30.9.09

O outro filme é, como é fácil de adivinhar, este aqui


Bem, pelos vistos às vezes esquecemos (e ainda bem)

Quero dizer, não me lembrava da "fantástica" interpretação deste senhor, que até pelo canto do olho dá para ver que o que ele faz é apenas remotamente semelhante com representar. Não é que não goste dele, até porque esteve em dois dos meus filmes preferidos de guerra. Poderia até dizer que é dos meus piores actores favoritos.

Nunca esquecemos a nossa primeira vez...


cinematograficamente falando, desta vez. Para mim, o filme "Doze indomáveis patifes" (afeiçoo-me quase sempre aos títulos em português e este é, sem dúvida, um granda título, tão bom ou melhor do que o original "Dirty dozen") ficou para sempre associado à primeira vez que vi Donald Sutherland. Um actor do caraças.

Informação ligeiramente anacrónica:

este grande filme está, neste preciso momento, a passar no canal da cabo TCM.

Feelings... nothing more than feelings



Havia quem alimentasse a esperança que, face a um governo minoritário, o Presidente da República viesse a desempenhar um papel nevrálgico na construção de pontes e entendimentos com outros partidos com vista à formação das necessárias maiorias. Julgo que o que quer que tenha sido aquilo ontem coloca, muito provavelmente, um ponto final sobre esta possibilidade. Mas é também um pouco da máscara do Presidente árbitro, do presidente moderador que caiu ontem à noite. Nunca se viu um presidente tão abertamente hostil a um governo (ou, melhor dizendo, ao partido do governo). Mais, esta hostilização ocorre num cenário de um provável governo minoritário, condições que podem remeter a coabitação Soares/Cavaco para uma brincadeira de crianças. E se um Presidente pode incomodar um governo de maioria absoluta, pode incomodar muito, muito mais um governo minoritário. Palpita-me que estamos a assistir a um novo capítulo da história do semi-presidencialismo português, que poderá ver, nesta nova coabitação, testados os seus limites.

Síntese da declaração de Cavaco

A Aardman que se cuide

É justo reconhecer que o morph teve, hoje à noite, um concorrente à altura.

29.9.09

Uma delícia este morph

Mafalda


Mafalda faz hoje 45 anos. Ela, que nos ensina tudo o que quisermos, do bem que faz a sopa (e do mal que sabe), ao mal da burocracia; das inúmeras razões para o pessimismo, à secreta esperança na mudança*. Acho que é isto que eu sinto relativamente aos tempos políticos que se avizinham: inúmeras razões para o pessimismo (excruciantemente enfatizado por todos), à secreta esperança na mudança. Bem, agora já não é assim tão secreta, pois não?

*Mariana Vieira da Silva, País Relativo

Se é assim no modelo nórdico, imagino por cá

A missão do jornalista económico era investigar e denunciar os tubarões da finança capazes de provocar deliberadamente crises bolsistas para lucrar na especulação e malbaratar as poupanças dos pequenos investidores, escrutinar as administrações das empresas com o mesmo implacável zelo com que os jornalistas políticos perseguem os mais pequenos deslizes dos ministros e membros do Parlamento. Não conseguira, por mais que se esforçasse, compreender como podiam tantos jornalistas económicos influentes tratar jovens gestores de terceira categoria como se fossem estrelas de cinema.

Stieg Larsson, "Os homens que odeiam as mulheres" (Millenium 01)

23.9.09

O longo rabo da verdade

Numa célebre entrevista já com alguns anos, o líder da bancada parlamentar do PCP, Bernardino Soares, disse não estar certo de que a Coreia do Norte não fosse uma democracia. Para muitos, ter-se-ia tratado apenas de um lapso, mas que não deixava de revelar o conceito de democracia para os comunistas portugueses. Na entrevista que Jerónimo de Sousa deu anteontem aos Gato Fedorento, o líder do PCP foi confrontado com esta questão. Preferia viver na Suécia, Noruega ou Coreia do Norte? Depois de um instante hesitativo, Jerónimo chutou para canto, respondendo que preferiria sempre viver em Portugal. Hábil. Mas não o suficiente para esconder o indisfarçável rabo da verdade: que o modelo "democrático" da Coreia do Norte continua a inspirar admiração na Soeiro Pereira Gomes.

