14.12.10

Holbrooke


Para quem apenas acompanha a diplomacia pelos media, Richard Holbrooke é uma das figuras marcantes das últimas décadas. O Público faz um bom resumo do que dele se diz na imprensa internacional. Parecia ser uma figura complexa e cheia de qualidades que são defeitos e defeitos que são qualidades. Para muitos, a guerra na ex-jugoslávia foi uma espécie de trauma. Do fim da inocência. A Europa, que vivia sem guerras há 50 anos (um recorde, creio) não iria viver feliz para sempre e mergulhava num conflito assustador, a que a União Europeia e as suas principais potências apenas conseguiam assistir, imobilizados, sem qualquer capacidade (e vontade?) de influenciar. Uma guerra que começara no início da década de 90 e que, à medida que íamos assistindo, em directo na tv, ao tempo a passar (os snipers, os massacres, os êxodos e o ódio, muito ódio), começava a parecer tragicamente irresolúvel. Sérvios, croatas e bósnios. Católicos, ortodoxos e muçulmanos. Peças do mesmo puzzle que pareciam já impossíveis de encaixar. Depois houve a intervenção da NATO. Mas não é isso. Dayton. Com todos os defeitos que já na altura se lhe conheciam, Holbrooke, o enviado da Administração Clinton, conseguiu o que parecia impossível de alcançar: um acordo e trazer a paz àqueles territórios. Visto à distância, parece que foram “apenas” três anos de guerra civil (1992-1995). Mas lembro-me bem demais da sensação de que a Europa estava a caminhar (outra vez) para o abismo. Talvez não seja exactamente assim que a história se conta. Mas foi isto que me lembrei quando soube da morte de Holbrooke. O bulldozer.

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