24.3.11

Escrutinar a democracia

Os media, os principais intermediários entre a política e os cidadãos, oscilam frequentemente entre o puro activismo político, adoptando, qual prosélito, pressupostos e pontos de vista que devia apenas relatar, e a noticiação acrítica de contradições. Na política, o escrutínio crítico deve ser uma constante relativamente à acção governativa (em primeiro lugar, pelas suas responsabilidades) mas este princípio deve ser extensível a todos os que actuam no espaço público, nomeadamente aos actores políticos. Os media não cumprem a sua função se se abstiverem de fazer este escrutínio, que deve reconhecer a complexidade da realidade, que é mutável, e respeitar eventuais mudanças de posição, que podem ser compreensíveis. Deve evitar simplificações primárias e crucificações mas tem de exigir explicações.

Straight do the point: o PSD veio hoje dizer que pondera uma subida de IVA como forma de evitar os cortes nas pensões. Ocorrem-me várias coisas para dizer sobre esta posição mas a primeira e mais evidente é: o PSD passou o último ano a acusar o PS de fazer o esforço da austeridade (também) por via da receita (i.e. impostos), quando o correcto seria pelo lado da despesa (os famosos cortes nos consumos intermédios). O PSD passou um ano a repetir diariamente isto. No orçamento, elevou esta preocupação a condição sine qua non para a viabilização do OE 2011. Até aqui tudo bem (vamos esquecer que o PSD se limitava a declarar o seu amor pelos cortes na despesa, sem nunca referir onde).


Hoje (não ontem ou anteontem, quando isto podia ter sido negociado), o PSD apressou-se a declarar que evitaria os cortes nas pensões com o aumento do IVA para 24 ou 25 por cento. Portanto, a única proposta concreta que se ouve do PSD nos últimos tempos é…. um aumento de impostos, da receita. Rematando. O poder fiscalizador dos media não pode limitar-se a divulgar acriticamente uma posição destas, que contraria tudo o que o PSD disse e fez no último ano. Este papel que cumpre à comunicação social é um dos pilares de uma democracia saudável.

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