Tácticas de marquês de carabazinho



É muito curioso o afã com que Francismo Louçã tem aparecido a decretar o descrédito e a morte da campanha do PSD (Louçã pede «mentiras novas» aos social-democratas ou «Campanha do PSD morreu hoje à noite», afirma Louçã). Afastado o perigo da direita ganhar, os eleitores de esquerda que balançam entre o PS e o BE deixariam de estar pressionados pelo argumento do voto útil. A eleição já estaria ganha pelo PS, estando apenas em jogo a relação de forças entre este partido e o BE. A táctica é boa, só peca por não ter correspondência com a realidade, conforme atestam as sondagens, que continuam a mostrar uma eleição altamente renhida, nomeadamente (e principalmente) para saber quem ganha. Infelizmente (digo eu), o perigo da direita chegar ao poder continua absolutamente real.

Argumentos que fazem a diferença

"Nem que fosse apenas para defender o Serviço Nacional de Saúde já valeria a pena estar nesta batalha".

Manuel Alegre, em entrevista ao DN.

22.9.09

A estranha impunidade do Presidente da República



Vivemos numa época em que as instituições-chave da democracia representativa têm, na generalidade das democracias ocidentais, procurado novas formas de os cidadãos se relacionarem com os seus representantes. Este esforço tem implícito o reconhecimento de que, desde há algum tempo a esta parte, a democracia representativa não se esgota na eleição dos representantes e que exige que aquela seja complementada com formas de participação dos cidadãos e de prestação de contas regulares durante o exercício do mandato público dos representantes. Para além dos mecanismos de controlo inter-institucional, é hoje inconcebível que um primeiro-ministro, por exemplo, não esteja disponível para se sujeitar ao controlo de todos nós que é feito através dos media, seja por entrevistas ou sujeitando-se, no dia-a-dia, às perguntas dos jornalistas sobre os temas da actualidade. Por algum mistério insondável (não é assim tão insondável, como já se aflorou de alguma forma aqui), o Presidente da República, que é eleito por sufrágio universal, parece sentir-se desobrigado a este dever. Já aqui se referiu o desapreço que a Presidência revela pelo direito de petição, o único instrumento de participação dos cidadãos que, de acordo com a lei, pode garantir um acesso destes ao PR, exigindo, inclusivamente, uma resposta. Quanto ao resto o que vemos é que o Presidente presta contas apenas quando entende, remetendo-se ao silêncio vezes demais para alguém que é eleito e exerce o seu mandato em nome de todos os portugueses. O mais estranho é, porém, a complacência que a maioria de nós demonstra face a este comportamento.

Às vezes compreendo perfeitamente como é que a orquestra do Titanic continuou a tocar até ser engolida pelas frias águas do Atlântico



Por incrível que pareça, há pessoas que ainda não acreditam que o homem foi à Lua


21.9.09

Especulações pós-eleitorais



Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços com há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhanca toda despertou;
E foi tanta felicidade que toda cidade enfim se iluminou;
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais...
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Chico Buarque - Valsinha

The Wire, a melhor série de todos os tempos


A revista Ler deste mês tem uma excelente crítica à série "The Wire", da autoria de Rogério Casanova. Quer dizer, acho que é excelente. Pelo menos os cerca de 25% que percebi eram-no. Onde incluo, evidentemente, o título "The Wire, a melhor série de sempre".

