11.10.10

Golpes na credibilidade

Pressionado pela comunicação social a reagir à atribuição do prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo, o PCP veio dizer que a escolha do dissidente chinês é “inseparável das pressões económicas e políticas dos EUA à República Popular da China” e que é, "na linha da atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2009 ao Presidente dos EUA, Barack Obama, mais um golpe na credibilidade de um galardão que deveria contribuir para a afirmação dos valores da paz, da solidariedade e da amizade entre os povos”.

O Pedro Adão e Silva denuncia a "barbaridade" desta declaração, que há-de passar pela espuma dos dias com a benevolente indiferença com que se costuma desvalorizar tudo o que o PCP diga sobre os seus ideais democráticos. Desde considerarem a Coreia do Norte uma democracia sui generis a verem a queda do Muro de Berlim como um retrocesso civilizacional, tudo isto é encarado como uma excentricidade histórica desta organização.

Mas ainda bem que os há. Momentos como estes, digo, em que vem ao de cima o verdadeiro partido comunista português, provavelmente o mais antigo da Europa comunitária, sem aggiornamentos, e cada vez mais duro. E compreende-se mal como é que este partido se sente confortável a jogar o jogo da democracia.

Voltemos ao Nobel e recorde-se que, nas palavras do Público, “Liu Xiaobo, um professor de Literatura de 54 anos, foi distinguido na sexta-feira com o Nobel da Paz 2010 “pela sua longa e não violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China”. O prémio, cuja notícia foi censurada na China (o governo bloqueou a secção sobre o Nobel da Paz na página oficial dos prémios atribuídos pela Academia sueca), foi ainda justificado pelo comité Nobel por Liu ser “um forte porta-voz na aplicação dos direitos humanos fundamentais também na China”, considerando-o mesmo um “símbolo” desta luta.Liu só teve conhecimento que é o Nobel da Paz depois da sua mulher, Liu Xia, o ter visitado na prisão, onde cumpre uma pena de 11 anos de prisão por “subversão” por ter redigido, juntamente com outros activistas, um manifesto em 2008 – conhecido como a Carta 08 – reclamando liberdade de expressão e eleições multipartidárias na China.”

Sem comentários: