões por que gosto (cada vez mais) de Obama
"Several Democrats, speaking on condition of anonymity, expressed disappointment that Obama didn’t capitalize on the good will after his moving memorial speech in Tucson days after a gunman shot Rep. Gabrielle Giffords (D-Ariz.) and killed six bystanders. Obama acknowledged her empty chair but he quickly pivoted to maintaining America’s capacity to compete economically against other countries." (here)
25.1.11
Tenho muito para dizer sobre tanta coisa mas já tantos o disseram antes de mim. Links
Ando há tempos para dizer qualquer coisa sobre o novo Acordo Ortográfico. Qualquer coisa como esta.
Cidadania
A candidatura de Fernando Nobre foi, do meu ponto de vista, um desastre. Demagogia, populismo e arrogância. Julgo que, com isto, terá afastado mais eleitores do que atraído. Mesmo assim, teve 14,1% dos votos, representando quase 600 mil eleitores, que, imagino, procuram soluções políticas (Políticas) que não se esgotem nos partidos políticos. Do meu ponto de vista (ponto de vista 2, na minha opinião zero), a Presidência da República será o cargo electivo onde estas chamadas candidaturas cidadãs, ou independentes, podem fazer mais sentido. E eu até gosto muito de partidos políticos. Concluindo. Se uma candidatura como a de Nobre teve o resultado que teve, só posso imaginar como teria sido com uma candidatura com outra nobreza.
Pop
A prova de que a vida não precisa da música pop para nada está nos filmes do Woody Allen.
Pelo canto do olho
Ainda no outro dia fazia aqui um apelo à reedição da tradução de "Soldados de Salamina", do incrível Javier Cercas. Hoje, pelo canto do olho, pareceu-me ver na RTPN o escritor João Tordo a fazer-me pirraça com este mesmo livro de Cercas na mão. Tirei o mute e ainda fui a tempo de o ouvir dizer que considerava Javier Cercas o mais fascinante escritor espanhol contemporâneo e que "Soldados de Salamina" foi a obra que mais o marcou nos últimos cinco anos. Fui ao google e vi que João Tordo já falara de Cercas no seu blog, nestes termos. Não ando cá a fazer nada, é o que é.
24.1.11
Mais um insuportável post em que digo como é que acho que a democracia devia ser
Quem se indignou com o que o Governo de Cavaco Silva fez, em 1992, a José Saramago, não pode deixar de pensar o mesmo sobre o que o Governo francês fez a Céline, retirando-o da lista dos autores incluídos nas Celébrations nationales devido ao seu anti-semitismo. Não pretendo sugerir que ser ateu e anti-semita é equiparável. Quer dizer, até estou, se for para dizer que são posições irrelevantes para avaliarmos a arte, ou a ciência, dos opinantes. Ia para dizer que a democracia confronta-nos muitas vezes com dilemas complexos de superar. Mas nem é o caso (embora o seja naturalmente para muitas outras situações). A democracia obriga-nos é, com muita frequência, a fazer determinadas escolhas que, mais do que outra coisa, custam a engolir, moem no estômago, brigam com as nossas próprias convicções ou, até, com valores perfilhados pelo próprio Estado. Mas isto faz parte. Em nome de determinados valores e, à cabeça, da liberdade da opinião. Mas isto sou eu hoje. Ainda no outro dia acho que pensava algo vagamente diferente, como quando James Watson foi afastado do laboratório em que trabalhava por causa de declarações racistas. A coerência é algo tramado.
Parabéns ou talvez não
Caro Porfírio, para ti é o facto de Cavaco ter prolongado «a disputa eleitoral para dentro do estatuto presidencial, recusando objectivamente ser o presidente de todos os portugueses e escolhendo ser apenas o presidente "dos seus"». Para outros, o facto de Cavaco ter sido eleito com base numa imagem que não corresponde à realidade e, assim, num logro. Tal como eu vejo as coisas, felicitar o candidato ganhador é celebrar a democracia e o processo democrático. Nada tem que ver com a pessoa em causa. Não quero parecer um choninhas do género “ai, eu sou tão democrata” mas considero este simbolismo importante como manifestação de respeito por quem pensa de forma diferente da nossa, nomeadamente todos aqueles que, votando em Cavaco, não partilharão da tua opinião acerca da forma tão pouco democrática como Cavaco reagiu à sua vitória. Dito isto, having said that, subscrevo tudo o que dizes acerca de Cavaco em geral, e sobre a sua declaração de vitória em particular. Em bom rigor, e se estivéssemos numa mesa de café, era a altura para dizer, para que não restassem dúvidas: odeio o Cavaco e tudo o que ele representa. Acho que com isto já ninguém me chama choninhas….
