30.12.09

Músicas (e piadas) de outras décadas: Mr. Tom Waits

Tão simplesmente perfeita (letra e música)

"The roses are dead, and the violets are too"

Músicas de outras décadas

E o que é que cada um de nós pode fazer para que a próxima década seja melhor?

"Esta foi a década em que vimos na televisão e na Internet mais caras de pessoas que sabíamos que iam morrer e foi a década em que não fizemos nada por elas. Esta foi a década em que nos comprometemos a acabar com a fome e com a pobreza e em que percebemos que não o íamos fazer - por comodismo e por cobardia. Esta foi a década em que nos comprometemos a proteger o globo para as gerações futuras e em que percebemos que não o iríamos sequer tentar fazer - a não ser quando já for tarde de mais. Esta foi a década em que percebemos que não é por não sabermos que não agimos. É porque não queremos. Esta foi a década em que percebemos que não é só dos outros que devemos ter medo. É de nós"

José Vítor Malheiros, no Público de hoje.

Livros: o melhor de 2009



A minha leitura preferida de 2009 foi "Na Praia de Chesil", de Ian McEwan, um livro que, além de pequeno, é de uma (como é que eu hei-de de dizer isto sem parecer um grande mariquinhas. Bem, que se dane) enorme e rara sensibilidade. Como alguém diria, uma obra impressionante.

Música: o melhor de 2009

Bem, não é propriamente uma novidade. Ou melhor, não será para a maioria. Mas foi para mim. E bendita a hora. O ano em que descobri o génio de Glenn Gould. "Pure Gould". Obrigado 2009.

28.12.09

Diagnósticos e prognósticos (do jogo e do seu fim)

Um breve retrato da Justiça em Portugal e o que podemos antecipar que aconteça em 2010, aqui.

adenda: aqui é aqui.

Pais e filhos; brancos e pretos


Durante semanas, vi referências a este livro de Isabela Figueiredo: "Caderno de memórias coloniais". Principalmente aqui, o que deveria ter bastado para despertar a minha atenção. Mas não foi. Via as referências ao livro mas não as lia. O tema não me atrai por aí além, sendo-me, em termos pessoais, bastante distante. Não estive lá (na África colonial) e pouco me dei com quem lá esteve. São razões bastante estúpidas para justificar este desinteresse mas é assim. Desfrutando da tradicional tolerância da quadra com a falta de produtividade, dei por mim a ler esta entrevista à autora na Ípsilon. Bang! diria alguém extremamente idiota. Agora tenho de ler o livro, que me chamou a atenção pela forma como me pareceu colocar a questão da tensão entre estarmos ligados a alguém por um qualquer laço pessoal (como a amizade e, muito em especial, de parentesco) e o facto de essa pessoa perfilhar valores que nos agridem de forma intensa e violenta (como pode ser o caso do racismo). Isto sim é um grande tema.

Deveras...impressionante

É impressionante a quantidade de vezes que Pedro Santana Lopes recorre ao termo impressionante (ver os mais recentes impressionante 1 e 2).

Mas o meu preferido de sempre (já com alguns meses mas já um clássico):

"Fantásticos são, também, os momentos em que Marina Mota chama a atenção, de um modo sublime, para o que passam os cidadãos com limitações físicas graves, as chamadas deficiências. É impressionante." Lindo!

My christmas carols

17.12.09

"Papá, vou tirar as tuas músicas. Gosto mais assim com tambores e isso"


Os que me conhecem sabem que, salvo algumas excepções, nutro uma relação de alguma distância com o chamado rock e universo pop. Para terem uma ideia, os meus gostos musicais são mais ou menos os de um idoso de 70 anos. É isso e a minha vida social. Mas concentremo-nos nos gostos musicais. A questão é esta: tendo em conta o supra dito, que fiz eu para ter uma filha de 4 anos aos saltos na sala a dançar Toy Dolls!

No interesse de quem, afinal?

Como não ser a favor da adopção de crianças por casais homossexuais? Muita sorte teriam os meus filhos se tivessem dois pais espectaculares como eu. Ou duas mães extraordinárias (sendo que extraordinário empata, para este efeito, com espectacular) como a mãe. Além da óbvia vantagem sobre a qual ninguém fala: o fim do sobressalto ético cada vez que alguém pergunta "então, de quem gostas mais, do papá ou da mamã?". Uma criança poderá finalmente responder a esta questão sem sentimentos de culpa. Não é isto pensar no superior interesse da criança?

10.12.09

Um comentário (mais um) sobre corrupção

Pedro Lomba escreveu um artigo sobre corrupção. O mote do artigo é uma conversa que teve com Susan Rose-Ackerman, Professora na Universidade de Yale e especialista, reconhecida internacionalmente, neste tema. Desconheço se era essa a intenção do Pedro Lomba (humm, seria?) mas podemos facilmente verificar a coincidência de posições entre a especialista americana e o que o Governo e o PS têm feito neste âmbito. Nomeadamente quanto:

- Ao reconhecimento de que o problema não está na dimensão do Estado e que a privatização não torna este combate mais eficaz;

- À necessidade de “melhorar as regras do jogo e a organização do Estado”. Indico, exemplificativamente, a responsabilidade penal das pessoas colectivas ou a aprovação, para breve, dos códigos de conduta na Administração Pública, na linha do que já vinha sendo feito com outras medidas de prevenção dos riscos de corrupção;

- À necessidade de “mais transparência e informação (…), nomeadamente quanto aos conflitos de interesses entre os políticos”: Foi o que aconteceu, por exemplo, na última reforma do Parlamento, que determinou que o registo de interesses dos deputados fosse disponibilizado na Internet, o que permite um maior controlo não apenas dos cidadãos mas também da Comunicação Social; também foram criadas novas regras sobre conflitos de interesses e incompatibilidade de funções de gestores de empresas públicas e de pessoal que desenvolve acções de investigação, auditoria e controlo;

