Incomoda-me um pouco que, espreitando nas redes sociais amigos
e conhecidos (reais ou virtuais), quase todos à esquerda do espectro, se
multipliquem as alusões ao 11 de setembro do Chile, remetendo para um estranho
olvido o 11 de setembro de 2001. Claro que este está por demais presente na
evocação daquele, denunciando implicitamente que o agredido de agora também já
foi agressor (ou cúmplice do agressor). Nem quero perder tempo a demonstrar o asco
que me inspira a ditadura de Pinochet, bem como todas as tentativas, demasiadas
vezes frequentes, de branqueamento/desculpabilização/relativização deste
escabroso regime. Mas a memória hierarquiza. E 40 anos são 40 anos e 12 anos
são 12 anos (ontem, portanto). E Santiago do Chile não me é tão próximo como Nova
Iorque (digo isto. mas não é bem verdade. nem sempre é verdade). E ter vivido (foi quase como estivesse lá) um e não o outro não é
indiferente. E toda a carga simbólica que aquele ataque às torres gémeas significou.
Por aquele espaço ser ícone da cultura ocidental mas, sobretudo, creio, por representar
a falência da invulnerabilidade do ocidente que veio com a guerra fria e com o
que quer que lhe tenha sucedido. O ataque às torres gémeas foi a coisa mais
parecida com um ataque nuclear que vi. Claro que não existe qualquer comparação
com o número de mortes que um ataque nuclear poderia causar mas penso que já
nos habituámos a que (bem ou mal) a nossa emoção não é proporcional ao número
de vítimas. As circunstâncias são tantas vezes (quase sempre) mais importantes
do que os números. Pela mesma razão, os próprios ataques do dia 11 de Setembro
de 2001 não se equivalem. Independentemente do número de vítimas, o 11 de
Setembro não seria o 11 de Setembro sem o ataque às torres gémeas (não raro me
esqueço dos ataques, nesse mesmo dia, ao pentágono ou ao voo 93). E a
vulnerabilidade ganhou contornos de paranóia devido ao mistério, na altura,
sobre a autoria dos ataques. Resumindo: um ataque nuclear vindo sabia-se lá
exatamente de onde ou de quem. E vimo-lo em direto! Onde é que eu ia? Há
qualquer coisa que me incomoda nesta, ainda que desintencional, desvalorização dO
11 de Setembro. Não sei exatamente o quê. Se calhar incomoda-me o facto de me sentir incomodado.
11.9.13
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