14.4.11

Divagação com ponto de interrogação. Algures

Por vezes dou por mim a divagar sobre isto: e se a generalidade dos poderes, das actividades e dos profissionais fossem objecto de um escrutínio tão intenso como a política e os políticos? Se cada decisão fosse ampliada pela lupa da fiscalização, do contraditório público, mas também alvo da insinuação sobre os verdadeiros motivos, da descontextualização. Se tivéssemos de responder pelo que fizeram amigos e familiares. Caricaturados e objecto do gozo diário. De responder pelo passado. As nossas mentiras. Tudo explicar. Tudo justificar na praça pública. Quantos resistiriam incólumes no final do dia? A extensão deste exame à vida privada e profissional remete-nos, em parte, para o pesadelo totalitário. Mas convém ter a noção que também é isto, que nunca aceitaríamos (e bem; espero bem) para nós, para as nossas vidas privadas e profissionais, que exigimos - ou, nalguns casos, toleramos - aos políticos. Escrutinamo-los porque nos representam, gerem a coisa pública em nome do povo. Justifica-se. Mas é bom saber o preço que lhes pedimos.