22.6.09

Irão: convicções mais ou menos fundamentadas

Infelizmente, tenho acompanhado um pouco por alto estas eleições no Irão e a crise que se lhe sucedeu. Do pouco que li (e sublinho este pouco, pois todo o juízo que se segue poderá estar deficientemente enformado por ele), fica-me, no entanto, uma impressão um tanto estranha, que consiste na ideia difundida de que com esta crise pudemos, finalmente, perceber que o Irão não se reduz à ideia de um país de fundamentalistas fiéis e ayatollahs e que a realidade, nomeadamente social e política, é um pouco mais complexa. Ora, vendo as coisas, pelo menos assim à superfície, quase todos os elementos do que se está a assistir agora já estiveram presentes nos anos 90, quando Khatami chegou ao poder e, sobretudo, na altura da sua reeleição, em 2000. Também na altura se afrontou o poder dos fundamentalistas, com manifestações, fortemente reprimidas, onde se clamava por mais liberdade e democracia. Recordo a importância que os media iranianos tiveram na altura, que beneficiaram de uma relativa liberdade, pois eram das poucas áreas ministeriais que tinham ficado na alçada de Khatami, sendo que o poder decisório sobre as questões fundamentais para o país como a justiça, as tropas, as polícias, estavam nas mãos dos fundamentalistas. Até os personagens são os mesmos: Rajsanjani, convertido em semi-reformista, o carismático e surpreendentemente lúcido Montazeri, Khamenei, etc. Por sua vez Mousavi parece representar a mudança que Khatami representava. O meu ponto é o seguinte: tal como o mundo ocidental parece ter despertado, sobretudo em 2000, para a complexidade do regime iraniano, nomeadamente para a forte presença de ideias democráticas numa parte da sociedade e na organização institucional do poder, quanto tempo demorará até nos esquecermos disto e nos voltarmos a surpreender com tudo outra vez?

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