25.2.15

Porque interessa falar do caso da barbearia que não interessa ao menino jesus


A questão da barbearia que proíbe a entrada a mulheres desinteressa-me profundamente. Já o mesmo não posso dizer acerca dos comentários que a este respeito tenho lido (ilustrado nesta opinião do Observador).

Resumidamente (ou nem por isso):

1 - A comparação desta situação aos casos em que homens, crianças, idosos, ou famílias, são igualmente discriminadas em estabelecimentos comerciais (como ginásios ou hotéis) não procede. Pela simples razão de não haver na sociedade um problema de discrinação destas populações. No entanto, existe em relação às mulheres (que compara, para este efeito, com questões de raça, religião ou de orientação sexual).

2 - Existe em relação às mulheres. São muitos os exemplos. Uns mais graves (a violência doméstica), outros também graves (discriminação no trabalho: salarial, maternidade), outros não menos graves (desigualdade na repartição das tarefas domésticas). Este caso da barbearia não é, evidentemente, grave. No entanto, um dos equívocos que vejo nas reações a este caso (sim, também luto contra o instinto de achar ridícula a importância dada a estes senhores), é achar-se que a luta contra a discriminação deve ser feita apenas às situações mais graves (que são as mais graves, todos concordamos). Ora, estas não são mais do que o reflexo da cultura que partilhamos enquanto sociedade, que ainda é muito conivente com esta discriminação, aceitando-a, replicando-a, mais ou menos conscientemente. E isto só mudará quando se atacarem as discriminações do dia a dia. Porque todos concordamos que os homens não devem bater nas mulheres (nem o inverso). Mas já estaremos menos conscientes do quanto muitas das coisas que dizemos, fazemos e ouvimos todos os dias (sim, muito e todos os dias) atingem, de forma desigual, as mulheres. E que mudar isto é um passo decisivo para mudar aquilo. É por isso que a discussão do piropo é importante.

3 - Eu até tinha um exemplo que ocorreu comigo no outro dia. Uma rábula bastante engraçada que fazia (é o que eu acho) acerca do amuadinho do marido da Birgitte Nyborg. Até que fui confrontado com o sexismo latente do meu número. E, depois de franzir o sobrolho, desconfiando da justeza do remoque, enfiei a viola no saco. Mas não vou desenvolver para não afetar a minha imagem (é o que eu penso) de pessoa bastante espetacular neste domínio.

4 - Era só isto.

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