12.3.10

A cor das lentes


Esta coisa das sondagens é, naturalmente, passível de tantas leituras quantos forem os interesses em jogo. O meu é, como adivinharão, o de sublinhar a vitória do Partido Socialista, apesar do ataque destemperado de que tem sido alvo (e logo à cabeça o primeiro-ministro) por parte dos partidos da oposição, que, tantas vezes, cavalgam a mais pura demagogia populista.

Assim, é de notar que, de acordo com a última sondagem da Católica, o PS venceria as eleições (se estas se realizassem hoje), com uma distância folgada do PSD e com quase mais 5% do que o resultado obtido nas últimas legislativas.

Aqui nota-se, com razão, que o PSD se encontra numa posição fragilizada, atravessando um conturbado processo de mudança de liderança, sugerindo-se, no fundo, moderação na avaliação destes resultados.

No entanto, o que a mim me pareceu mais surpreendente nesta sondagem (e aqui diz-se que o Expresso divulga amanhã uma da Eurosondagem com resultados semelhantes) foi o baixo resultado dos partidos à esquerda do PS, em particular do BE. Ora, acho este dado particularmente assinalável, pois tenho que este foi um eleitorado crucial que o PS perdeu nas últimas eleições legislativas.

Uma leitura possível destas sondagens seria que este eleitorado não está satisfeito com a forma como estes partidos os têm representado, nomeadamente através de coligações espúrias com a direita parlamentar, com o aparente único objectivo de castigar o PS e o Governo. E que, nestas condições, estariam disponíveis a voltar a votar no PS.

Mas, como dizia no início, isto sou eu e as minhas lentes cor-de-rosa.

2 comentários:

João Ricardo Vasconcelos disse...

Viva Tiago,

Também acho que os resultados à esquerda do PS são estranhos. A sondagem do Expresso não é tão drástica, mas continua longe dos 20% que as sondagens anteriores às últimas legislativas davam ao Bloco e ao PCP.

Não tenho grandes explicações para o efeito e se calhar as minhas lentes vermelhas impedem-me de ter maior clarividência a este respeito. Arriscaria, no entanto, dizer que algum eleitorado que fugiu para os partidos à esquerda do PS nas últimas legislativas sabia que o PS ganharia as eleições. Agora o que poderá estar no horizonte é a alternância, com o PSD já a preparar-se para o efeito. Tal muda um pouco o seu posicionamento.

Por outro lado, arriscaria dizer que o CDS poderá estar a vir buscar votos de protesto a algum eleitorado que votou à esquerda nas últimas eleições. Os quase 15% apontados pela sondagem do expresso ao CDS não devem ser menosprezados.

Enfim, são apenas alguns palpites para um efeito de facto muito estranho.

Abraço

Tiago Tibúrcio disse...

João,

Quanto à esquerda, o que me surpreende é precisamente que, estando ainda o PSD um frangalho, como é que ocorre esse efeito da alternância? Admito que tenhas razão e que, apesar da situação actual, haja uma certa intuição de que a direita se está a reorganizar para voltar ao poder a breve trecho. Mas acho mesmo assim estranho que esta espécie de apelo ao voto útil já se esteja a sentir.

Quanto à direita, acho que tens razão. E se calhar até estará a beneficiar de se apresentar como um partido que, não perdendo combatividade, se mostra disponível para negociar (e influenciar). Oxalá visse isto acontecesse nos partidos à esquerda do PS (caramba, a esquerda está maioritariamente representada na AR e isso não vale de nada). Grande abraço