Adenda: Discorda-se numas. Concorda-se noutras. Com ipsis e verbis.
Adenda: Discorda-se numas. Concorda-se noutras. Com ipsis e verbis.
22.1.11
Infelizmente, sem link
A Ipsilon conta, na sua edição de ontem, a história de Romain Gary, o único autor a ter recebido por duas vezes (o dobro das permitidas pelo regulamento) o prémio Goncourt. Para isso inventou um pseudónimo, uma história de vida para este e até entrevistas de um primo que se fez passar pelo dito ao Le Monde. Uma maravilha.
Charada
O dia de reflexão e a reflexão acerca de um post sobre casamentos entre pessoas do mesmo sexo fez-me pensar numa grande piada. Mas não posso contar. Pois é dia de reflexão.
21.1.11
Democracia participativa
E a pergunta em que todos estão, provavelmente, a pensar é: como é possível que, estando prevista na lei desde 2003 (dois mil e três!), o Parlamento apenas tenha recebido uma (uma) iniciativa legislativa impulsionada por cidadãos? Iniciativa, aliás, coroada de êxito, tendo culminado na aprovação desta lei. Curioso número, não?
Gente como nós
Li-a apenas por insistência de um amigo. E ainda bem. Esta entrevista ao ex-inspector da Polícia Judiciária António Teixeira. Dele, apenas conheço o que aqui li mas creio que me reconforta pensar que temos pessoas assim na investigação criminal. Assim tão humanas, quero eu dizer.
"Nem gosto de usar a expressão "matar". Farto-me de dizer isto: o matar é um acto que acontece por força das circunstâncias. É um acto humano, quer queiramos, quer não. Todos somos capazes de matar em determinadas circunstâncias, quanto mais não seja para defender alguém ou a nós próprios. Se me disserem que para ser burlão é preciso ter jeito, admito que sim. Mas matar não é uma questão de jeito. A maior parte dos homicidas mata num momento de arrebatamento, não o premedita. Logo os outros nunca o poderiam prever. Estamos a falar do crime mais grave do nosso ordenamento jurídico mas, curiosamente, vamos às cadeias e estes homicidas são presos exemplares. Esgotaram tudo naquele acto.".
"Nem gosto de usar a expressão "matar". Farto-me de dizer isto: o matar é um acto que acontece por força das circunstâncias. É um acto humano, quer queiramos, quer não. Todos somos capazes de matar em determinadas circunstâncias, quanto mais não seja para defender alguém ou a nós próprios. Se me disserem que para ser burlão é preciso ter jeito, admito que sim. Mas matar não é uma questão de jeito. A maior parte dos homicidas mata num momento de arrebatamento, não o premedita. Logo os outros nunca o poderiam prever. Estamos a falar do crime mais grave do nosso ordenamento jurídico mas, curiosamente, vamos às cadeias e estes homicidas são presos exemplares. Esgotaram tudo naquele acto.".
20.1.11
Última hora
Cavaco propõe alteração constitucional, de forma a acolher o princípio já por ele defendido, de que as eleições (presidenciais, legislativas, autárquicas) se devem realizar, em princípio, no final do mandato, se não houver assuntos candentes e mais urgentes a tratar. É o princípio do "não desvio das atenções daquilo que é essencial". A democracia não seria esquecida. Apenas viria em momento mais oportuno.
Talvez valha a pena esmiuçar aquele argumento de Cavaco
"Nós não podemos prolongar esta campanha por mais três semanas. Os custos seriam muito elevados para o país e seriam sentidos pelas empresas, pelas famílias, pelos trabalhadores, desde logo, pela via da contenção do crédito e pela subida das taxas de juro", declarou Cavaco Silva, durante um almoço de campanha em Felgueiras.
"Arrastar esta campanha mais três semanas, por desviar as atenções daquilo que é essencial, lançaria custos acrescidos sobre todos os cidadãos portugueses. E é por isso que tenho apelado aos portugueses para que não fiquem em casa", completou o candidato presidencial apoiado pelo PSD, CDS-PP e MEP.
Tudo, aqui.
"Arrastar esta campanha mais três semanas, por desviar as atenções daquilo que é essencial, lançaria custos acrescidos sobre todos os cidadãos portugueses. E é por isso que tenho apelado aos portugueses para que não fiquem em casa", completou o candidato presidencial apoiado pelo PSD, CDS-PP e MEP.
Tudo, aqui.
Cada dia que passa, uma nova razão para não votar Cavaco
Democracias
Eu também fico decepcionado com a democracia portuguesa, quando vejo que produziu líderes de partidos políticos que ficam decepcionados com a democracia quando o processo democrático lhes é desfavorável. Não é lá muito democrático, quer-me parecer.
Sim, confundo deliberadamente cargos executivos e não executivos. Por maioria de razão.
«A Presidência da República precisa de ser ocupada por uma pessoa “com conhecimentos e experiência” que ajude Portugal a encontrar um rumo», defendeu, uma vez mais, Cavaco Silva.
A insistência de Cavaco Silva de que a experiência (governativa e no próprio cargo, presume-se) e os conhecimentos constituem uma quase condição para ocupar o lugar está muito longe de estar demonstrada.
Por economia de espaço, vamos até fingir que nem reparámos que a enorme experiência de Cavaco e os seus sólidos conhecimentos económico-financeiros de nada nos serviram nos últimos cinco anos.
A tese da experiência e dos conhecimentos, dizia eu… Se os eleitores americanos tivessem adoptado este critério através da história, Obama nunca teria sido eleito (e não foi por Hillary não se ter esforçado em atirar-lhe isso à cara). Nem Kennedy. Ou Roosevelt. Muito menos Reagan. Ou Clinton, que quando foi eleito não tinha sido mais do que governador de um pequeno estado como o Arkansas. Se os eleitores franceses tivessem adoptado esse critério, não teria havido Mitterrand. Se os eleitores britânicos tivessem seguido esse critério… bem, os britânicos despediram Churchill quando acharam que ele tinha experiência a mais. Se os portugueses se tivessem orientado por esse critério, o próprio Cavaco nunca teria sido eleito primeiro-ministro...
A insistência de Cavaco Silva de que a experiência (governativa e no próprio cargo, presume-se) e os conhecimentos constituem uma quase condição para ocupar o lugar está muito longe de estar demonstrada.
Por economia de espaço, vamos até fingir que nem reparámos que a enorme experiência de Cavaco e os seus sólidos conhecimentos económico-financeiros de nada nos serviram nos últimos cinco anos.
A tese da experiência e dos conhecimentos, dizia eu… Se os eleitores americanos tivessem adoptado este critério através da história, Obama nunca teria sido eleito (e não foi por Hillary não se ter esforçado em atirar-lhe isso à cara). Nem Kennedy. Ou Roosevelt. Muito menos Reagan. Ou Clinton, que quando foi eleito não tinha sido mais do que governador de um pequeno estado como o Arkansas. Se os eleitores franceses tivessem adoptado esse critério, não teria havido Mitterrand. Se os eleitores britânicos tivessem seguido esse critério… bem, os britânicos despediram Churchill quando acharam que ele tinha experiência a mais. Se os portugueses se tivessem orientado por esse critério, o próprio Cavaco nunca teria sido eleito primeiro-ministro...
19.1.11
A Índia (ou o mundo) a vários tons
Gonçalo M. Tavares:
Na Índia, homens velhos que escutámos
durante horas e julgávamos já eternos,
levantam-se, subitamente, e começam a
urinar em plena rua, para cima do lixo
que cães, segundos antes, tentavam mastigar.
Respeito e nojo coincidem estranhamente
no mesmo homem: o mundo não
é claro e depois escuro, o mundo, cada pedaço dele,
é claro e escuro.
E quando um místico urina com displicência ao nosso lado
ensina-nos isso, e outras coisas.
