"Para além de serem grandes comunicadores e de possuirem um instinto de sobrevivência impressionante, Sócrates e Portas têm em comum a facilidade com que alteram de perfil, como se adaptam às situações e meios que os envolvem, como mudam de discurso e de prioridades. É o conjunto destas habilidades impares que lhes confere o estatuto de animais políticos.
Mas se estas características até podem ser aplaudidas pelos apreciadores do marketing e da comunicação política, estranho é quando são encaradas como qualidades pelo eleitorado. Fará sentido depositar o voto em alguém com uma incrível capacidade de mudar de perfil, de discurso, com uma habilidade grande para se adaptar, para dar a volta e até ludibriar aqueles que o rodeiam? O voto assumido em animais políticos é, a meu ver, um dos fenómenos mais intrigantes do estudo dos comportamentos eleitorais. Se calhar chegámos a uma variante do mítico slogan político brasileiro: “aldraba, mas faz!”" (João Ricardo Vasconcelos, Activismo de Sofá)
Caro Ricardo*, se eu voto assumidamente num animal político, tu votas (presumo, claro) num enorme demagogo, que vende ilusões mas demite-se de apresentar qualquer solução viável no mundo real, ou, melhor dizendo, cujas consequências das suas propostas (se aplicadas) seriam um descalabro sem nome; que reclama uma pretensa superioridade de esquerda, que se diz coerente, mas que não hesitou em aliar-se à direita e à sua agenda, na desafectação de recursos para a escola pública em benefício do ensino privado, apenas pelo calculismo político de pretender cavalgar uma derrota do PS (quando estavam era a derrotar uma certa ideia de escola pública para o país); que, em nome da pureza ideológica, não hesita em correr o risco de entregar o país a um governo de direita (o mais à direita que este país já conheceu em democracia), o que, particularmente nesta conjuntura de crise/austeridade/fmi, pode ser trágico para o nosso modelo de estado social. Trágico e irreversível. Mas que importa isso, quando mantemos a pureza das nossas ideias, marimbando-nos, se for esse o preço a pagar, para o que venha a acontecer à realidade? Imagino que não vejas assim o teu voto nem seja isto que te mobiliza. Compreendo bem. No teu lugar, ficaria no mínimo irritado se alguém descrevesse nestes termos a minha motivação para votar. Agradecia que fizesses o mesmo relativamente a quem pensa de forma diferente de ti.
* Ricardo, reincido nesta espécie de picardia contigo. Mas é por puro gosto pelo debate, como tenho a certeza que sabes. Just in case...
17.5.11
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4 comentários:
mítico tem acento no i
país tem acento no i
Much obliged
Much obliged, again
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