14.7.09

De como dizer por mais e piores palavras o que outros já exprimiram com tanta clareza

É minha convicção que, contrariamente ao que tem acontecido nas últimas décadas, as próximas eleições não se vão ganhar ao centro. Pelo menos para o PS. Por um lado, temos a situação anómala que foi evidenciada nos resultados das últimas europeias e de que o Pedro Adão e Silva deu conta em devida altura aqui: a existência (efémera ou nem por isso) de três blocos (PSD+CDS; PS; e BE+PCP), sendo que o PSD não beneficiou quase nada de uma descida sem precedentes do PS e o bloco mais à esquerda a representar cerca de 20% do eleitorado, ultrapassando largamente os melhores resultados do PCP, em redor dos 18% em 1979 e 1983. Ou seja, o potencial de crescimento eleitoral do PS encontra-se, ao invés do que tem sido hábito na nossa democracia, à sua esquerda. Isto leva-nos ao "por outro lado" ou, mais propriamente, a um "acresce que": é que uma parte deste eleitorado é constituído por pessoas que - tal como explicou Miguel Vale de Almeida no seu excelente texto - "no espectro político-partidário, tal como ele se apresenta (e não o que idealizaríamos), se colocam entre o PS e o Bloco". Pessoas que não gostam "do PS-centrão, com políticas neo-liberais no trabalho e na economia, e com um séquito de pessoas predispostas ao tráfico de influências". Mas que gostam "do PS quando se apresenta do lado da igualdade, da liberdade, da modernidade". E que gostam do BE pelas mesmas razões mas que não gostam "quando descai para a demagogia, quando arrebanha as pulsões populistas, ou quando aposta no “correr por fora” desresponsabilizando-se do governo da coisa pública". É este eleitorado que deve, e pode (e não é bom quando estes dois verbos se juntam para este efeito?), dar a vitória ao PS nas próximas legislativas. Este eleitorado, que percebe que só o PS pode impedir que a direita volte, em Setembro, a governar Portugal.

Enfim, o melhor mesmo é ler o texto todo do Miguel Vale de Almeida, de que se deixa aqui um excerto:

"(...) neste momento em que o PS pode (e deve) ver-se obrigado a pensar à esquerda e a pensar em diálogos com muitos cidadãos e cidadãs das várias esquerdas, é o momento de escolher por onde passa a linha divisória entre esquerda e direita. Pessoalmente não acredito que ela passe entre o PS e o Bloco. Acredito que ela passa entre o PSD e o PS. Não quero o regresso do PSD, muito menos do PSD personificado por Manuela Ferreira Leite ou Santana Lopes. Não concordo com várias das políticas deste governo PS que agora termina. Não vi, ainda, o Bloco sair da lógica do “quanto mais dificuldades e tensões sociais melhor”, que o leva a apostar mais no “correr por fora” do que a valorizar as ideias e modos de uma das suas correntes fundadores (a que pertenci), a Política XXI. Mas vejo pela primeira vez, no PS e sobretudo em Sócrates, sinais de um projecto de modernização para o país que se diferencia quer da tentação miserabilista da maior parte da direita, quer da tentação revolucionária da maior parte da esquerda. Justamente num dos piores momentos por que aquele partido passa, e sem qualquer intenção de aderir de novo, enquanto filiado, a um partido, votarei pela primeira vez na vida no PS."

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