12.2.14

Capuchos há muitos (e eu sou um deles)

A expulsão de Capucho do PSD e a defesa que tantos fazem da sua justificação tem o principal daquilo que me afasta de militar num partido. 

Não acho óbvio, nem razoável, nem necessário para um saudável funcionamento dos partidos que se exija que os militantes se abstenham de participar ativamente numa eleição (um direito fundamental, já agora), mesmo contra o próprio partido, quando discorde conjunturalmente das lideranças partidárias e das suas escolhas. É isto o essencial, para mim.

Poderei acrescentar que acho até aviltante e pouco democrático que se exija esse dever de abstenção.  Na mesma medida que não se defende que os militantes se abstenham de divulgar opiniões divergentes à dos partidos. Nem percebo o critério por que se admite estas e não as outras. Mais estragos faz ao PSD a opinião do Pacheco Pereira ou até de Ferreira Leite do que a candidatura de Capucho (já nem me lembrava).

Sendo as lideranças conjunturais, parece-me absurdo defender-se a expulsão ou a saída pelo próprio pé. E, volto a dizer (o que não deveria ser de somenos numa altura em que os partidos estão, mais do que nunca, em causa), um enorme incentivo a que muitos prefiram não aderir aos partidos. Lealdade a princípios parece-me bem mais importante do que a lideranças conjunturais. Mesmo reconhecendo que tem de haver regras. Só que não esta.

E o facto de estar nos estatutos (do PSD, do PS; e de outros partidos, presumo) não me convence. Não apenas porque em circunstâncias análogas as direções já tomaram (e bem, a meu ver) a liberdade de não aplicar a sanção. Como a sua existência promove, se interpretada de forma automática, a desinteligência (embrulha sr.ª presidente).

E vejo pouco interesse que se venha dizer que Capucho é isto ou aqueloutro, ou que nunca se manifestou antes contra esta regra. O Capucho somos, para este efeito (e só para este mesmo), todos nós. 

Opinião bem diferente tenho quanto a quem ocupa lugares em nome do partido ou do governo por este apoiado. Estes sim, têm um dever de lealdade em relação a quem o escolheu para prosseguir determinada política. Mas isso é outra discussão. 

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