3.12.15

Os cobradores de promessas


Gosto de ler as crónicas de João Miguel Tavares. Por duas razões. Porque têm alguma graça. E porque conseguem a divertida proeza de enunciar um argumento que, frequentemente, é desmentido pelo próprio texto, ou de fabricar carapuças que, no fim, também a ele lhe servem. Hoje não é um desses casos. Mas anda lá perto. Ao explicar-nos que o grande mal deste governo, aquilo que deixa João Miguel Tavares “tão incomodado e tão incapaz de aceitar pacatamente o que aconteceu ao país”, é o messianismo de Costa e a fé nele depositada para mudar o estado das coisas.

É natural que JMT não se reveja no caminho proposto pela esquerda. Mas o facto de não se rever, de achar que “é coisa nenhuma”, não quer dizer que não exista. Até porque se não existisse, se fosse simplesmente mais do mesmo, não se compreenderiam as acusações de radicalismo das escolhas (lá está) deste governo ou as antevisões da desgraça para breve (no défice, no crescimento, no pib, etc.).

Mas mais relevante é a forma como descarta qualquer esperança neste governo com o labéu do messianismo. É o supremo cololário da TINA. Não temos direito a políticas alternativas à austeridade. Nem mesmo à esperança de que isso aconteça. Nem mesmo na hora zero de um novo governo. Se um governo em início de mandato, com o objetivo de inverter uma política que contou ao longo destes anos com a oposição de muitos partidos e setores da sociedade, não deve ser um catalisador de esperança, não sei muito bem quando deva ser. 

Citando o sketch infra embutido dos Gato Fedorento, o messianismo “está mal!”. Mas JMT limita-se a um messianismo de sinal contrário, que é o cinismo político. Não vale a pena. Nada vai mudar. E isto não só "está mal!", como “está errado!”.

Felizmente, a democracia é um caminho e não se esgota com as eleições. Feitas as promessas de que JMT se queixa, são elas que vão servir de bitola para avaliarmos o desempenho do governo (a promessa de algo é, pois, fundamental). Aqui estaremos para isso. No momento próprio. E que começa.... hoje. 

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