Vampirismo mediático (actualizado, menos no português, que mete tanto nojo quanto a manchete do expresso)

Achei obsceno o chafurdamento noticioso que se fez à volta dos PPR's e outros produtos bolsistas de responsáveis do BE. Mesmo que houvesse qualquer contradição entre o que defende o BE e os factos noticiados (que até entendo que não existe, pois uma coisa é o fim dos benefícios fiscais para estes produtos e outra o fim destes produtos), acho nojento este vasculhar da vida privada dos políticos (pois tudo o que foi noticiado é apenas e estritamente desse foro), como se esta devesse caucionar as suas propostas políticas; como se a vida privada dos políticos devesse estar de acordo com as suas ideias políticas; como se os políticos tivessem de ser puros na sua vida privada e de o atestar publicamente, abrindo as portas das suas casas aos jornalistas. Dos políticos interessa-me apenas que saibam governar, gerir a coisa pública. Esta competência é aferível como na generalidade das profissões: através das suas habilitações, experiência e de outras qualidades directamente ligadas ao exercício do cargo. A diferença principal é que são eleitos para o cargo e há um escrutínio público do seu exercício. Escrutínio que passa, naturalmente, pela necessidade de garantir mecanismos de transparência sobre, por exemplo, alguns aspectos da vida privada dos eleitos (como a obrigatoriedade de declararem património ou participações bolsistas), que servem, fundamentalmente, para garantir a prevalência do interesse público na actuação dos agentes políticos. Não serve para comprovar a coerência das suas ideias. Isso é apenas o kennethstarismo a tomar conta da política portuguesa.

20.9.09

Interesses de esquerda

A ver se percebo. Num cenário pós-eleitoral de maioria relativa do PS, uma parte da esquerda declara que não irá contribuir para qualquer solução governativa, desperdiçando, desta forma, a possibilidade de amarrar a próxima governação à esquerda. A consequência desta recusa é apenas uma: empurrar o PS para os necessários e inevitáveis acordos com a direita (com o PSD ou, dependendo dos resultados eleitorais, eventualmente com o CDS). Esquerdamente falando, isto faz algum sentido? Eu até sei que faz, mas não seguramente para quem gostaria de ver mais esquerda nas políticas governativas.

15.9.09

O toque de Midas de Ferreira Leite

Preguiço na leitura de blogues. Por isso, o mais provável é que alguém já tenha dito o óbvio. Refiro-me à líder do PSD e à sua democrática incapacidade para aguentar uma discussão no plano das ideias e do diferendo de opiniões. Desta vez foi com o TGV. Antes era uma questão essencialmente económica, abordada pelo PSD pelo ponto de vista dos benefícios que, neste momento, um investimento público desta natureza pode trazer, face ao agravamento do endividamento que, segundo sustentava, acarreta. Mas a líder do PSD parece achar insuficiente a troca de argumentos sobre a questão substantiva. Assim, tal como o fez noutras ocasiões, decidiu tentar converter a questão do TGV numa questão de carácter. O primeiro-ministro não defende o TGV por ter uma visão diferente do papel do investimento público numa conjuntura de crise económica ou porque veja vantagens na integração de Portugal na rede de Alta Velocidade mas porque está ao serviço dos interesses espanhóis, em nome dos quais está a promover a realização do TGV, em prejuízo do interesse nacional. É o mundo a preto e branco de Ferreira de Leite, versão lusa da fórmula medideira de patriotismo que W. Bush celebrizou: "ou estão connosco ou contra nós". Ou estão connosco na decisão do TGV ou estão a soldo dos espanhóis. Ou concordam integralmente e sem reservas com o teor deste post ou têm os vossos cérebros sob o controlo de algum maléfico poder alienígena. A sério.

Damn you legislature!

Nestes quadros do Pedro Magalhães, é bem visível que os seis meses adicionais da X Legislatura foram uma espécie de presente (chamo a atenção que eu sou dos que dizem prenda) envenenado para o PS. Como já tínhamos, aliás, aflorado aqui.