23.3.09

Política mundana

Medina Carreira e António Barreto contam-se entre as vozes mais pessimistas sobre a forma como se faz política hoje em Portugal. Um dos pontos vista que partilham é o do mau funcionamento do sistema parlamentar, nomeadamente por responsabilidade dos partidos políticos (ver artigo de Barreto no Publico de domingo passado). Advogam por isso uma visão mirífica do papel do Presidente da República, que deveria, assim, ver os seus poderes reforçados. Na base deste entendimento está uma desconfiança sobre o funcionamento da democracia dos partidos, dominada pela política comezinha do dia-a-dia. Curiosamente – ou talvez não – o Presidente surge, aos seus olhos, como imune a esta tentação da política mundana. Como figura que actua acima – e não ao lado – dos partidos e dos seus interesses. Se alguma coisa a história nos mostra, é que a Presidência serve igualmente para fazer política e que o mito do presidente asceta é isso mesmo, um mito. Foi o que aconteceu por cá e também no berço do semi-presidencialismo, a V República francesa. Também De Gaulle via no reforço dos poderes presidenciais a forma de superar as pechas do parlamentarismo; o Presidente, idealizado como figura tutelar do regime; De Gaulle e Michel Debré chegaram a ponderar que o mandato presidencial fosse único, de dez anos, de forma a prevenir quaisquer tentações mundanas para se fazer reeleger. Ora, o mínimo que se pode dizer é que a experiência da V República – de De Gaulle a Mitterrand, de D’Estaing a Chirac – nos mostra que os presidentes são políticos iguais aos outros, para o bem e para o mal. Eu diria é que a mundanidade da sua política foi mais bem mascarada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Questionado sobre o segredo da longevidade do seu matrimonio (30 anos)um senhor comentou que o casal adoptou um regulamento amigavel, segundo o qual ELA tomavaas pequenas decisoes (casa, familia, banco, escola, saude, etc) e ELE as grandes decisoes (paz no mundo, crise global, meio ambiente...). Essa tambem eh a diferenca entre a política comezinha do dia-a-dia e a GRANDE politica....