Tenho por Miguel Sousa Tavares enorme respeito e admiração. Não apenas pelas suas convicções - que, não por acaso, se encontram frequentemente do lado justo das coisas -, como pelo invejável domínio da língua portuguesa, sobretudo quando cronica, o estilo que mais lhe aprecio.
Por isso, compreendo mal que alguém com a bagagem e preparação de Sousa Tavares se deixe, em assuntos como o Acordo Ortográfico, atraiçoar pelos seus preconceitos. Com um pouco mais de informação, ter-se-ia poupado a alguns embaraços, como a diatribe que lança ao c que o acordo suprimiria a "facto". Contrariamente ao que diz, este, de facto, mantém-se, como se encontra explicado aqui (ou, mais desenvolvidamente, aqui - pags 23, 24)*:
"Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção".
Em resumo - e se bem compreendi -, conservam-se (ou podem conservar-se) as consoantes como o c e o p sempre que sejam pronunciadas.
Ainda que assim não fosse, tem o seu quê de divertido ver Sousa Tavares aventar uma babel de confusões se "facto" e "fato" se escrevessem com a mesma grafia. Ainda teríamos de inventar uma expressão para palavras como esta, tipo polissemia.
* ou ainda aqui
7.4.10
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