Uma Viagem à Índia, Canto VII, estrofe 21
Furtado ao Porfírio Silva
Coisas simples
"face à la crise, la droite réagit très simplement : elle remet en question l'Etat-providence, réarme la guerre entre les ayants droit de cet Etat-providence et les autres salariés et, à la mondialisation et à ses peurs, répond par le langage de la peur et un discours sécuritaire." En somme, des réponses simples à des questions complexes, un exercice auquel la gauche ne peut, par essence, céder".
Daniel Cohen, presidente do "conseil d'orientation scientifique de la Fondation Jean-Jaurès", citado neste artigo sobre o impasse em que se encontra actualmente a social-democracia europeia.
Daniel Cohen, presidente do "conseil d'orientation scientifique de la Fondation Jean-Jaurès", citado neste artigo sobre o impasse em que se encontra actualmente a social-democracia europeia.
18.1.11
Javier Cercas
Este livro já foi traduzido em português mas, por razões que desconheço, encontra-se esgotado há vários anos e sem perspectiva de reedição. Isto aborrece-me, pois "À velocidade da luz" e "O Inquilino" são dois livros muito bons. E castelhano é uma língua que me chateia, no sentido em que, se já sou lento a ler na língua materna, "peor, muy peor" é o cenário em língua estrangeira de Espanha. Um dia vi uma pessoa a ler este livro na esplanada do café do Parque da Serafina. E era a edição portuguesa. Mas tive vergonha.
Post sem final feliz
Muitos britânicos começam, finalmente, agora a compreender o legado dos doze anos de Partido Trabalhista, nomeadamente ao nível do Estado Social. Só agora, que o governo de direita se prepara para pôr em causa a generalidade dessas medidas.
É fácil antecipar que, um dia, o mesmo venha a acontecer por cá. Que só quando a direita chegar ao poder e começar a desfazer, tijolo a tijolo, o edifício do Estado Social, é que compreenderemos melhor o legado do actual governo (o tijolo do CSI, o tijolo da escola pública de qualidade para todos, o tijolo da Segurança Social pública, o tijolo do SNS, o tijolo da concertação social, etc.).
Aí tudo ficará mais claro. Mas também será tarde demais para voltar atrás.
É fácil antecipar que, um dia, o mesmo venha a acontecer por cá. Que só quando a direita chegar ao poder e começar a desfazer, tijolo a tijolo, o edifício do Estado Social, é que compreenderemos melhor o legado do actual governo (o tijolo do CSI, o tijolo da escola pública de qualidade para todos, o tijolo da Segurança Social pública, o tijolo do SNS, o tijolo da concertação social, etc.).
Aí tudo ficará mais claro. Mas também será tarde demais para voltar atrás.
14.1.11
Pálidas ideias
Carlos Blanco de Morais, constitucionalista, membro da comissão de honra da candidatura de Cavaco Silva e seu consultor para os assuntos constitucionais em Belém, faz hoje nas páginas do Público uma prelecção sobre direito constitucional, nomeadamente sobre os poderes do chefe de Estado.
Dirige-a aos candidatos presidenciais adversários do actual chefe de Estado, que, reclama, “não fazem a mais pálida ideia sobre o que verdadeiramente é a função presidencial”.
Concretamente em relação a Manuel Alegre, critica-lhe o seguinte:
“Se, pelo contrário, estava a referir-se a leis ordinárias, deveria então também saber que, se as mesmas violassem direitos sociais previstos na Constituição, ele [Alegre] não poderia utilizar o veto político (que não é um instrumento de controlo de constitucionalidade), mas sim o sistema de fiscalização junto do Tribunal Constitucional.”
A inevitável pergunta que nos ocorre é, então, a seguinte: quão pálida é a leitura que Cavaco Silva faz dos poderes presidenciais, nomeadamente quando opta por vetar politicamente um diploma por razões de constitucionalidade, como aconteceu no estatuto político e administrativo dos Açores, algo que justificou (em entrevista ao Público) ter sido para manifestar a sua forte discordância “dando a cara e não através de terceiros*”?
* os terceiros, presume-se, são os juízes do Tribunal Constitucional
Dirige-a aos candidatos presidenciais adversários do actual chefe de Estado, que, reclama, “não fazem a mais pálida ideia sobre o que verdadeiramente é a função presidencial”.