- À importância de um “maior controlo das instituições públicas por parte de entidades independentes”. Exemplos: controlo público da riqueza dos titulares de cargos políticos, criada pela possibilidade do Ministério Público proceder anualmente à análise das declarações apresentadas após o termo dos mandatos ou de cessação de funções dos respectivos titulares. Também a criação do Conselho de Prevenção da Corrupção deve ser enquadrado aqui;

- À necessidade de “melhorar os poderes de investigação dos órgãos de polícia possivelmente como alternativa à criminalização do enriquecimento ilícito”. Nesta linha, o esforço que tem sido feito no reforço dos meios afectos (técnicos e humanos) ao combate a este fenómeno, compromisso que continua uma prioridade (reafirmada no seu programa) deste governo.

É precisamente neste sentido que se tem caminhado nos últimos anos, conforme é reconhecido por entidades independentes (como, ainda hoje, aqui).

O problema é que, sendo o caminho responsável, tem uma visibilidade reduzida junto da opinião pública. O que se presta a que outros, querendo, venham explorar demagogicamente uma mistificada inacção do Governo nesta matéria e que não resistam a cavalgadas demagógicas, imputando à rejeição da figura do enriquecimento ilícito uma vontade de pactuar com a corrupção (a própria Rose-Ackerman parece privilegiar alternativas a esta criminalização). Sobre isto, também gostaria que o Pedro Lomba tivesse tido oportunidade de conversar com a professora de Yale.

A luta contra a corrupção

"Ao contrário do que muitas vezes se faz crer, o melhor combate deve partir dos próprios cidadãos, em vez das grandes proclamações ou dos discursos moralistas. As afirmações demagógicas e imediatistas apenas contribuem para o desenvolvimento da desesperança e do fatalismo, em lugar da mobilização positiva de esforços e energias para a afirmação da democracia. De facto, a promoção de um espírito negativo e derrotista em nada contribui para o progresso da sociedade e da economia e para erradicar os males colectivos. Mais importante do que a multiplicação de leis, precisamos de instrumentos eficazes, de medidas e de vontade. E importa distinguir as áreas da política legislativa, da investigação criminal e da prevenção. São três domínios distintos mas complementares.

"Falo-vos apenas do terceiro domínio - a prevenção. E devo começar por afirmar e reconhecer que os dois últimos anos têm sido muito importantes em Portugal pela adopção efectiva de medidas que, estou certo, produzirão efeitos positivos no futuro próximo. Houve e há medidas concretas, e o Governo e o Parlamento têm-se empenhado activamente no cumprimento das recomendações do Greco, grupo de países do Conselho da Europa contra a corrupção. Portugal está, assim, empenhado na sua efectivação. Há vontade e sinais efectivos, para além das palavras. "

Excerto do artigo de Guilherme D'Oliveira Martins (Presidente do Conselho de Prevenção da Corrupção), no Público de hoje.

A crise na Irlanda

Irlanda vai cortar salários a funcionários do Estado.

7.12.09

Faces da mesma moeda


O mundo descobriu que Tiger Woods não é perfeito. Chafurda-se na vida dos outros sem qualquer pudor. Sem aparente dúvida, por mínima que seja, os media atiram-se à jugular das suas vítimas com a naturalidade de quem está a relatar as novidades do último Conselho de Ministros. Chupam-lhes o sangue mas nem sequer parecem dar-se conta.

Curioso, um texto sobre corrupção que não cruxifica ninguém nem reclama qualquer lugar no pódio da luta contra a dita

Um excelente texto sobre a corrupção (olá A.R). Sem deixar de apontar o caminho, é um texto informado e sereno. Talvez demasiado, para tempos em que se exulta com a insinuação e o desdouro. E com uma citação* que me parece a pedra de toque deste combate: “on sait que la menace de sanctions informelles semble avoir plus d`effet sur certains délinquants économiques potentiels que les sanctions strictement pénales.”

*de Jean-Luc Bacher e Nicolas Queloz, Traité de sécurité intérieur, 2007, pag.233.

Errare maquina est


A propósito desta notícia, duas breves notas. A primeira é que as novas tecnologias parecem estar a infantilizar-nos, contrariando o que consiste uma parte importante da terefa dos pais: ensinar os filhos a controlarem a frustração pela não satisfação imediata das suas necessidades. A segunda é que somos muito mais tolerantes com as máquinas do que com os amigos. Maravilhoso mundo novo.

Aqui fica o ranking dos minutos que um britânico está disposto a esperar em várias situações:

- Esperar que uma página da internet carregue: 3min e 38 segundos
- Esperar que atendam o telefone: 5 min e 4 segundos
- Esperar que a água ferva: 5 min e seis segundos
- Esperar por ser servido num restaurante: 8 min e 38 segundos
- Esperar a resposta de um mail: 13 min e 16 segundos
- Esperar por um amigo: 1 min e 10 segundos
- Esperar por ser atendido numa loja: 10 min e 43 segundos.

2.12.09

Piratécnia



Enquanto não arranjo tempo para me dedicar aos temas piratécnicos, deixo aqui um excerto da crónica de Vítor Belanciano, no Público de hoje.

"Até há pouco tempo os direitos de eautor eram uma regulação industrial.Faziam sentido num mundo onde as cópias em circulação eram reduzidas. Com a Internet, e os computadores pessoais, tudo mudou. A reprodução é automática, instantânea, constante. Se piratear é a inclinação de quem gosta de música, livros, cinema, cultura, partilhar com quem gosta das mesmas coisas, então também tenho mão de gancho, perna de pau epala no olho."