21.7.09

Em nome do interesse público


Baralhando a sabedoria popular, Chico Buarque aconselhava-nos a agirmos duas vezes antes de pensar ou a darmos como provado que quem espera nunca alcança. O certo é que o lógico nem sempre o é. E há verdades que nos parecem tão evidentes que nos dispensamos vezes demais de questionar o seu sentido. É o que julgo que acontece com a ideia que aconselha a que os responsáveis políticos, depois de cessarem funções, devem manter um longo período de nojo relativamente ao mundo empresarial ou, numa visão mais radical, um luto para a eternidade. A verdade é que poucas vezes vi em política uma relação contratual tão escrutinada como a do actual Governo com a Mota-Engil, desde que Jorge Coelho passou a presidir à administração desta última. A Mota-Engil já era, antes de Jorge Coelho, a maior empresa construtora portuguesa, detentora de inúmeras (da maioria, diria eu) concessões do Estado, nomeadamente na área das concessões rodoviárias. A ida de Jorge Coelho para o CA da empresa mais parece ter tido o efeito de um gigantesco holofote sobre as relações desta com o Estado. O que, em última análise, me parece positivo do ponto de vista do interesse público. Legisle-se, pois, para que se obriguem ex-ministros e deputados a ocuparem, no final dos seus mandatos públicos, um lugar no Conselho de Administração de uma qualquer grande empresa. Em nome do interesse público.

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