Tem tudo (vá, muito) para que simpatize com ele. A Convocatóriada Convenção para uma candidatura cidadã. Ideias com que, genericamente, me identifico, um diagnóstico certeiro da situação em que nos encontramos (social, economico-financeira e, não menos crucial, politicamente) e pessoas com um currículo partidário e de intervenção pública que admiro.
Dito isto (e por causa disto), não gostei particularmente do
texto da convocatória. Para ser franco, engulha-me a omissão em relação ao partido
Livre - sem o apoio do qual não é sequer possível formalizar candidaturas às
legislativas -, bem como às restantes formações políticas que estão na sua
origem, como o Fórum Manifesto. Claro que toda a gente sabe disso. Mas é fraca justificação. Também
sabemos muito do que lá está, da defesa do estado social, da promoção do
conhecimento à proteção do trabalho, passando pelo aprofundamento da
democracia, em Portugal e na Europa.
Reconheço que há aqui algum picuinhismo e amanhã talvez
tenha outra sensibilidade. Mas hoje acho o texto demasiado cidadania e sociedade
e pouco partido. Demasiada cidadania porque esta tem muitas vozes, parte das
quais apoiam outras ideias e alternativas políticas. Pouco partido porque gosto
dos partidos. E gosto deles porque, ao contrário da sociedade, sei quais são as
suas ideias.
Não quero menosprezar a louvável abertura (inédita, sim) deste
processo à sociedade, a todos os que não estão envolvidos na atividade partidária. Pelo contrário, acho esta
abertura ao envolvimento dos cidadãos crucial para uma relegitimação da
política e das escolhas que implica. Mas isto não deve ser feito à custa de uma desvalorização do papel dos partidos, igualmente fundamental. E o papel do partido Livre aqui não pode ser o
de mero veículo para abrir as portas a uma candidatura mas o de peça
fundamental para corporizar e dar coerência ao projeto que venha a sair dali.
E dizer isto é tanto mais estranho quanto as pessoas que
estão envolvidas mais ativamente nisto, do Rui Tavares ao Daniel Oliveira, contam-se
entre aqueles que mais têm feito pela pedagogia partidária no espaço público.
Infelizmente, gostava de ter visto isso refletido na convocatória. Mas pode ser apenas
miopia minha (sem ironia).
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