24.1.11

Mais um insuportável post em que digo como é que acho que a democracia devia ser

Quem se indignou com o que o Governo de Cavaco Silva fez, em 1992, a José Saramago, não pode deixar de pensar o mesmo sobre o que o Governo francês fez a Céline, retirando-o da lista dos autores incluídos nas Celébrations nationales devido ao seu anti-semitismo. Não pretendo sugerir que ser ateu e anti-semita é equiparável. Quer dizer, até estou, se for para dizer que são posições irrelevantes para avaliarmos a arte, ou a ciência, dos opinantes. Ia para dizer que a democracia confronta-nos muitas vezes com dilemas complexos de superar. Mas nem é o caso (embora o seja naturalmente para muitas outras situações). A democracia obriga-nos é, com muita frequência, a fazer determinadas escolhas que, mais do que outra coisa, custam a engolir, moem no estômago, brigam com as nossas próprias convicções ou, até, com valores perfilhados pelo próprio Estado. Mas isto faz parte. Em nome de determinados valores e, à cabeça, da liberdade da opinião. Mas isto sou eu hoje. Ainda no outro dia acho que pensava algo vagamente diferente, como quando James Watson foi afastado do laboratório em que trabalhava por causa de declarações racistas. A coerência é algo tramado.

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