Concretamente em relação a Manuel Alegre, critica-lhe o seguinte:
“Se, pelo contrário, estava a referir-se a leis ordinárias, deveria então também saber que, se as mesmas violassem direitos sociais previstos na Constituição, ele [Alegre] não poderia utilizar o veto político (que não é um instrumento de controlo de constitucionalidade), mas sim o sistema de fiscalização junto do Tribunal Constitucional.”
A inevitável pergunta que nos ocorre é, então, a seguinte: quão pálida é a leitura que Cavaco Silva faz dos poderes presidenciais, nomeadamente quando opta por vetar politicamente um diploma por razões de constitucionalidade, como aconteceu no estatuto político e administrativo dos Açores, algo que justificou (em entrevista ao Público) ter sido para manifestar a sua forte discordância “dando a cara e não através de terceiros*”?
* os terceiros, presume-se, são os juízes do Tribunal Constitucional
13.1.11
Círculo vicioso (ou será ciclo vicioso?)
Foi o cigarro do Lucky Luke. O charuto do Churchill. Do Sartre. Do Malraux. O cachimbo do Tati. Em todos os casos, achar-se que a ignorância é a melhor forma de nos protegermos de influências consideradas (e mesmo que sejam) perniciosas. Agora, este caso, relatado aqui, em que a obra de Mark Twain aparece higienizada, sem "niggers" mas com expressões menos ofensivas, como "slave". Parece que assim se contorna o boicote que à obra é movido em muitas escolas americanas e professores (e também os pais) são dispensados de explicar às crianças a complexidade da vida e da história. Um dia, saberemos tão pouco que nem conseguiremos dizer se o que nos foi ocultado é bom ou mau. E aí recomeçará tudo outra vez, suponho.
Para memória futura
No espaço de uma semana, duas excelentes entrevistas a dois dos nossos melhores. Pedro Magalhães e Rui Tavares, esta num registo sobretudo biográfico.
12.1.11
Accountability
Li, com espanto, que Francisco José Viegas apoia petição do Correio da Manhã a favor da criminalização do enriquecimento ilícito. Pelo menos, assim informava um tweet do Correio da Manhã (é um amigo meu que o segue...). Com espanto, pois, há cerca de um ano e sobre o mesmo tema, FJV escrevia isto:
"O pacote sobre enriquecimento ilícito é muito popular e corre o risco de ser aplaudido, de quatro, pela multidão — uma vez que se inclui a excrescência «ilícito», a que em breve bastará cair o «i» inicial para se entrar na paranóia aguardada."
E isto:
"Com o ataque ao enriquecimento ilícito, um justíssimo combate, vêm a inversão ao ónus da prova, a desconfiança permanente transformada em motor da investigação e a quebra dos sigilos profissionais."
E também isto:
"Com a inversão do ónus da prova, essa grande conquista da democracia (é o povo que a pede, suponho), entraremos num admirável mundo cheio de pessoas honestas ou tendencialmente purificadas, em que não haverá mais financiamento obscuro das campanhas partidárias (prometem?), não haverá mais nomeações sem escrutínio e sabatina (prometem?), não haverá mais empresas favorecidas — politicamente — em concursos (prometem?), não haverá mais «vírgulas» nem contaminações de investigações por suspeitas políticas. Seremos exemplares."
"O pacote sobre enriquecimento ilícito é muito popular e corre o risco de ser aplaudido, de quatro, pela multidão — uma vez que se inclui a excrescência «ilícito», a que em breve bastará cair o «i» inicial para se entrar na paranóia aguardada."
E isto:
"Com o ataque ao enriquecimento ilícito, um justíssimo combate, vêm a inversão ao ónus da prova, a desconfiança permanente transformada em motor da investigação e a quebra dos sigilos profissionais."
E também isto:
"Com a inversão do ónus da prova, essa grande conquista da democracia (é o povo que a pede, suponho), entraremos num admirável mundo cheio de pessoas honestas ou tendencialmente purificadas, em que não haverá mais financiamento obscuro das campanhas partidárias (prometem?), não haverá mais nomeações sem escrutínio e sabatina (prometem?), não haverá mais empresas favorecidas — politicamente — em concursos (prometem?), não haverá mais «vírgulas» nem contaminações de investigações por suspeitas políticas. Seremos exemplares."
