1.2.11

Sem preconceitos




A crónica daquele que foi o director do Expresso durante tantos e tantos anos (bem sei que a pergunta é feita diariamente pelas mais diversas pessoas de bem mas: como foi isto possível?). Que eu desse conta, já foi, muito apropriadamente, evidenciada aqui e aqui. Destacando o parágrafo que, ainda assim, é insuficiente para sintetizar toda a parvoíce que se pode encontrar num único naco de prosa (odeio esta expressão; preguiça...). O destaque vai, muito merecidamente, para este excerto:

"O serviço militar obrigatório acabou sem qualquer debate público, como se fosse uma coisa sem importância nenhuma. Ora, para muita gente, era uma directriz. Havia jovens vindos da província que tomavam na tropa o primeiro banho! E às vezes aprendiam ofícios - como cozinhar ou conduzir - que lhes davam uma ferramenta para a vida, além de regras de disciplina que ficavam pelo tempo fora. Este jovem que estava em Nova Iorque com Carlos Castro - que terrível coincidência a proximidade entre as palavras Castro e castrado - noutra época estaria a cumprir o serviço militar e não teria dado cabo da vida."

Mas a minha parte favorita é esta pequena pérola:

"Observemos agora estes factores um por um, independentemente da opinião que tenhamos sobre eles."

Observemos...

"A família era a primeira rede caso um indivíduo caísse do trapézio. Ora, a família tradicional afundou-se. Repare-se que Renato pertence a uma família desagregada."

"Passemos à escola. Que, inegavelmente, perdeu autoridade. Perdeu autoridade como um todo e os professores perderam autoridade. A bagunça instalou-se"

"Olhando agora para as Forças Armadas, que eram uma reserva da nação , perderam toda a relevância. Por outro lado, o serviço militar obrigatório acabou sem qualquer debate público, como se fosse uma coisa sem importância nenhuma. Ora, para muita gente, era uma directriz"

"A Igreja Católica também contribuía decisivamente para a integração social das pessoas - e para uma certa igualdade. Perante Deus, todos são iguais: o pobre e o rico, o novo e o velho, o doente e o são. E a interiorização dos Dez Mandamentos fornecia um conjunto de princípios de convívio em sociedade: não matarás, não roubarás, não cobiçarás a mulher do próximo, etc."

"O Estado tinha uma imagem forte que foi perdendo (...), consequência da própria democracia, mas também de um abaixamento da qualidade dos políticos e dos governantes, que deixaram de ser pessoas respeitáveis e com qualidades reconhecidas pela sociedade para serem, muitas vezes, carreiristas."

E muito mais... Isto, claro, "independentemente da opinião que tenhamos sobre eles", como diz o ex-arquitecto (baralhei-me). É a"Política a sério", nome da coluna de opinião deste génio. Agora é imaginar como seria a brincar... (três reticências; no limbo.... bolas; ponto final).

2 comentários:

Ana Matos Pires disse...

O tipo não bate bem da bola, só pode. Eu já nem o consigo ler sem ser na diagonal, Tiago, mas, assim estivesse para isso e a pachorra me permitisse, lembraria o homem que o Renato Seabra até ajudava à missa.

Tiago Tibúrcio disse...

é verdade, mas temos de reconhecer que eram factores adversos a mais: a família desagregada, consta que ela ía à escola (essa bagunçada), a ausência de uma disciplina militar e, claro, vivia num país em que há Estado com políticos. Perante isto, não havia padre, missa ou santo que o salvasse da perdição. Temo por mim, portanto, pois nem a esta última bóia tive direito.