18.11.14

Queria não tropeçar nestas pedras. Resta saber se o problema é das pedras ou da sola dos meus sapatos (provavelmente a pior analogia que alguma vez fiz. E olhem que tenho um currículo assinalável neste domínio)


Tem tudo (vá, muito) para que simpatize com ele. A Convocatóriada Convenção para uma candidatura cidadã. Ideias com que, genericamente, me identifico, um diagnóstico certeiro da situação em que nos encontramos (social, economico-financeira e, não menos crucial, politicamente) e pessoas com um currículo partidário e de intervenção pública que admiro.

Dito isto (e por causa disto), não gostei particularmente do texto da convocatória. Para ser franco, engulha-me a omissão em relação ao partido Livre - sem o apoio do qual não é sequer possível formalizar candidaturas às legislativas -, bem como às restantes formações políticas que estão na sua origem, como o Fórum Manifesto. Claro que toda a gente sabe disso. Mas é fraca justificação. Também sabemos muito do que lá está, da defesa do estado social, da promoção do conhecimento à proteção do trabalho, passando pelo aprofundamento da democracia, em Portugal e na Europa.
Reconheço que há aqui algum picuinhismo e amanhã talvez tenha outra sensibilidade. Mas hoje acho o texto demasiado cidadania e sociedade e pouco partido. Demasiada cidadania porque esta tem muitas vozes, parte das quais apoiam outras ideias e alternativas políticas. Pouco partido porque gosto dos partidos. E gosto deles porque, ao contrário da sociedade, sei quais são as suas ideias.
Não quero menosprezar a louvável abertura (inédita, sim) deste processo à sociedade, a todos os que não estão envolvidos na atividade partidária. Pelo contrário, acho esta abertura ao envolvimento dos cidadãos crucial para uma relegitimação da política e das escolhas que implica. Mas isto não deve ser feito à custa de uma desvalorização do papel dos partidos, igualmente fundamental. E o papel do partido Livre aqui não pode ser o de mero veículo para abrir as portas a uma candidatura mas o de peça fundamental para corporizar e dar coerência ao projeto que venha a sair dali.
E dizer isto é tanto mais estranho quanto as pessoas que estão envolvidas mais ativamente nisto, do Rui Tavares ao Daniel Oliveira, contam-se entre aqueles que mais têm feito pela pedagogia partidária no espaço público. Infelizmente, gostava de ter visto isso refletido na convocatória. Mas pode ser apenas miopia minha (sem ironia).

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