11.1.11
Já faz vários dias, aliás
A candidatura de Manuel Alegre tem um blog. Alegro Pianissimo.
10.1.11
E porque anteontem foi sábado...
...foi dia de crónica de Pacheco Pereira no Público. Um excelente texto, sobre "a ascenção da demagogia" nos tempos de hoje, ilustrada por três exemplos políticos da actualidade: Francisco Louçã, a petição do Correio da Manhã a favor da criminalização do eriquecimento ilícito e, finalmente, a sede de poder político dos juízes. A não perder.
Livro de reclamações(inhas)
Se calhar é assim mesmo que estas coisas funcionam mas pergunto-me se faz sentido que a revista Ler deste mês pré-publique um excerto do que foi considerado por muitos como o livro do ano , o "Liberdade", de Jonathan Franzen, e se abstenha de informar os seus leitores desse facto na capa.
5.1.11
Cada país tem o escândalo Lewinsky que merece
"O que não se entende é o lamentável comunicado da PR de 23 de Novembro de 2008 onde Cavaco nega peremptoriamente qualquer relação com o BPN... sabendo ele, tão bem como nós, que as acções que tinha eram da SLN, sociedade que controlava o BPN. Esse é o pecado de Cavaco em todo este processo."
Nicolau Santos, no Expresso, citado aqui (via acolá).
Resumindo, Cavaco não teve qualquer relação com o BPN, assim como Clinton não teve "qualquer relação sexual com aquela mulher". Sendo assim, a SLN é..., precisamente.
Nicolau Santos, no Expresso, citado aqui (via acolá).
Resumindo, Cavaco não teve qualquer relação com o BPN, assim como Clinton não teve "qualquer relação sexual com aquela mulher". Sendo assim, a SLN é..., precisamente.
A citação é apenas para fazer um ponto político mas a entrevista vale pelo que nos ajuda a pensar a crise (alerta: sintaxe desta frase desconhecida)
"(...) a verdade é que as linhas gerais de contenção eram inevitáveis, porque temos um compromisso comunitário e seria impensável não o cumprir. O que é criticável não é o Orçamento apontar para o défice que aponta, mas sim que a UE tenha mudado de repente a sua política económica de uma forma que nunca foi completamente explicada. Parece uma austeridade sem grande justificação."
A Europa estava centrada no investimento público.
"E de repente passou para uma coisa completamente diferente. E isso não se pode fazer. Em política económica não se podem fazer essas mudanças sem uma justificação muito grande. Pode dizer-se que a Europa foi apanhada de surpresa pelas crises da dívida soberana. Talvez. Mas isso não deveria implicar fazer o que fez. "
João Ferreira do Amaral, em entrevista ao "i".
A Europa estava centrada no investimento público.
"E de repente passou para uma coisa completamente diferente. E isso não se pode fazer. Em política económica não se podem fazer essas mudanças sem uma justificação muito grande. Pode dizer-se que a Europa foi apanhada de surpresa pelas crises da dívida soberana. Talvez. Mas isso não deveria implicar fazer o que fez. "
João Ferreira do Amaral, em entrevista ao "i".
4.1.11
Notícias sem informação
“Governo insiste na nomeação de vice-procuradores jubilados”, escreve o Público. À primeira vista, compreende-se a chamada de atenção. O estatuto dos magistrados que o Governo apresentou ao Parlamento volta a propor que os procuradores-gerais adjuntos jubilados possam ser nomeados a "título excepcional". E esta proposta tinha sido rejeitada pela Assembleia da República há uns meses. Acontece que, conforme explica a notícia, na altura a polémica prendia-se com o facto de esta norma permitir a continuação em funções de Mário Gomes Dias como braço-direito de Pinto Monteiro (o actual procurador-geral), que já tinha atingido a idade limite para a reforma. Havendo já uma nova vice-procuradora, esta polémica já não se coloca, pelo que seria de esperar alguma informação na notícia sobre o objectivo pretendido com esta proposta, que até serve de título ao artigo. Mas sobre isto, nada. Total ignorância. Nossa e deles, suponho. Por acaso, até já estou esclarecido, pois acabo de ouvir as explicações que o PGR e a vice-procuradora acabam de dar à primeira comissão do Parlamento. Mas não sou jornalista.
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