15.11.10

Mais vale prevenir

Informo os meus familiares (do agregado lá de casa ao mais distante na linha colateral), amigos, colegas de trabalho, conhecidos, vizinhos, meros conterrâneos, chefes, ex-chefes, antigos colegas de faculdade, afins, membros do governo, deputados, titulares de órgãos de soberania, chefes de Estado estrangeiros (alguns de países amigos), jornalistas, banqueiros, empresários, figuras públicas de toda a espécie, etc., etc., etc., que, nalgum momento da minha vida, em conversas mais ou menos privadas, já disse mal de cada um de vós. Provavelmente em termos que, se fossem do vosso conhecimento, dificilmente voltariam a olhar-me na cara sem vontade de me maltratar.

Já me queixei da vaidade, ganância, cupidez, arrogância, mau gosto, negligência, indiferença, insensibilidade, sovinice, mesquinhez, irascibilidade, estupidez, insolência, altivez, lerdice, e por aí fora. Ou seja, de muito daquilo que eu, em tantos outros momentos, também poderia ser acusado. E faço-o nas costas, que é o lugar certo para se desabafar sobre estas coisas (vá, por favor não me façam explicar o que são “estas coisas”, tá bem?). Excepto para os sociopatas. Nas costas, pois só aí temos a liberdade da hipérbole, da imponderação, do simplismo. A liberdade de sermos injustos. Nas costas, pois só daí podemos regressar sem consequências, precisamente porque não é suposto haver consequências. A vida não é um palco. Cansado.

2 comentários:

A.R. disse...

Não vale a pena indignarmo-nos. O que se passou agora envolvendo Edite Estrela é mais uma cena das contínuas cenas indesejáveis da justiça portuguesa. E traduz a incapacidade do Estado, e também da Sociedade, em evitar que elas ocorram, e que, ocorrendo, sejam judicial e socialmente censuradas. Não é a falência das contas mas a falência da credibilidade ética do Estado que parece avassaladora. Perante isto, imagina o que não serão as cenas que irão resultar das denúncias anónimas sobre corrupção veiculadas, com parcimónia e sentido de oportunidade, nos jornais do costume.

Tiago Tibúrcio disse...

Só posso imaginar o pior. Aliás, custa-me a creditar que esta experiência seja criada perante a indiferença de todos. Nem suscitou qq discussão ou polémica. Tenho de ir ao google confirmar mas tenho memória de ter havido uma experiência semelhante a esta em frança (inspirada pelo escândalo da Enron, nos EUA), que acabou por ser conseiderada ilegal por um tribunal (mas não estou certo). Quanto ao primeiro ponto, fico com a sensaçaõ que são, efectivamente, cada vez menos as pessoas com energia para se indignar com estas coisas. Não são só os outros. Com esta indiferença, estamos todos ficar um bocadinho menos democráticos.