26.5.10

É verdade, assim é mesmo complicado

O João Ricardo Vasconcelos queixa-se que "assim é complicado", que as hesitações actuais do PS relativamente a Alegre estão a enfraquecer (goste-se ou não) a única possibilidade de derrota de Cavaco Silva.

Ó João, até me sinto tentado a concordar contigo. Sou sensível ao apelo ao pragmatismo, conformando-me com o facto de, se a esquerda não encontrar formas de se entender, o poder cair, inevitavelmente, para a direita.

É verdade que estamos a falar de um cargo unipessoal, o que favorece claramente a lógica de formação de dois blocos ideológicos concorrentes. Contudo, este alinhamento em bloco é suposto (ou normal) que aconteça apenas na segunda volta. Na primeira volta, tem sido habitual haver vários candidatos oriundos do mesmo campo ideológico. Passando dois candidatos à segunda volta (desde que nenhum tenha mais de 50% dos votos), o sistema permite que isso aconteça sem grande risco.

Assim, o que o teu texto faz é um clássico apelo ao voto útil. O apelo ao pragmatismo (o “goste-se ou não”) e um alerta para o risco da crítica, da hesitação, que podem fragilizar a candidatura (de Alegre) e permitir a vitória do campo ideológico oposto.

Tudo argumentos relativamente aos quais eu sou sensível. E que são - parece-me - totalmente transponíveis para a competição para a governação.

O facto de o BE ver no PS o seu principal adversário também pode ter como consequência fragilizar as hipóteses de o PS ser Governo e, logo, derrotar a direita. Mais – e como já foi abundantemente dito por muitos -, ao extremar a luta política com o único partido de esquerda com possibilidades de ser governo está a inviabilizar qualquer solução governativa que passe pela esquerda. Sendo os acordos uma contingência inultrapassável para um governo sem maioria absoluta, restam os entendimentos feitos à direita.

Por outro lado, bem vistas as coisas, é mais simples do que parece.

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