2.2.10

Calhandrices


Neste episódio do Mário Crespo, a questão não é se se pode revelar o teor de conversas privadas. O que se passa é que o diz-que-disse é inaceitável como argumento político. Isto parece-me muito simples. Porque, entre muitas outras razões, é indesmentível. Todos os que estão a brandir o diz-que-disse de Mário Crespo em nome da liberdade estão, a meu ver, a comprometê-la e a tolhê-la, pois nada há de menos livre do que carregar o ónus de se defender de um boato, justificar que se disse aquilo e não aqueloutro; que se disse aquilo mas com outra intenção; que se disse aquilo mas a brincar. Este combate nunca se ganha. Por isso, o respeito democrático obriga-nos a não dar crédito à boataria. É difícil, sobretudo quando adere à percepção ou ao preconceito que possamos ter relativamente aos visados. Mas a democracia de um regime também se mede pela sua capacidade de resistir aos processo de intenções. É que os que agora se estão a arvorar em arautos da liberdade parecem esquecer que um dos ataques mais emblemáticos à liberdade foi, precisamente, baseado no rumor. Já sei que não gostam que se lembre mas foi em parte o que aconteceu no caso Dreyfus. Rumor e preconceito. Ninguém está imune a eles mas é uma verdadeira calhandrice (eu gostei) usá-los no combate político.

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