Os desafios que enfrentamos nos próximos tempos são
propícios ao surgimento de messias. O
que é trágico, na medida em que não há messias que salve isto. Como, aliás,
costuma acontecer quando há problemas. Vai ser preciso muita perseverança,
temperança, determinança. E a colaboração de muitos para que algo mude (era,
por isso, espetacular que qualquer nova liderança partidária não começasse por
ostracizar, precisamente, os que lhe são mais próximos). A colaboração de
muitos e, já agora, dos cidadãos.
Acho (quer dizer, achamos todos) mais do que preocupante o
nível de alheamento que estes mostram relativamente às instituições políticas.
São chamados a votar de quando em vez e, depois, participam, quando muito, na
amostra de uma sondagem. Participar noutras instâncias da vida da comunidade
também (ou sobretudo) nos educa para a complexidade dos problemas - e
respetivas escolhas - com que se defrontam os poderes políticos.
Penso que um contributo valioso que os partidos - e muitos do
que têm palco para promover a pedagogia política - podiam dar era informar,
apelar e promover a participação política dos cidadãos para além do voto.
A participação em partidos políticos, em sindicatos, em
associações de defesa do património, do consumidor ou da mariquita azul. A
escrever uma petição à Assembleia da República, a iniciar uma proposta
legislativa com um grupo de eleitores. A propor um referendo. A apresentar uma
queixa ao Provedor de Justiça, a exigir o direito à informação à Administração
Pública, a recorrer à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos se for
o caso (custa muito menos do que se pensa). A ir a manifestações. A escrever a
um político ou a um órgão de comunicação social. Etc.
Existem muitas formas de participação na vida pública. Umas
obrigam-nos a lidar com a angústia das escolhas, outras ensinam-nos o valor da
representação, outras pedem apenas que organizemos as nossas ideias, outras
ainda exigem respostas e explicações das instituições.
Campanhas a apelar à participação entre eleições faz tanto
sentido como os apelos para os cidadãos irem às urnas a que já nos habituámos,
contribuindo positivamente para a vida democrática do país. A apelar e a
ensinar como se faz, que isto de saber participar não nasce com as pessoas, tal
como a matemática ou a língua portuguesa.
Cidadãos que participam serão também menos suscetíveis aos
populismos que por aí medram. Parecendo que não, diria que isto tem muito a ver
com a crise que vivemos.